Entrevista/ “Ao criarmos o nosso próprio negócio, investimos no que realmente gostamos”

Aurélio de Almeida, administrador e training manager da Air Dream College

Em pleno Alentejo, a Air Dream College nasceu da iniciativa empreendedora de três amigos no final do ano passado. Aurélio de Almeida, administrador, training manager e um dos cofundadores, explicou ao Link To Leaders como surgiu a escola de aviação e dos planos expansão com alunos estrangeiros.

A escola de formação aeronáutica Air Dream College tem como mentores os amigos Aurélio de Almeida, Tenente Coronel Navegador da Força Aérea Portuguesa e professor do ISEC, Nuno Anjos, gestor, e Ivan Duarte, piloto instrutor e oficial de operações de voo. Começou a funcionar em setembro do ano passado, em Évora, mas pelo meio foi apanhada pela pandemia. Apesar disso, os fundadores mantêm o otimismo e os planos de crescimento, inclusive para o mercado internacional.

Em entrevista ao Link To Leaders, Aurélio de Almeida, cofundador, administrador e training manager da Air Dream College, explica como é ser empreendedor na área da aviação e do que representa pôr em prática a concretização de um sonho.

Como surgiu o projeto Air Dream College?
A Air Dream College-Formação Aeronáutica, Lda. surgiu da vontade e do sonho de três amigos sendo um gestor de profissão, e os outros dois ligados diretamente à aviação através da sua formação tanto na Força Aérea Portuguesa como em escolas de aviação civil.

“(…) temos a noção que o empreendedorismo surge do esforço e paixão por fazer algo que gostamos (…)”

É fácil ser empreendedor numa escola de aviação?
Ser empreendedor, por si só, não é uma tarefa fácil, no entanto, temos a noção que o empreendedorismo surge do esforço e paixão por fazer algo que gostamos nunca sentindo que o esforço não é recompensado. Ao criarmos o nosso próprio negócio, investimos no que realmente gostamos e acreditamos para podermos tornar os nossos sonhos uma realidade e isso não se quantifica.
Temos a perfeita noção que ao empreendedorismo estão associados determinados valores interligados à qualidade e à excelência, que tudo faremos para cumprir e para nos diferenciar.

Como, por exemplo?
Com métodos de formação inovadores que valorizam a parte prática; plataformas de gestão académicas altamente equipadas e inovadoras, sendo a única escola certificada pela Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) para lecionar em B-learning; localização estratégica pela sua situação geográfica numa região em que o espaço aéreo disponível é excelente e pela situação meteorológica, onde poderemos voar cerca de 85% do ano; máximo de 12 alunos por turma; aeronaves novas equipadas com a nova tecnologia; ou parcerias de relevo no setor, por exemplo.  Ser empreendedor numa escola de aviação é isto mesmo é podermos dizer que vamos ao encontro dos nossos sonhos e dos que acreditam em nós, em especial os nossos alunos, proporcionando-lhes a oportunidade para realizar os seus.

Felizmente para nós, e apesar de todas as dificuldades que vivemos no momento atual devido à Covid-19, não podemos dizer que temos encontrado muitas dificuldades para conseguir o que desejamos e isso deve-se essencialmente ao apoio familiar, aos colaboradores da escola e às pessoas que temos encontrado em paralelo com o nosso caminho, nomeadamente na Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), na banca e nos protocolos que temos estabelecido com várias instituições, quer públicas quer privadas.

Têm investidores ou capitais próprios?
Tudo o que temos criado é com capitais próprios dos sócios e com o apoio da banca e parceiros que acreditaram no nosso projeto.

“Faz parte do projeto da Air Dream College ter alunos de outros países num futuro muito próximo (…)”

De que nacionalidades são os vossos alunos?
Neste momento os alunos da Air Dream College são unicamente portugueses nos cursos de pilotagem. Nos cursos de Oficiais de Operações de Voo/Oficiais de Despacho estão inscritas quatro alunas de países de Leste, mas são colaboradoras de empresas de aviação com sede em Portugal.

Faz parte do projeto da Air Dream College ter alunos de outros países num futuro muito próximo, formando turmas, sempre, de só 12 alunos mantendo a qualidade e os objetivos pretendidos em termos de conclusão dos cursos. Para o conseguirmos necessitamos que as nossas instalações no Aeródromo Municipal de Évora estejam ativas e assim podermos responder a um mercado mais amplo, para além do nacional. A Air Dream College tem previsto a partir do início do segundo semestre de 2021, e após a sua consolidação no mercado nacional, avançar com um programa de internacionalização no sentido de captar alunos estrangeiros.

Qual os valores em jogo neste tipo de formação?
Os valores dos cursos que ministramos variam conforme o que o aluno deseja realizar, ou seja, nos cursos de pilotagem modulares, pode variar de 15 mil euros a 72 mil e 500 euros para a totalidade de um curso de Piloto de Linha Aérea (ATPL(A) Modular), dependendo, sempre das horas de voo e da formação teórica em cada módulo.

Os cursos de Oficiais de Operações de Voo/Oficiais de Despacho (OOV/OD) estes têm dois valores, dependentes se o aluno tem formação aeronáutica anterior ou não e por esse facto pode ser de cerca de três mil euros ou cerca de sete mil.

“(…) com a ajuda preciosa das novas tecnologias conseguimos estabelecer um método de ensino que conjuga aulas presenciais (em sala de aula ou online) com um sistema de Learning Management System (LMS)”.

O que distingue o vosso sistema de ensino B-learning?
Hoje em dia muitos dos candidatos aos nossos cursos são jovens que já se encontram no mercado de trabalho, noutras profissões, e muitos deles com família constituída, por esse facto e com a ajuda preciosa das novas tecnologias conseguimos estabelecer um método de ensino que conjuga aulas presenciais (em sala de aula ou online) com um sistema de Learning Management System (LMS).

Através dos nossos instrutores, em colaboração com uma empresa de informação tecnológica, conseguimos criar um sistema de “ferramentas” online que lhe permite o total controlo da atividade do aluno, assim como este ter acesso a todas as aulas quer em programa informático, quer as gravações das aulas presenciais, manuais, testes, etc.

Assim, na Air Dream College o aluno tem acesso a tudo o que diz respeito ao seu curso podendo usar o melhor dos dois mundos que são a presença do instrutor em sala de aula e as ferramentas informáticas necessárias para o seu sucesso no curso. O nosso sistema distingue-se pelo fato de ser o primeiro a ser certificado pela ANAC, pelos instrutores, técnicos e profissionais envolvidos, pelos conteúdos de ensino aeronáutico introduzidos e pelas modernas plataformas informáticas.

(…) é um produto criado por portugueses para qualquer estudante em qualquer parte do mundo que entenda a língua inglesa.

Como desenvolveram a plataforma de ensino à distância?
Em parceria com uma empresa de tecnologias de informação no desenvolvimento do software, com uma empresa de conteúdos aeronáuticos, no texto e imagem, com os nossos instrutores e técnicos na elaboração dos conteúdos. Podemos dizer que é um produto criado por portugueses para qualquer estudante em qualquer parte do mundo que entenda a língua inglesa.

Como se compatibiliza o ensino à distância com a necessidade de prática de um curso de piloto?
O ensino à distância destina-se apenas à parte teórica do curso nomeadamente para estudo das aeronaves em que os nossos alunos irão voar. Esta componente teórica é da maior importância para um bom resultado na parte prática e por este facto os cursos em B-Learning ou seja, tal como o professor Agostinho da Silva dizia “a Escola deve servir para tirar dúvidas” e assim seguimos este método colocando ao dispor do aluno tudo o que lhe é permitido para o sucesso nos cursos que ministramos.

Quais os cursos mais procurados?
Ambos os cursos (OOV/OD e todos os módulos dos cursos de pilotagem) têm bastante procura. Não podemos dizer que há uma procura maior em qualquer um deles, no entanto, sentimos que num futuro próximo a maior procura será nos cursos de pilotagem.

Quantas pessoas já formaram desde a fundação da escola?
Para uma escola de aviação que iniciou a sua atividade de formação em setembro de 2019 não podemos dizer que já terminámos algum dos nossos cursos pelo facto de estes terem uma duração mínima de 12 meses para OOV/OD e de 24 meses para um curso, completo, de pilotagem. Podemos sim afirmar que se não fosse a situação que vivemos neste momento, devido à COVID 19, os alunos do nosso primeiro curso de OOV/OD já estariam em estágio profissional pois já teriam terminado todos os seus exames e que os alunos do curso de pilotagem que iniciámos em janeiro do corrente ano estavam neste momento a terminar a primeira fase do curso e assim obteriam a sua primeira licença aeronáutica muito em breve. Com todo o “adiar” de vida que tivemos nos últimos meses tudo o que planeámos avança cerca de 3 a 4 meses.

“As dificuldades são as inerentes a qualquer empresa nova no mercado e à gestão da mesma”.

Quais as dificuldades que enfrenta uma escola com as especificidades da vossa?
As dificuldades são as inerentes a qualquer empresa nova no mercado e à gestão da mesma. Para as ultrapassar a Air Dream College colocou em cargos de direção profissionais competentes e experientes nas áreas onde lideram. Nós, aviadores andamos sempre a velocidades superiores ao normal e, por esse facto, temos a sensação que os processos, que não dependem de nós, poderiam ser um pouco mais rápidos. No entanto, estamos conscientes que a velocidade dos mesmos, é a correta neste momento e que a seu tempo estaremos em velocidade de cruzeiro para atingir o que desejamos.

Qual a taxa de empregabilidade de quem sai dos vossos cursos?
Afirmamos com toda a certeza que antes do “adiar” de vida destes últimos meses era de mais de 80%, atingindo valores de 100% nos seis meses anteriores a março deste ano. No entanto, todos sabemos das dificuldades do setor, neste momento, mas para quem só vai terminar os seus cursos dentro de 18 a 24 meses (pilotagem), julgamos que o mercado de emprego estará a atingir valores muito próximo dos de antes março. Assim o esperamos. Para os OOV/OD o mercado está sempre em aberto e a empregabilidade continua a ser a mesma anterior a março ou seja, cerca de 85 a 90%.

Olhando para trás, como analisa o percurso do projeto Air Dream College?
Temos conseguido, em conjunto com todos os que colaboram connosco atingir os objetivos a que nos propusemos quando iniciámos este projeto. Por isso, podemos afirmar que “estamos a concretizar um sonho”.

E como analisa o panorama atual da aviação, devido à pandemia.
Como é do conhecimento geral, atualmente, o panorama da aviação mundial não é o melhor pela paragem obrigatória do setor. No entanto, estamos conscientes que num médio prazo retornaremos ao número de passageiros que tínhamos antes da pandemia e a aviação voltará aos números de antes de março de 2020.

Quais os projetos da Air Dream College para o próximo ano?
É intenção dos três sócios, através das parcerias que estamos a estabelecer com várias instituições, conseguir “abraçar” vários projetos em todas as áreas aeronáuticas. Neste momento, e no próximo ano, o maior projeto que queremos ver concretizado é cumprirmos o que estabelecemos com os nossos alunos, nomeadamente em termos de qualidade e prazos planeados para o términus dos seus cursos.

Para além do exposto queremos começar e terminar a construção de pelo menos um dos hangares no aeródromo municipal de Évora, obter certificação para todos os cursos que pretendemos ministrar não só de pilotagem, criar mais postos de trabalho, receber as aeronaves que pretendemos até ao final do próximo ano.

As áreas em que pretendemos inovar são todas as que estiverem ligadas ao nosso “core business” através das parcerias que temos concretizado e estamos a concretizar com protocolos, especialmente, com instituições de ensino universitário e outras instituições/empresas do setor.

Que tendências prevê para o setor da formação na aviação?
Somos otimistas, por isso prevemos o melhor, ou seja, que se continuem a formar profissionais aeronáuticos em todas as áreas da aviação e que esta evolua e seja uma imagem de marca do nosso país no mundo, não pela quantidade, mas sim pela qualidade dos mesmos.

“(…) em todas as grandes instituições e empresas nacionais e internacionais se encontram talentos formados no nosso país e aí devemos agradecer ao empreendedorismo de muitos empresários,(…).”

Portugal tem talentos neste setor?
Ao longo da história temos tido muitos nomes pioneiros na evolução da aviação, mas falando nos dias de hoje poderemos dizer que em todas as grandes instituições e empresas nacionais e internacionais se encontram talentos formados no nosso país e aí devemos agradecer ao empreendedorismo de muitos empresários, à aposta no desenvolvimento deste setor de muitas autarquias principalmente no Alentejo, e em especial à investigação e inovação no Ensino em Universidades como a Academia da Força Aérea Portuguesa, o Instituto Superior Técnico, a Universidade da Beira Interior e outras instituições de ensino superior particular.

Se Portugal tem talentos neste setor, basta olhar para os nomes impressos em editais da NASA, da Agência Espacial Europeia, da Airbus, da Boeing ou de outras grandes empresas e instituições no setor ou no dia a dia da manutenção, engenharia e pilotagem das aeronaves que andam pelo mundo ostentando ou não a bandeira nacional.

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