Opinião
Avanços decisivos na agricultura indiana

Recebi um artigo publicado na BBC sobre como a Índia se transformou numa superpotência de batata frita. Produz, hoje, cerca de 60 milhões de toneladas de muitas variedades de semente, que, depois de preparadas, são em grande parte canalizadas para o consumo doméstico e em valor crescente, de ano para ano, para exportação para muitos países da Ásia, sendo os mais relevantes Filipinas, Tailândia e Indonésia, entre outros.
Há uma exportação crescente, mas também o consumo interno aumentou substancialmente, dada a grande melhoria do poder aquisitivo da maioria da população indiana, tanto urbana como rural.
Por curiosidade, tentei saber quem era o maior produtor. Como sempre, destaca-se a China, pela sua enorme extensão de terra, com cerca de 100 milhões de toneladas anuais. E o Brasil? E o México? E os EUA? E outros países com território extenso? Produzem bem pouco… Os EUA, 20 milhões de toneladas, a Ucrânia e a Rússia estão nos 20, em tempo de paz, o Brasil, 3,6, o México, 1,9, a Austrália, 1,4.
Mais espectacular ainda é que, há um ano, a Índia só tinha produzido 50 milhões de toneladas. As oportunidades entretanto surgidas fizeram com que, sobretudo no Estado de Gujarat, tivessem aparecido agricultores muito sabedores e alguns formados em Agronomia, que ampliaram o cultivo da batata, nas áreas onde tradicionalmente se produzia algodão e cujo rendimento era claramente insuficiente. Para mais, a batata consome pouca água, o que é um grande benefício, face ao algodão, adicionando mais 10 milhões de toneladas de produção.
Além disso, tentaram descobrir novas variedades procurando multiplicá-las rapidamente, com um tipo de clonagem em que o tecido da planta se multiplica num meio apropriado e rico, controlado em laboratório, para não transmitir doenças e dando plântulas com as caraterísticas da planta-mãe, isentas de todas as doenças que muitas vezes acompanham a plantação habitual de batatas, por via da semente.
Tudo se torna bem mais fácil quando há empresas a preparar batata frita comprando aos produtores locais certas variedades. Já há algumas multinacionais de alimentação e grandes empresas indianas do setor a laborar na região de Gujarat. Entre elas está a HyFun Foods, com sete fábricas locais e mais duas a serem inauguradas em 2026.
Os agricultores podem concentrar-se no seu trabalho, obtendo produtividade da terra, cada vez melhor e desenvolvendo variedades mais produtivas.
É confortante ver que a mentalidade de fazer como sempre se fez é posta em causa para testar outras culturas ou estirpes de que possam obter melhores rendimentos, sobretudo em colaboração com empresas que sabem como elaborar o produto e onde vendê-lo. Estas desejam apenas a matéria-prima agrícola para transformação, empacotamento e venda. Na maioria dos casos, os agricultores trabalham sob contrato, garantindo uma produção de batata acordada com o industrial para fazer face ao abastecimento do mercado local e de exportação.
Uma especialização dos conteúdos e das tarefas, agora na agricultura, parece ser a forma melhor de repartir riscos e reduzir custos, permitindo a cada elemento da cadeia de valor estar concentrado na sua tarefa e tentando fazer alguma investigação para melhorar continuamente os seus rendimentos.
O grande responsável pelo sucesso desta agricultura é o crescimento do consumo de batata frita sob diversas formas que vai puxando por toda a cadeia de valor. Para vender grandes volumes, num ambiente de forte concorrência (dos EUA, do Brasil, da China…) importam muito os custos finais, incluindo os de produção da batata. A Índia produz a custos ainda melhores que os da China, e daí o sucesso e o rápido crescimento das exportações. É importante que a batata frita continue a ser um alimento saudável, além de muito apetitoso que é, e apreciado em qualquer parte do mundo.
Toda a logística, incluindo a cadeia de frio para armazenamento e sistemas de transporte refrigerados, é uma necessidade. Os cortes de energia muito frequentes ainda necessitam de ser ultrapassados, a fim de não prejudicarem os produtos congelados de serem exportados sem quebras de refrigeração.
Esperemos que, pouco a pouco, e com o aumento da atividade de produtos de batatas fritas, todos os aspetos adiados venham a surgir. A especialização do trabalho dos agentes na cadeia de valor e a descoberta de que muitas culturas não dão rendimento suficiente, levam a tomar medidas corajosas de mudança. São ocasiões para se inovar e melhorar substancialmente os rendimentos.
A Índia tem vindo a aumentar a produção de cereais, de peixe, de leite, de quase todo o tipo de fruta, no sentido de fortalecer a segurança alimentar dos cidadãos, proporcionando maior escolha pela quantidade e disponibilidade dos alimentos, em todo o território indiano. No ano passado exportou cerca de 23 milhões de toneladas de cereais, depois de constituir uma boa reserva para emergências.