Opinião
Agentes IA comandados e a comandar?

Aviso imediato: este artigo pode parecer demasiado ficção científica… mas, se está a ler isto, tenha a consciência que não é!
A inteligência artificial (IA) já não é apenas um assistente silencioso que responde a perguntas ou automatiza tarefas simples. A próxima etapa desta revolução digital envolve algo muito mais profundo: a criação de equipas de agentes IA a trabalhar para nós! Com esta evolução, surge um novo desafio – saber gerir não apenas pessoas, mas também a nossa equipa de agentes inteligentes.
Durante décadas, a gestão esteve centrada na liderança humana: equipas compostas por profissionais com diferentes perfis, competências e responsabilidades. Agora, esse paradigma está a mudar. A realidade é que vamos, nos próximos anos (mesmo a curto prazo), precisar de desenvolver a capacidade de coordenar um conjunto de agentes IA que executarão tarefas, tomarão decisões autónomas e interagirão entre si e com humanos. O problema? Se já conhecemos pessoas que nem a si próprias se sabem gerir, como será quando adicionarmos IA à equação?
A fronteira entre quem gere e quem é gerido está a esbater-se rapidamente. Será que em breve teremos gestores de projeto que serão agentes IA a coordenar equipas mistas de humanos, humanoides e outros agentes IA? E se, com a crescente sofisticação das tecnologias cognitivas, alguns agentes e humanoides se começarem a considerar humanos e vice-versa, tendo em conta a diversidade que atualmente existe? A linha entre o que é biológico e digital pode tornar-se cada vez mais difusa, um cenário digno de um episódio de Black Mirror que, afinal, já está a acontecer no nosso dia a dia.
À medida que avançamos nesta direção, a relação entre humanos e máquinas entrará numa nova fase. As empresas terão de repensar as suas estruturas organizacionais, garantindo que a integração da IA nas suas operações é feita de forma ética e eficiente. A gestão deixará de ser um processo exclusivamente humano e passará a incluir a coordenação de agentes digitais que tomam decisões em tempo real, aprendem com a experiência e, eventualmente, comandam outros humanos e máquinas.
Estamos prestes a entrar num território inexplorado e incrivelmente desafiante. Se por um lado, a IA poderá otimizar processos, reduzir custos e aumentar a produtividade, por outro, levantará questões sobre autoridade, identidade e até moralidade. Quem será responsável quando um agente IA tomar uma decisão errada? Como é que garantimos que estes sistemas refletem valores humanos e não apenas a frieza dos algoritmos?
Além disso, a integração de agentes IA nas equipas de trabalho pode transformar a dinâmica de colaboração. A IA pode atuar como mediadora em conflitos, fornecer insights baseados em dados em tempo real e até mesmo antecipar necessidades antes que elas se tornem problemas. No entanto, essa mesma capacidade de previsão e intervenção levanta preocupações sobre a privacidade e a autonomia dos trabalhadores humanos. Até que ponto estamos dispostos a permitir que a IA influencie as nossas decisões diárias e profissionais?
Outro ponto crucial é a formação e o desenvolvimento contínuo de competências. À medida que os agentes IA se tornam mais presentes no ambiente de trabalho, será essencial que os profissionais humanos adquiram novas competências para trabalhar em conjunto com essas tecnologias. Isso inclui não apenas competências técnicas, mas também uma compreensão profunda de ética, governação de IA e a capacidade de questionar e auditar as decisões tomadas por sistemas automatizados.
O que é certo é que teremos tempos emocionantes pela frente. O futuro da gestão não será apenas sobre liderar equipas tradicionais, mas sobre aprender a comandar e a ser comandado por agentes IA. O entusiasmo desta nova era digital reside exatamente nessa incerteza: até onde iremos e quem – ou o quê – realmente estará no comando?