Opinião
A virtude de saber comunicar

Não sei dizer há quanto tempo já, mas desde que me recordo tenho presente na minha memória uma curiosidade que nunca consegui esquecer e que talvez não seja do conhecimento geral: a Áustria é dos países do Mundo com melhor capacidade de comunicação e marketing.
Recordo-me disto na medida em que, passados vários anos a ser doutrinado sobre a História internacional, me apercebi um dia em conversa que Adolf Hitler não era alemão, mas sim austríaco de nascença, concretamente de uma cidade fronteiriça chamada Braunau am Inn, tendo-se mudado com a sua família para a Alemanha apenas com três anos de idade. Por outras palavras, até essa conversa – e natural subsequente confirmação através dos canais usuais para o efeito, e.g. Google, Wikipedia, etc. –, estava plenamente convencido que uma das figuras mais odiadas da História mundial era alemã, quando na realidade, embora tenha adquirido subsequentemente essa nacionalidade, a sua origem era distinta.
Foi nesse contexto que me explicaram, jocosamente, claro está, que esse era um erro comum e que derivava da capacidade comunicativa que o povo austríaco tinha de disfarçar esta realidade, ainda que, admito, de forma não propositada. De igual modo um célebre músico tinha feito o percurso inverso, passando-se na crença comum ser austríaco quando originariamente era alemão.
Mas a que propósito vem esta questão? Essencialmente na sequência de tudo a que temos vindo a assistir nos últimos tempos no nosso país e da forma como os nossos responsáveis políticos comunicam. Ou trocando isto por outras palavras, na forma como os líderes comunicam perante o povo, o mercado, os seus trabalhadores, etc.
A diferença entre uma comunicação sólida, ponderada e eficaz e aquela a que temos assistido é fácil de entender. Não basta na realidade atual ter um bom produto, um bom serviço ou uma boa ideia, acima de tudo é necessário saber comunicar as mesmas eficazmente, de forma positiva, evitando alarmismos e desinformação que acaba por prejudicar o impacto positivo que inerentemente poderia existir. Quantas vezes uma má ideia é tão bem comunicada que acaba por ter boa aceitação junto do público em geral? E quantas vezes acontece o contrário e perdem-se excelentes oportunidades por claras falhas de comunicação?
Não entrando em exemplos específicos, penso que o importante é deixar a nota que todas as informações e medidas que têm sido apresentadas pelos nossos governantes podem sem dúvida ter vários méritos mas, enquanto a comunicação for tão ineficaz e duvidosa, a eficácia e aceitação geral destas medidas será sempre colocada em causa e sujeita a enorme contestação. Vai isto para dizer que se hoje Portugal se apresenta como um país que rejeita o investimento estrangeiro ou, não o rejeitando, aparenta criar entraves e inseguranças ao mesmo, tal é resultado direto de uma incapacidade de comunicar que, em pleno século XXI, e com tantos profissionais especializados nesta arte, não deveria acontecer. Especialmente quando isso pode prejudicar um país inteiro.