Opinião
Bons gestores… Precisam-se!

Será possível ser bem sucedido e ter equilíbrio entre a vida pessoal e profissional? Esta mesma pergunta paira muitas vezes nas empresas. Uma pergunta, na minha opinião, não suficientemente formulada e debatida, mas que as práticas de gestão do dia a dia vão deixando antever as respostas.
As opiniões e respostas a esta questão dividem-se, quase como se dividem as opções clubísticas. Com fervor e com certezas absolutas por quem as profere.
Confesso que quando comecei a trabalhar esta questão nem sequer me passava pela cabeça. Tinha entrado no mercado de trabalho e era ambiciosa. Estava disposta e de certa forma programada a fazer o que fosse preciso, a trabalhar o número de horas necessárias para que o meu trabalho fosse notado, apreciado e que pudesse ir tendo maiores e melhores desafios. Na altura, jovem, descomprometida, trabalhar e ter alguma vida social eram as únicas preocupações que tinha. O dia tinha 24 horas e tinha tempo para tudo.
As dificuldades começaram quando fui mãe pela primeira vez. E foi aí que esta questão começou a ter relevância para mim. Queria ser uma boa mãe… mas não estava disposta a pôr um travão na minha carreira.
Felizmente trabalhava numa empresa excelente que tinha exemplos de managers de sucesso que conseguiam o equilíbrio que eu tanto procurava. Entravam e saíam a horas. E o trabalho que produziam era imaculado. Olhava para elas, muitas vezes como quem olha para uma bailarina, que faz poses dificílimas com graciosidade e aparente facilidade.
Com elas aprendi a importância de um planeamento excelente, a ser extremamente focada no dia a dia, a deixar no dia anterior por escrito os objetivos a alcançar no dia seguinte. A chegar a horas às reuniões, a ter agendas que se cumprem e a ser exímia a fazer follow up. Os acordos e decisões são para cumprir. Os meus e os dos outros. E tornei-me também melhor a fazer escolhas. A dizer não, tanto a nível pessoal como profissional, àquilo que acredito não me acrescentar ou ao qual pouco ou nada acrescento.
Eu tive a sorte, esta sorte. Mas sei que não é esta a realidade para muitas pessoas.
Oiço por vezes conhecidos e amigos falarem de reuniões intermináveis. Onde se reabrem tópicos já fechados, são discutidos outros de pouca relevância que apenas revelam micro management e falta de autonomia… Nessas empresas tipicamente um colaborador que saia às 18 horas é mal visto e muitas vezes catalogado como não promovível. Noutras há ainda a ideia de que é necessário estar disponível para atender o chefe (porque sim, nestes casos, chefe é mesmo o nome mais adequado) seja a que horas for.
Estes gestores acreditam ser impossível ter sucesso sem ter esta cultura e modo de funcionamento. Disponibilidade 24/7. Claro está que nestas empresas o sucesso pode até existir, mas à custa do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dos seus colaboradores. Ainda que, deva dizer, esse sucesso é sol de pouca dura. Especialmente nos dias que correm. Com as gerações mais jovens a não estar dispostas a isto e a saltar do barco à primeira oportunidade que têm.
Por outro lado, temos muitas vezes colaboradores que acreditam que quanto maior equilíbrio entre as suas vidas pessoais e profissionais e benefícios tiverem, maior será a sua produtividade e, por conseguinte, o sucesso da empresa. Esta visão é tentadora e maravilhosa, mas também não é verdadeira. Já vi empresas que cuidavam dos seus colaboradores de forma exemplar, com benefícios acima dos concorrentes, falir.
Lamento informar, nenhuma das partes está certa.
Aumentar equilíbrio dos colaboradores não traz automaticamente boa produtividade e sucesso. E, esgotar os trabalhadores em horas de trabalho intermináveis e permanentemente ligados, também não.
Mas, a boa gestão sim! E precisa-se. É a solução.
De facto, muitas vezes esgotam-se os trabalhadores em horas de trabalho intermináveis e justifica-se que são absolutamente necessárias… quando na realidade apenas o são porque o trabalho de boa gestão que cabe aos gestores fazer, não está a ser feito!
Por outro lado, se esse trabalho de boa gestão for feito, abre espaço a todos os níveis – de tempo e dinheiro, pela boa performance da empresa – para ter boas práticas que promovem o equilíbrio dos colaboradores, aumentando os níveis de satisfação, retenção e capacidade de atrair talento. Entra-se, assim, num círculo virtuoso.
E o que é a boa gestão? De uma forma simples, implica alinhamento total ao nível da visão e objetivos em toda a organização, a existência de planos e responsáveis para os alcançar com revisões e monitorização contínuas, alicerçado em bons processos e sistemas. E, claro, coragem para decidir!
Em conclusão, equilíbrio entre a vida pessoal, profissional e sucesso podem coexistir para empresas e colaboradores, sempre e quando existam práticas de boa gestão! Precisam-se, bons gestores!