Opinião

A produtividade como antídoto da ansiedade

Mário Ceitil, presidente da Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas

Em tempos de grande incerteza e inquietação em relação ao futuro, mantermo-nos focados e produtivos é não só a melhor forma de superarmos os sentimentos de ansiedade no presente como também a melhor estratégia para prepararmos esse futuro que, mais cedo ou mais tarde, seguramente virá.

O problema, ou melhor, o grande desafio, é que situações como a que hoje vivemos são enorme e extensamente propícias a fazer desencadear nas pessoas emoções tendencialmente disruptivas que suscitam impulsos reativos e autocentrados, que, no limite, fazem dispersar a atenção e podem conduzir a comportamentos erráticos e contra produtivos. Por isso, uma das mais importantes e cruciais missões que os líderes enfrentam atualmente é justamente conseguir que as pessoas mantenham o foco em relação a objetivos alinhados com um propósito comum, de modo a prevenir um possível desgaste emocional que pode não só gerar perdas de produtividade como, em situações mais graves, causar mesmo alguma destruição, ainda que temporária, de talento.

A produtividade é, por definição, uma relação entre um determinado resultado e os meios e recursos utilizados para o obter. Assim e de uma forma talvez demasiado simples e direta, diríamos que a produtividade de um determinado processo de trabalho é elevada quando o valor do resultado obtido é superior ou muito superior ao valor dos recursos despendidos para o gerar, sendo que o seu inverso é igualmente verdadeiro.

Ora, no que diz respeito concretamente ao trabalho humano, e se tomarmos em linha de conta que um dos recursos que as pessoas utilizam para trabalhar é justamente a sua energia pessoal, o seu esforço físico e mental, é possível concluir que uma pessoa que, numa determinada tarefa ou atividade, obtém melhores resultados, com menos esforço, poderá ser considerada mais produtiva que outra que despende bastante mais esforço para um resultado de menor valor. Esta conclusão está aliás alinhada com uma conhecida abordagem proposta por Marcus Buckingham, segundo a qual um “talento é algo que uma pessoa faz melhor do que a média e com menos esforço”.

O esforço, todavia, em particular o esforço mental, é uma variável subjetiva e varia na razão inversa do interesse que cada um coloca naquilo que faz. Por isso, para que o esforço seja realmente produtivo é indispensável haver “química”, uma força motivacional que mobilize emoções positivas e as canalize, através de uma atenção concentrada e focalizada para a concretização de uma meta desejada.

Mas, em tempos difíceis e perante situações realmente adversas, conseguir esta mobilização é uma tarefa (ainda) mais desafiante e complexa, porque os “radares de ameaça” do cérebro humano disparam sinais de alarme de grande intensidade, suscetíveis de desencadear emoções reativas que levam a comportamentos de desorientação e à consequente perda de foco.

E sem foco concreto e definido, a mente divaga, levando a pessoa a perder o sentido da experiência imediata e a refugiar-se em deambulações inconsequentes. Como consequência, a atenção dispersa-se, a energia dissipa-se em sensações difusas de ansiedade e corre o risco de se tornar improdutiva.

Daí a importância que tem vindo a ser insistentemente assinalada em variadíssimos fóruns, de os líderes manterem práticas de comunicação muito ativas com os seus colaboradores e equipas, justamente para evitar as possíveis perdas de foco; porque, em tempos de crise ter a mente ocupada em algo que tem sentido de propósito, constitui, por si só, um poderoso antídoto para a ansiedade.

Em regra, quanto mais as pessoas conseguirem estar presentes na “experiência imediata” e menos devanearem, maior é a probabilidade de se manterem produtivas.

Assim, é de facto essencial conseguirmos dinamizar estratégias para que cada pessoa possa gerir as suas emoções mais ansiogénicas, de modo a que o possível medo que nos assola se transfigure em reconhecimento de ações proativas para ultrapassar as dificuldades e encontrar soluções.

Por isso, manter o foco no que se gosta e tem sentido fazer, permite-nos manter bons níveis de saúde mental e é seguramente a melhor estratégia para a produtividade crescer.

Comentários
Mário Ceitil

Mário Ceitil

Licenciado em Psicologia Social e das Organizações pelo ISPA, Mário Ceitil é consultor e formador na CEGOC desde 1981, tendo participado em vários projetos de intervenção, nos domínios da Psicologia das Organizações e da Gestão dos Recursos Humanos, em algumas das principais empresas e organizações, privadas e públicas, em Portugal e em países da África lusófona. Integrou, como consultor, equipas internacionais do grupo CEGOS, em projetos europeus. É professor universitário, desde 1981, nas áreas da Psicologia das Organizações e da... Ler Mais..

Artigos Relacionados