Opinião

Aprender a aprender, como?

Sandra Silva, diretora-geral da Mary Kay Portugal

Terminei a minha licenciatura em 1999. Desde essa altura várias foram as vezes que pensei em voltar aos bancos de escola. Mas por uma razão ou por outra fui sempre adiando.

O timing certo parecia não chegar. Os filhos eram demasiado pequenos, a equipa e o negócio estavam a precisar de atenção. Queria fazer algo numa universidade de topo estrangeira e por mais contas que fizesse, ter retorno desse investimento parecia difícil, conciliar agendas de programas com a minha agenda profissional de viagens… impossível.

E, de repente, chegou o Covid. O mundo parou. E para mim, tudo ficou mais claro. Tinha esperado anos para que o timing perfeito chegasse e, não só não chegou, como ficou ainda pior. Então aí percebi que o timing não chegaria… teria que ser eu a criar as condições para que fosse possível. E decidi voltar.

Em 2021 fiz um programa na Nova em Liderar a Transformação Digital. Um programa de apenas um mês para me ambientar à universidade e também aprender um pouco mais numa área tão crítica que não só está a transformar todos os modelos de negócio como a própria forma como as sociedades se organizam, vivem, o sistema de educação, saúde…

Foi uma experiência interessante e que me motivou a continuar. E em 2022 decidi tirar o mestrado em Gestão. Licenciada em Economia, gestora de profissão, tirar uma formação teórica que complementasse e aprofundasse a minha experiência fazia sentido. Terminei em novembro. Conciliar agendas – família, universidade e trabalho – não foi, de facto, fácil. Mas foi possível, como sempre o é, quando queremos realmente algo. Há que planear, tomar decisões e pedir ajuda. Valeu a pena.

Aprendi. Com professores e colegas muito interessantes de indústrias e backgrounds diferentes. Um network interessante com quem pude continuar a aprender através do debate de ideias e até testar decisões.

Mas voltar à educação formal reforçou em mim sobretudo a importância e um compromisso ainda maior em ter uma atitude contínua de aprendizagem ao longo da vida. Percebi que mais de 20 anos de experiência contam mais do que eu pensava. Apesar da minha formação de base não ser gestão, os desafios diários que nos são colocados, obrigam-nos individual e coletivamente a aprender. Pesquisamos, falamos, testamos, erramos, aprendemos a fazer. E isso tem um valor incalculável e não pode ser subestimado. Aliás, muitos dos casos estudados nascem daquilo que acontece em empresas de sucesso que se tornam referência para a indústria. Emergem frameworks e teoria ensinada aos novos gestores.

Valeu a pena fazer o mestrado? Voltar à educação formal? Claro que sim! Ganhei mais uma ferramenta na minha caixa de ferramentas para, enquanto profissional e líder, desenvolver e muscular ainda mais a competência que acredito ser hoje em dia a mais importante neste mundo em rápida mudança – aprender a prender. E depressa! E sempre. Todos os dias um pouco mais.

Mas necessita ser provocada! Ser intencional e estar na agenda.

Os nossos colegas de profissão, concorrentes, indústrias aparentemente distantes das nossas, jovens que chegam ao mercado de trabalho, áreas de lazer que nos apaixonam e que aparentemente são até distantes do nosso trabalho são excelentes fontes de aprendizagem. Como o são também os livros, revistas e artigos. E claro a experiência diária de testar novas formas de trabalhar, novas atividades. Uma ligação constante entre aprender, fazer, voltar a aprender, fazer de novo. Acredito que só aprendemos verdadeiramente quando fazemos.

Mas necessitamos saber aquilo que mais queremos aprender. Porquê? Para quê? Sem estas questões respondidas de antemão a aprendizagem pode ser apenas uma coleção de pequenas aprendizagens desconexas entre si e que não nos acrescentam nem acrescentam a quem connosco trabalha.

Qual é atualmente o maior desafio que tem no seu trabalho? Aquilo que se conseguisse resolver com sucesso traria mais sucesso e crescimento à sua equipa e empresa? Aquilo que a(o) motiva a aprender? Alguma paixão?

Talvez esse seja um bom ponto de partida para orientar esta aprendizagem diária.

E reforço que, como líderes, desenvolver e mostrar às nossas equipas que não estamos enquistados, nas mesmas formas de trabalhar, de pensar, nas mesmas receitas, e que mantemos um olhar aberto, atento, curioso e de explorador disposto a testar novas formas é crítico. Cria um ambiente propício à aprendizagem, à evolução e crescimento!

Numa altura em que estamos a chegar ao fim de mais um ano pode ser o momento ideal para fazer um balanço das principais aprendizagens feitas e determinar o que quer aprender, e como o vai fazer em 2024, para continuar a aprender a aprender e depressa!

Feliz 2024… a aprender!

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Sandra Silva

Sandra Silva

Sandra Silva é a diretora-geral da Mary Kay Portugal desde 2009, ano em que entrou para a companhia. Desempenhou um papel importante e fundamental tendo sido responsável pelo turnaround da empresa em Portugal. Liderou a importante renovação da estratégia de negócio implementada em todos os departamentos. Também é membro da Plataforma Portugal Agora. Antes de chegar à Mary Kay a experiência profissional de Sandra Silva centrou-se nas áreas das Vendas e Marketing em multinacionais de grande consumo. Começou na Johnson&Johnson,... Ler Mais..

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