Opinião

A saúde mental como músculo invisível dos empreendedores

Álvaro Lopes-Cardoso, fundador e CEO da UPNDO*

Ser empreendedor é, muitas vezes, um ato de fé. Fé numa ideia, numa equipa, num propósito. Acima de tudo, fé em si próprio. Mas entre o sonho e a realidade, existe um território quase sempre silencioso: o do desgaste mental.

Vivemos uma cultura que glorifica a resiliência, a produtividade e o “hustle”, como se o sucesso dependesse apenas de quantas horas conseguimos ficar acordados ou quantos desafios conseguimos suportar. Pouco se fala do preço. E o preço, muitas vezes, é a saúde mental.

O empreendedorismo é um desporto de alto rendimento. As emoções oscilam entre a euforia de uma conquista e o pânico de uma incerteza. Os dias trazem vitórias efémeras e noites longas, marcadas pela dúvida. Investidores exigem confiança, equipas procuram inspiração, famílias esperam segurança — e no meio de tudo isso, o empreendedor luta para não se perder de si mesmo.

O custo invisível deste caminho não é apenas financeiro. É emocional.
Ansiedade, insónias, medo do fracasso, solidão, síndrome do impostor são realidades partilhadas, mas raramente ditas em voz alta.

E, no entanto, cuidar da mente deveria ser tão essencial quanto gerir o fluxo de caixa.
Como qualquer atleta, o empreendedor precisa de ferramentas para proteger o seu equilíbrio: sono, movimento, meditação, fé, tempo de silêncio, momentos com os que ama. Estes não são luxos, são mecanismos de sobrevivência.

Como escreveu Ben Horowitz em The Hard Thing About Hard Things: “Só se vivem duas emoções: euforia e terror. E a falta de sono intensifica ambas.”

Reconhecer esta dualidade é o primeiro passo para normalizar o tema.
Falar sobre saúde mental não é sinal de fraqueza é, sim, um ato de liderança. É garantir que a chama da ambição não se apaga por falta de oxigénio emocional.

No Dia Mundial da Saúde Mental, vale a pena lembrar: O sucesso é importante. Mas continuar inteiro é fundamental. E, no fim do dia, não há melhor investimento do que aquele que fazemos em nós próprios.

*Start-up portuguesa de saúde e impacto social

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