Opinião

A virtude de saber comunicar

Nuno Madeira Rodrigues, Country Manager PT Arnold Investments

Não sei dizer há quanto tempo já, mas desde que me recordo tenho presente na minha memória uma curiosidade que nunca consegui esquecer e que talvez não seja do conhecimento geral: a Áustria é dos países do Mundo com melhor capacidade de comunicação e marketing.

Recordo-me disto na medida em que, passados vários anos a ser doutrinado sobre a História internacional, me apercebi um dia em conversa que Adolf Hitler não era alemão, mas sim austríaco de nascença, concretamente de uma cidade fronteiriça chamada Braunau am Inn, tendo-se mudado com a sua família para a Alemanha apenas com três anos de idade. Por outras palavras, até essa conversa – e natural subsequente confirmação através dos canais usuais para o efeito, e.g. Google, Wikipedia, etc. –, estava plenamente convencido que uma das figuras mais odiadas da História mundial era alemã, quando na realidade, embora tenha adquirido subsequentemente essa nacionalidade, a sua origem era distinta.

Foi nesse contexto que me explicaram, jocosamente, claro está, que esse era um erro comum e que derivava da capacidade comunicativa que o povo austríaco tinha de disfarçar esta realidade, ainda que, admito, de forma não propositada. De igual modo um célebre músico tinha feito o percurso inverso, passando-se na crença comum ser austríaco quando originariamente era alemão.

Mas a que propósito vem esta questão? Essencialmente na sequência de tudo a que temos vindo a assistir nos últimos tempos no nosso país e da forma como os nossos responsáveis políticos comunicam. Ou trocando isto por outras palavras, na forma como os líderes comunicam perante o povo, o mercado, os seus trabalhadores, etc.

A diferença entre uma comunicação sólida, ponderada e eficaz e aquela a que temos assistido é fácil de entender. Não basta na realidade atual ter um bom produto, um bom serviço ou uma boa ideia, acima de tudo é necessário saber comunicar as mesmas eficazmente, de forma positiva, evitando alarmismos e desinformação que acaba por prejudicar o impacto positivo que inerentemente poderia existir. Quantas vezes uma má ideia é tão bem comunicada que acaba por ter boa aceitação junto do público em geral? E quantas vezes acontece o contrário e perdem-se excelentes oportunidades por claras falhas de comunicação?

Não entrando em exemplos específicos, penso que o importante é deixar a nota que todas as informações e medidas que têm sido apresentadas pelos nossos governantes podem sem dúvida ter vários méritos mas, enquanto a comunicação for tão ineficaz e duvidosa, a eficácia e aceitação geral destas medidas será sempre colocada em causa e sujeita a enorme contestação. Vai isto para dizer que se hoje Portugal se apresenta como um país que rejeita o investimento estrangeiro ou, não o rejeitando, aparenta criar entraves e inseguranças ao mesmo, tal é resultado direto de uma incapacidade de comunicar que, em pleno século XXI, e com tantos profissionais especializados nesta arte, não deveria acontecer. Especialmente quando isso pode prejudicar um país inteiro.

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Nuno Madeira Rodrigues

Nuno Madeira Rodrigues

Nuno Madeira Rodrigues é atualmente coordenador do Departamento de Direito Imobiliário na Pinto Ribeiro Advogados. Anteriormente, foi Country Manager PT Arnold Investments, Chairman da BDJ S.A, Chairman da Lusitano SAD, Administrador do Grupo HBD e Presidente do Conselho de Administração da Lusitano, SAD, e do Conselho Fiscal da Associação Lusófona para as Energias Renováveis. É ainda Vice-Presidente do Conselho Fiscal da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, Membro do Conselho Consultivo da Plataforma Sustentar e Presidente da Direção da... Ler Mais..

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