Entrevista/ “As fintech precisam de continuar a inovar, a oferecer soluções eficazes e experiências seamless”

Gonçalo Santos Lopes, Country Manager da Visa em Portugal

“Durante a primeira edição do Visa Innovation Program Europe, foram apresentadas as fintech selecionadas a quase 90 parceiros e já estão a ser exploradas 25 parcerias. Estes números refletem o espírito do programa, que liga o ecossistema das fintech aos clientes e parceiros da Visa”, revelou Gonçalo Santos Lopes, Country Manager da Visa em Portugal, em entrevista ao Link to Leaders.

A primeira edição do Visa Innovation Program Europe (VIPE) em Portugal, realizada em conjunto com o mercado espanhol, terminou com oito fintech selecionadas, três das quais portuguesas.

São elas a Coverflex, Fraudio, Holywally, Goscore (Portugal), TOQIO, Dedomena AI, Reveni e Dogood People (Espanha), que apresentaram as suas soluções, que vão ao encontro de alguns dos maiores desafios que o setor financeiro enfrenta atualmente, como a deteção de fraudes, o acesso inclusivo ao financiamento, as carteiras digitais, novos modelos de benefícios para colaboradores, a IA aplicada aos dados e a gestão de devoluções de compras online.

Concebido como uma rampa de lançamento para empresas emergentes e inovadoras na área das fintech, o VIPE tem como objetivo proporcionar ferramentas de desenvolvimento e acesso à extensa rede global de parceiros comerciais da Visa e facilitar a partilha de conhecimentos e a comercialização de soluções de ponta nas áreas das experiências de pagamento da próxima geração, revelou Gonçalo Santos Lopes, Country Manager da Visa em Portugal, adiantando que “o programa esteve, e estará na edição de 2024, aberto a start-ups fintech portuguesas e espanholas que que queiram crescer, dar um salto no seu desenvolvimento enquanto empresas”.

Em que consiste o Visa Innovation Program Europe?
O Visa Innovation Program Europe'(VIPE) é um programa lançado pela Visa com o objetivo de acelerar o desenvolvimento e adoção de soluções inovadoras de pagamentos e serviços, e de ajudar as fintech a expandir os seus negócios. Procuramos fintech do setor dos pagamentos ou não, que se alinham com os desafios do VIPE, nomeadamente construção de um futuro sustentável e inteligente, empoderamento das PME, experiências de pagamentos de última geração e criação de novos fluxos de pagamento.

Em 2023, Portugal juntou-se à comunidade do VIPE, que inclui já 96 fintech apoiadas, selecionadas entre mais de 1000 candidaturas. O VIPE visa acelerar o setor português de fintech, facilitar a colaboração entre essas start-ups e o ecossistema global da Visa e acelerar a entrada de soluções inovadoras no mercado. O programa esteve, e estará na edição de 2024, aberto a start-ups fintech portuguesas e espanholas que que queiram crescer, dar um salto no seu desenvolvimento enquanto empresas.

“As fintech selecionadas têm também a oportunidade de trabalhar para a criação de soluções focadas nas experiências de pagamento de última geração e apoiar outras empresas nos seus processos de digitalização”.

O que ganham as fintech com este programa?
As fintech que participam no VIPE têm uma série de benefícios e oportunidades. Durante os seis meses do programa, as start-ups selecionadas em 2023 tiveram acesso a conteúdos de formação, sessões de mentoria, contactos privilegiados com investidores e encontros com diversas instituições financeiras e empresas de outros setores. Tiveram a oportunidade de acelerar o desenvolvimento e a adoção das suas soluções inovadoras, de pagamentos e serviços, de forma a expandir os seus negócios. As fintech selecionadas têm também a oportunidade de trabalhar para a criação de soluções focadas nas experiências de pagamento de última geração e apoiar outras empresas nos seus processos de digitalização.

O programa facilita ainda a colaboração entre estas start-ups e o ecossistema global da Visa, acelerando a entrada das suas soluções inovadoras no mercado. Estas fintech alcançam, também, maior visibilidade e acesso ao ecossistema VIPE nos outros países, que é projetado para apoiar e acelerar a inovação.

As fintech que concorreram superaram as expetativas?
As fintech que participaram no VIPE levam consigo novas ferramentas, contactos e parcerias. O programa cumpriu a sua missão, que era a de conectar as fintech ao ecossistema global, capacitá-las com mais ferramentas e facilitar-lhes o contato com grupos específicos dentro de bancos e instituições financeiras; apoiar a implementação do produto e inspirar ainda mais confiança, tanto por parte do mercado como dos clientes. Durante a primeira edição, foram apresentadas as fintech selecionadas a quase 90 parceiros e já estão a ser exploradas 25 parcerias. Estes números refletem o espírito do programa, que liga o ecossistema das fintech aos clientes e parceiros da Visa, atuando como uma rede aberta e proporcionando a visibilidade necessária para escalarem os seus negócios.

As oito fintechs participantes deste ano – Coverflex, Fraudio, Holywally, Goscore (Portugal), TOQIO, Dedomena AI, Reveni e Dogood People (Espanha) – apresentam soluções inovadoras, que vão ao encontro de alguns dos maiores desafios que o setor financeiro enfrenta atualmente e a Visa orgulha-se de fazer parte desse caminho. A primeira edição do VIPE em Portugal e Espanha motiva-nos a continuar a fazer este caminho.

De que forma este projeto pode ajudar as fintech portuguesas a expandirem o seu negócio além-fronteiras?
Ao oferecer acesso a conteúdos de formação, sessões de mentoria e contactos privilegiados com investidores, o programa fortalece as capacidades das fintech e prepara-as para a expansão internacional. A colaboração com o ecossistema global da Visa, que abrange mais de 200 países, é outra vantagem significativa do programa. Esta oportunidade permite às fintech beneficiar da vasta experiência e recursos da Visa, facilitando a sua entrada em novos mercados. Pretendemos que estas soluções, sejam escaláveis e aplicáveis em diferentes contextos de mercado, com ferramentas de expansão internacional destas fintech.

Esta relação que criamos com as empresas selecionadas de certa forma contribui para a credibilidade das mesmas junto de potenciais parceiros e clientes internacionais. O VIPE pretende ter um papel naquilo que é um dos objetivos da Visa: a facilitação de transações além-fronteiras, que desta forma amplia as oportunidades de crescimento global das empresas.

“Queremos acreditar que com o apoio da Visa, estas empresas têm maiores oportunidade de melhorar as suas propostas de produtos, fornecer soluções visionárias e tornarem-se líderes na indústria dos pagamentos digitais”.

Quais as perspetivas de futuro que as fintechs selecionadas terão depois de participarem no VIPE?
A experiência adquirida durante o programa, assim como a visibilidade alcançada podem ser uma via de crescimento e sucesso destas fintech. Queremos acreditar que com o apoio da Visa, estas empresas têm maiores oportunidade de melhorar as suas propostas de produtos, fornecer soluções visionárias e tornarem-se líderes na indústria dos pagamentos digitais. A Visa opera uma rede aberta que estimula a inovação, permitindo a participação de todos os intervenientes responsáveis, incluindo fintech. Esta rede aberta gera novas contribuições e ideias, assim como competição que reverte como benefício de todo o ecossistema, desperta um mercado mais dinâmico e desafiante.

Quais os impactos que considera que um programa como este pode trazer para as fintech, em particular, e para a economia de Portugal, em geral?
Para as fintech, o programa oferece uma oportunidade única de acelerar o seu desenvolvimento e crescimento. No que diz respeito à economia portuguesa, o VIPE pretende contribuir para o fortalecimento do setor fintech. Ao apoiar o desenvolvimento de soluções inovadoras de pagamentos e serviços, este programa da Visa pode ajudar a impulsionar a digitalização da economia, melhorar a eficiência dos sistemas de pagamento e promover a criação de empregos no setor tecnológico.

Por outro lado, ao facilitar a entrada de soluções inovadoras no mercado, o VIPE pode contribuir para a competitividade de Portugal no cenário global de fintech, atrair mais investimentos para o país e estimular a inovação em vários setores da economia. Em última instância esperamos contribuir para a construção de um futuro sustentável e inteligente, ter um impacto positivo na sociedade portuguesa, e promover a inclusão financeira.

Como caracteriza o setor das fintech em Portugal? Que desafios este tipo de empresas ainda enfrenta?
O setor fintech em Portugal tem vindo a crescer de forma significativa nos últimos anos, com um número progressivo de start-ups a surgir e a oferecer soluções inovadoras no setor financeiro. Crescimento que é revelado no recente `Portugal Fintech Report´, na qual foi destacado que estas start-ups captaram mais de 65 milhões de euros só em 2023, e até ao momento mais de 1 mil milhão de euros em investimentos. Este processo tem sido impulsionado por uma combinação de fatores, seja o aumento da digitalização, a mudança nos hábitos de consumo ou mesmo a disponibilidade de investimento das empresas em tecnologia.

As fintech portuguesas têm demonstrado ser fortes em áreas como pagamentos digitais, serviços bancários online ou blockchain. Temos muitos exemplos de empresas que têm conseguido expandir-se além-fronteiras, o que é um testemunho do seu potencial e da qualidade das suas soluções. No entanto, apesar deste crescimento e sucesso, as fintech em Portugal ainda enfrentam vários desafios. Embora tenha havido um aumento no investimento em fintech em Portugal, muitas start-ups ainda sentem inúmeras dificuldades em levantar o capital necessário para desenvolverem as suas soluções e expandir seus negócios.

As fintech trazem, por norma, nova tecnologia, o que exige algum esforço para demonstrar a mais-valia imediata que traz o investimento nas suas soluções. Para se destacarem neste ambiente competitivo, as fintech precisam de continuar a inovar, a oferecer soluções eficazes e experiências seamless.

“(…) a Visa investe de forma contínua, desde 1993, em ferramentas de inteligência artificial, com o objetivo de combater proativamente a fraude e a proteção de dados e melhorar a experiência de pagamento dos consumidores (…)”.

As necessidades, prioridades e hábitos dos consumidores continuam a mudar de dia para dia. De que forma isto representa um grande desafio para a Visa?
A Visa está constantemente atenta às tendências emergentes e às mudanças no comportamento do consumidor para garantir que os seus produtos e serviços continuam a estar à altura das necessidades e expectativas de clientes, comerciantes e consumidores. Isto exige investimentos significativos em investigação e desenvolvimento, bem como a capacidade de inovar rapidamente em várias áreas, como o desenvolvimento de novas tecnologias e funcionalidades, pagamentos móveis, pagamentos sem contato e soluções de pagamento digital integradas e customizadas.

Os nossos produtos e serviços tendem a ser adaptados às necessidades individuais de cada cliente, o que implica a garantia soluções de pagamento não apenas ofereçam conveniência, mas também a segurança e proteção. Neste sentido, a Visa investe de forma contínua, desde 1993, em ferramentas de inteligência artificial, com o objetivo de combater proativamente a fraude e a proteção de dados e melhorar a experiência de pagamento dos consumidores. Temos centenas de modelos em produção e mais de 100 produtos. Dos quais podemos destacar o Cybersource Decision Manager (especializado em cibersegurança), têm por base a IA e, protegem contra tentativas de fraude; a solução de monitorização de fraudes em pagamentos em tempo real, Visa Advanced Authorization (VAA), que ajudou, no ano de 2022, a evitar fraudes num valor estimado de 27 mil milhões de dólares.

Outro exemplo, é a Ferramenta de Autenticação Baseada em Risco (RBA) para E-commerce, que apoia as transações de comércio eletrónico, com uma camada adicional de segurança e conveniência. A RBA adiciona uma autenticação extra apenas em casos de compras com alto risco de fraude, e garante uma melhor experiência de pagamento.

Que papel têm as fintech na estratégia da Visa?
As fintech são vistas como parceiros essenciais para a inovação e a transformação do setor de pagamentos, trazem novas ideias e abordagens disruptivas que podem ajudar todo o setor (tanto a Visa como os seus clientes e parceiros) a melhorar e a expandir produtos e serviços. Estão na vanguarda do desenvolvimento de soluções inovadoras permitem acelerar o ritmo da inovação e aumentar de forma saudável a competição. A Visa reconhece que as fintech podem desempenhar um papel importante na promoção da inclusão financeira, o que, como consequência expande o acesso de todos a serviços seguros, acessíveis e convenientes.

O que perspetiva para Portugal em termos macroeconómicos?
A economia portuguesa enfrenta vários desafios que podem influenciar o seu desenvolvimento. Um desses fatores é o crescimento contínuo do setor tecnológico.  E a inovação neste setor pode levar a um aumento da produtividade, à criação de empregos e a uma maior competitividade internacional, o que pode ter um impacto significativo na economia portuguesa.

O setor do turismo, desempenha também, um papel fundamental para o cenário económico nacional, tal como revelou o recente relatório do `trabelBI by Turismo de Portugal´, onde foram reveladas que as receitas turísticas de novembro de 2023 atingiram 1,4 mil milhões de euros. E, se comparado com novembro de 2019, conseguimos verificar um aumento expressivo de 38,7%, conforme dados do Banco de Portugal em 18 de janeiro de 2024. Tendo em conta este cenário, bastante favorável, conseguimos perceber que os pagamentos e a forma como os turistas gastam e investem no país é essencial para o fortalecimento de Portugal, como um dos principais destinos a visitar, a nível europeu e mundial.

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