Opinião
Intrinsecamente motivados!

Um dos temas que têm estado na atualidade nos últimos dias são os exames nacionais e as escolhas universitárias que terão de ser feitas entre os dias 6 e 20 de agosto, sendo que dia 2 é o dia D para muitos dos nossos jovens, com a publicação das notas.
Juntamente com este tema, também se fala muito sobre empregabilidade e como é que essa variável deverá ser tida em consideração no momento da escolha. Estando em sintonia com o tópico, gostava no entanto de orientar a reflexão num outro sentido.
Segundo um estudo realizado na Holanda por Gerrit-jan Kleinjan mais de metade dos alunos sofre de ansiedade e depressão, sendo que 20% deles considera suicidar-se. Um dos principais motivos para que isso aconteça está relacionado com o facto de sentirem uma enorme pressão, decorrente do elevado nível de expetativas que são colocadas sobre eles. O momento de escolha do curso é altamente stressante para os estudantes, sobretudo por terem receio de escolher mal, dentro de uma panóplia de cursos que vai aumentando todos os anos.
Se olharmos para os números em Portugal, de acordo com um estudo da Direção Geral da Educação, apenas 46% dos alunos terminou a licenciatura que se inscreveu e no tempo previsto, sendo que 29% deles acabaram por desistir.
Estes números devem levar-nos a refletir sobre as razões que contribuem para um elevado número de desistências, depois de se ter investido tanto tempo na realização dos exames e na candidatura à universidade.
E a realidade é que, seja em contexto académico, seja em contexto profissional, aquilo que nos leva a ter sucesso é a paixão e entrega por aquilo que fazemos. A motivação intrínseca é o motor do nosso sucesso e felicidade, sendo que é muitas vezes esquecida em processos tão estruturantes como a escolha de um curso ou de um novo emprego.
Há inúmeros estudos que provam que, quando estudamos ou trabalhamos naquilo que verdadeiramente nos apaixona, perdemos a noção do tempo e do esforço. Já dizia Confucius “Escolhe um emprego que ames e não terás que voltar a trabalhar nenhum dia na tua vida”.
E como é que se descobre aquilo que se ama? Sendo este exercício tão fundamental, a realidade é que muitas vezes não dedicamos o tempo suficiente para nos conhecermos e colocarmos as questões certas. E, para todos nós que lidamos com adolescentes, devemos tentar guiá-los e dar-lhes algumas sugestões de como fazer este exercício:
- qual é o meu tipo de personalidade
Introvertido / Extrovertido
Racional / Emocional
Factos / Intuição - quais são os meus valores
- o que é que me energiza
- o que me faz perder a noção do tempo
- o que gosto de fazer
- quais são os meus hobbies
- em que tipo de ambientes gosto de trabalhar
- com que tipo de pessoas
- prefiro trabalhar ao ar livre ou no interior
- horários fixos ou flexibilidade
Na realidade, para além destas, existe uma enorme lista de questões que podem ser colocadas e que podem ajudar a que cada um se conheça melhor. E quando nos conhecemos melhor, somos capazes de tomar decisões que são as certas para nós.
Sendo tudo isto verdade o que a minha experiência me tem demonstrado é que muitas vezes as questões que são colocadas são muito mais focadas no ambiente externo do que na motivação interna. E, voltando ao início do artigo, é exatamente isso que coloca uma enorme pressão nos estudantes e no processo de escolha de curso. Que curso é que os meus amigos estão a escolher? Estou a escolher bem? Vou conseguir arranjar emprego? Vou ganhar muito dinheiro? Os meus pais vão ficar orgulhosos de mim?
E qual é o resultado de tudo isto? Em Portugal, 29% acaba por desistir!
Talvez seja importante refletir sobre isto e dar-lhes espaço para escolher o que verdadeiramente os apaixona. O que devemos transmitir é que esta é apenas a primeira escolha, e que há sempre tempo para acertar as velas. Sendo que a felicidade e a saúde mental devem estar sempre em primeiro lugar!