Entrevista/ “Assisto com esperança à implementação da contabilidade 4.0”
Especializada na prestação de serviços financeiros e de gestão, a Numeric Consulting Group quer aumentar as suas operações no mercado nacional, consolidar no Brasil e continuar a reforçar a sua aposta na contabilidade 4.0. Carlos Rodrigues, cofundador e CEO da empresa, defende que a automatização deve ser utilizada a favor do trabalho de consultoria.
“Acredito que a contabilidade 4.0 vem trazer mais segurança e produtividade para a contabilidade. E a cloud será o arquivo por excelência, com a economia de tempo e otimização de processos”. Esta é a abordagem que Carlos Rodrigues, cofundador e CEO da Numeric Consulting Group, faz à transformação digital que o também o seu setor de atividade está a viver. Lembra que a imagem de escritórios de contabilidade cheios de pilhas de papéis amarrotados e pastas é passado e que a desmaterialização de processos e materiais e a cloud são o futuro.
Neste cenário, a empresa, que já está presente em Lisboa, Cascais e Caldas da Rainha, traçou um percurso de crescimento no mercado nacional – quer através da abertura de escritórios, quer da aquisição de outra estruturas ou parcerias – que envolve o reforço da equipa de consultores.
Que balanço faz dos dois últimos anos e quais foram os desafios?
Foram dois anos de um desafio extremo, mas que se revelaram profundamente entusiasmantes e com resultados muito positivos. Ou não tivéssemos terminado o ano de 2021 com a integração da Acountia Marquês de Pombal na nossa estrutura. Algo que mostra bem a evolução da Numeric Consulting Group, uma empresa capaz de evoluir, de chegar a um número crescente de clientes, com cada vez mais valências. E sob circunstâncias complexas, pois este é um trabalho que tantas vezes exige a presença física junto do cliente, pois a desmaterialização dos documentos já se faz sentir, mas não de uma forma que facilite o trabalho dos consultores e contabilistas à distância.
Que tipo de serviços são mais procurados na Numeric Consulting Group?
Desde logo, o serviço puro e duro de contabilidade, o trabalho diário junto de clientes, a preparação de documentação e o respetivo envio para as autoridades fiscais. Mas também o trabalho de consultoria é um aspeto com crescente procura. Mas não nos cingimos a estas áreas. Verificamos igualmente que os clientes solicitam a nossa presença e aconselhamento em vertentes como a gestão de recursos humanos, tesouraria, gestão de ativos fixos, sistemas de informação, formação, avaliação de empresas e due diligence.
“As organizações estão mais sensibilizadas para o papel estratégico que os contabilistas devem ter no respetivo plano de negócios”.
O que é que as empresas precisam e procuram em termos fiscais?
É fundamental que as empresas tenham ao seu lado parceiros com uma estrutura competente e experiente, que assuma em permanência um acompanhamento administrativo da sua atividade, bem como a preparação dos documentos para tratamento e processamento contabilísticos. Tudo isto em conformidade com os princípios contabilísticos geralmente aceites. É também fundamental que tenham a perceção quanto à necessidade de reparar, adaptar e manter o código de contas, preparar as contas consolidadas de acordo com as normas nacionais e internacionais e efetuar um reporte financeiro da informação contabilística mensal.
Quanto aos fatores que levam as empresas a procurar-nos, os aspetos de cariz mais contabilístico e fiscal encontram-se na linha da frente. Algo natural, para mais num regime fiscal como o português, altamente burocrático e que exige constante atenção aos mais variados processos. E sentimos que a consultoria começa a ser mais procurada, as organizações estão mais sensibilizadas para o papel estratégico que os contabilistas devem ter no respetivo plano de negócios.
Quais os passos necessários para que uma start-up se implemente no mercado nacional?
Importa, antes de mais, salientar que temos uma equipa dedicada e um Team Get Started para assessoria junto dos clientes, que nos permite acompanhá-los em todos os passos e necessidades inerentes ao início de vida dos projetos, isto através de um pacote completo de serviços para start-ups.
De uma forma o mais sucinta possível, e apenas para que se tenha noção que todo este processo é um vasto encadeamento de premissas, para que uma start-up se implemente no mercado nacional deve identificar, no imediato, a sua sede temporária. A isto, acresce a necessária elaboração de plano de negócios e o desenho e enquadramento fiscal da operação.
Aspetos relevantes, são, entre outros, a gestão de tesouraria e cash-flow, todo o apoio administrativo, contabilidade e pay-roll, bem como reporte mensal e avaliação do desempenho comparando com o orçamento ou o business plan.
Com tudo isto em velocidade cruzeiro, e em estreita colaboração com a respetiva equipa de contabilidade, podemos considerar que uma start-up está em condições de começar a desenvolver a sua atividade, com foco exclusivo na implementação da sua estratégia de crescimento.
Contam com quantos consultores atualmente?
Temos uma equipa de 57 consultores.
“(…) pretendemos aumentar a nossa presença em Portugal, seja pela abertura de escritórios, seja através da aquisição de outra estruturas (…)”.
Como estão os planos de expansão a Norte de Portugal?
O Norte de Portugal, enquanto região cheia de vida do ponto de vista empresarial e inovador, é sempre um objetivo. Iremos, por certo, expandir as nossas operações pelo país. Mas quanto a datas concretas para o efeito, isso é algo que ainda não conseguimos indicar.
Em relação a outros mercados que não o nacional, estamos no Brasil, um país gigantesco, com um potencial incomensurável. Queremos, primeiro, estabilizar nesse país, antes de pensarmos em continuar uma estratégia de internacionalização mais ampla. Mas, em suma, pretendemos aumentar a nossa presença em Portugal, seja pela abertura de escritórios, seja através da aquisição de outra estruturas, que nos pareçam estratégicas para o negócio, seja por via de parcerias. No entanto, sem quaisquer pressas ou timings para o efeito.
Quais os objetivos que traçaram para este ano?
Do ponto de vista organizacional, manter ou mesmo aumentar organicamente o número de colaboradores. Mas também crescer organicamente em volume de negócio e aumentar a dinâmica junto de clientes e potenciais clientes. De uma forma muito concreta, o objetivo é assumirmo-nos como uma das principais empresas de contabilidade do país, cuja reputação e know how técnico é por demais reconhecido pelo mercado.
“(…) Assisto com esperança à implementação de um conceito que é nos é muito caro, a contabilidade 4.0”.
Quais os desafios que se colocam à profissão de contabilista?
Em primeiro lugar, assisto com esperança à implementação de um conceito que é nos é muito caro, a contabilidade 4.0. É a oportunidade de utilizar a automatização em favor do trabalho de consultoria.
Será deveras aliciante assistir à implementação destes novos modelos tecnológicos e a esta forma de trabalho, onde o documento físico é um fator secundário e não essencial. Claro que não será fácil para todos os profissionais, principalmente os de idade mais avançada, com métodos de trabalho já enraizados. Perante isso, verifica-se uma natural exigência no sentido de desenvolver um esforço conjunto, que não deixe ninguém para trás. Com isto, pretende-se criar mecanismos que incrementem uma maior rapidez e flexibilidade no dia a dia laboral. Sem esquecer os impactos ambientais positivos, resultantes da redução do desperdício de papel, com ganhos reputacionais para a profissão, por via de uma pegada ecológica mais sustentável.
“A cloud será o arquivo por excelência, com a economia de tempo e otimização de processos”.
Como está o setor da contabilidade a acompanhar a digitalização? Está preparado para a transição digital?
Quando se pensa em escritórios de contabilidade, a primeira imagem que vem à mente é uma sala com mesas e armários cheios, com pilhas de papéis amarrotados e pastas. Esqueçam, isso é passado. Já se verifica, e vai ser ainda mais evidente, que a cloud é o futuro, a desmaterialização de processos e materiais a respetiva visão. Dessa forma, os profissionais vão, inevitavelmente, ter mais tempo para lidar com problemas reais e pensar em estratégias eficientes.
Acredito que a contabilidade 4.0 vem trazer mais segurança e produtividade para a contabilidade. E a cloud será o arquivo por excelência, com a economia de tempo e otimização de processos. Se a tudo somarmos a Inteligência Artificial, verificamos que os contabilistas vão passar a estar muito mais preparados e focados para realizar os cálculos de tributação, gestão dos documentos fiscais, realização de auditorias, por exemplo. Ou seja, aquilo que é realmente o seu trabalho e no qual devem centrar os seus esforços diários.
Que tipo de start-ups vos tem procurado e que tipo de serviços solicitam?
Temos sido procurados por muitas sucursais de empresas internacionais que procuram estabilidade, profissionalismo – beneficiando do clima e de mão de obra qualificada -, assim como empreendedores individuais estrangeiros que trazem a família para viver em Portugal e áreas de tecnologia.
Que tipo de preocupações deve ter um empreendedor no início de lançamento de um negócio?
Deve ser bem aconselhado do ponto de vista legal e fiscal. Nem tudo são facilidades (como às vezes parece) e é necessária consultoria na área da otimização fiscal. Alguns prazos de resposta das nossas instituições ainda demoram mais do que deveriam e é necessário explicar isso ao cliente, porque é preciso adequar a gestão do negócio a estes prazos.
Qual a previsão de faturação da Numeric Consulting Group para este ano?
Como ainda nos encontrarmos no início do segundo trimestre do ano, com toda a instabilidade conjuntural que verificamos à escala global, preferimos não lançar para já quaisquer previsões. No entanto, e pela excelente equipa que temos, reunimos todas as condições que nos permitem atingir os objetivos e os resultados a que nos propomos. Ou seja, o crescimento orgânico da Numeric Consulting Group.
Quais os planos para o futuro da empresa?
Queremos assegurar total estabilidade na trajetória de crescimento do negócio. E, com isso, aumentar a dimensão da nossa estrutura e ganhar mercado um pouco por todo o país. Fora de Portugal, pretendemos manter a posição da Numeric Consulting Group no Brasil, enquanto parceiro de relevância junto das organizações e pessoas singulares. Não apenas para quem pretenda atravessar o Atlântico e abrir atividade em Portugal, mas também, e porque a nossa equipa local é constituída por técnicos brasileiros com grande experiência e conhecimento do seu mercado, por quem queira expandir os seus negócios para o Brasil ou incrementá-los internamente.
Numa perspetiva mais alargada, queremos ser, mais ainda, um parceiro altamente confiável e de primeira grandeza, reconhecido pelo amplo conhecimento dos temas de cariz contabilístico e fiscal, capaz de assumir um papel inovador. Estamos na vanguarda do desenvolvimento do conceito de contabilidade 4.0 e sabemos que isso trará consequências a médio prazo para a nossa organização e para a profissão.
Respostas rápidas:
O maior risco: Reputacional.
O maior erro: nenhum erro em específico, mas como gestores que têm de decidir rápido, já tomámos medidas que hoje não teríamos tomado.
A maior lição: o crescimento deve ser sempre sustentado com a qualificação dos recursos humanos.
A maior conquista: Projeto com dimensão adequado à nossa forma de gestão com recursos humanos.