Opinião

Aprendizagens que valem um milhão

Daniel Vila Boa, CEO da Chilltime

Saiba o que levou o Daniel Vila Boa a vender, há 10 anos, a fatia maioritária da sua primeira empresa a um dos maiores grupos de media de Portugal e como essa experiência o ajudou a ser o que é hoje, e a estar à frente de uma das start-ups selecionadas para o Web Summit.

Passamos a vida a tomar decisões, umas mais acertadas do que outras, mas, como diz o ditado popular, às vezes há males que vêm por bem e que, depois de superados, nos ajudam a chegar longe. A história do Daniel Vila Boa, hoje CEO da Chilltime, é exemplo disso.

Foi há 10 anos, mas o Daniel Vila Boa relembra-a como se fosse hoje, não tivesse sido esta a experiência que o ajudou a crescer, pessoal e profissionalmente. Na altura com 25 anos, o jovem empreendedor vendeu a fatia maioritária da sua primeira empresa NetJovens.PT – a maior rede social portuguesa – por 1 milhão de euros.

Mas voltemos atrás.Com 14 anos, o Daniel mudou-se da África do Sul para Portugal e decidiu, passados alguns anos, criar uma comunidade online para os jovens portugueses com menos de 30 anos, que promovia a amizade virtual e real entre jovens e o acesso a informações relevantes. Este site tinha como componentes essenciais: comunidade, tempo, notícias do dia, agenda e redes sociais integradas para marcas.

O sucesso foi imediato. O projeto cresceu muito e, em 2007, contava com 250 mil utilizadores, um potencial que acabou por interessar a um grupo empresarial português, a Impresa, em setembro de 2007.

Apesar de ter conseguido criar uma empresa rentável, a entrada iminente em cena de uma das grandes redes sociais internacionais, o Facebook, e a sua incapacidade de competir ao nível internacional, tornou claro que o potencial de crescimento do seu “bebé”, como o descreve, podia estar comprometido.

“Estávamos no mercado nacional, onde começámos a crescer muito, como empresa. Existia na altura o Hi5. Na altura, diziam-nos que tínhamos de arranjar uma maneira de ser como o Hi5, mas eu acreditava que o futuro seriam as redes sociais, que eram uma extensão dos nossos amigos da vida real e não apenas encontros virtuais; que tínhamos de superar o Hi5 e ser o Facebook, ao que nos respondiam que ninguém sabia o que era isso do Facebook”, revelou aquele que é hoje o CEO da Chilltime.

“Quando comecei, a visão que tinha na época era a de criar uma rede social internacional, composta por várias redes sociais nacionais, o que foi, provavelmente, o meu maior erro. Não tive em conta o quão global o mundo se iria tornar”, explicou.

Segundo o Daniel, em 2007 e 2008, o seu produto estava ao nível do Facebook. Lançaram o chat do NetJovens.PT e, pouco tempo depois, estava o Facebook a fazer o mesmo. Havia uma diferença: o Facebook estava a fazê-lo com uma equipa de 150 pessoas e o Daniel estava a trabalhar sozinho.

Daniel acreditava neste sonho e acabou por vender ao grupo Impresa 51% do projeto a que se dedicou de corpo e alma, durante três anos da sua vida. “Foi uma decisão difícil. Foi um projeto que abarcou uma enorme parte da minha vida e no qual investi horas sem fim. Mas, se eu queria que tivesse um crescimento exponencial, tinha de tomar aquela decisão e trabalhar com uma empresa com potencial de crescer em Portugal e na Europa, que era o caso da Edimpresa, uma joint-venture da portuguesa Impresa com a suíça Edipressa”, contou.

O dia-a-dia do após fusões e aquisições

A proposta da Edimpresa foi aceite e o Daniel vendeu 51% da empresa por 1 milhão de euros. “Conseguimos trabalhar muito bem com vários departamentos dentro do grupo e fazer coisas quase de um dia para o outro”, confessou Daniel.

Daniel continuou a trabalhar arduamente no projeto. Começava a trabalhar cedo, pelas 7 da manhã, e saía às 11 da noite, mas fazia-o com a mesma paixão, e as oportunidades foram surgindo e o projeto foi crescendo. “As oportunidades foram surgindo, o projeto foi crescendo, bem como o meu processo de crescimento, que foi enorme. Aprendi e cresci muito como pessoa e como profissional”, explicou.

Posteriormente, deu-se a aquisição do grupo Edimpresa pela Impresa, o que implicou grandes alterações, quer na dinâmica do digital do grupo Impresa, área que Daniel integrava na altura, quer também para o NetJovens.PT.

Foi precisamente nessa fase que a rede social internacional foi lançada e a equipa de gestão com a qual trabalhava diariamente saiu no processo de fusão. “O nosso foco devia ter sido internacional desde do primeiro dia e também devíamos ter aumentado a equipa significativamente. Mas chega a um ponto em que tens de contratar e, para te manteres rentável, não o podes fazer. Uma coisa que aprendi foi que, às vezes, é importante não seres rentável. Temos de ter a coragem de pensar que o retorno virá mais tarde e que temos de investir primeiro, mesmo que não se seja cash-flow positive, para depois receber o retorno a médio prazo”, revelou, consciente do valor que essa lição lhe trouxe.

O projeto acabou por não ter o mesmo potencial de continuidade e o Daniel viu-se obrigado a repensar a sua permanência na Impresa. Este jovem acreditava então que não havia qualquer hipótese de competir com o Facebook e acabou por comprar a quota maioritária que tinha vendido.

“Este projeto era o sonho de tudo o que eu tinha imaginado e que tinha visto outros conseguirem fazê-lo posteriormente. O Facebook fê-lo. Eu tinha os ingredientes necessários para também o fazer. Não tínhamos os recursos, porque, naquela altura, éramos apenas duas pessoas a trabalhar no projeto. Era olhar para algo com tanto potencial, mas que acabou por não se concretizar”, acrescentou.

Aliando o conhecimento das redes sociais com a paixão por jogos de estratégia em tempo real, recomeçou com um estúdio unipessoal. De uma sala tépida e gelada na Beloura, foi um passo para o Taguspark, onde está hoje com a sua equipa da Chilltime, uma empresa de jogos de estratégia ‘online’ que espera, dentro de dias, criar contactos e encontrar investidores para projetar o seu negócio internacionalmente, com a sua presença no Web Summit.

A Chilltime começou como o projeto de uma só pessoa, cresceu e transformou-se numa equipa de oito colaboradores, apaixonados por construir jogos de estratégia épicos. O seu primeiro e principal jogo de estratégia é o World War Online, com o qual vai erguer a bandeira portuguesa de 7 a 10 de novembro no Web Summit.

O Daniel acredita que a sua experiência no passado o ajudou a ser um melhor empreendedor, um melhor gestor e a abraçar hoje o caminho da captação de investimento, com plena consciência de onde veio, onde está e onde quer estar.

Comentários

Artigos Relacionados