Opinião

A oportunidade para discutir o crescimento da nossa economia

João Pedro Guimarães, secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP)

O ano 2024 ficará marcado por eleições. Depois dos Açores, entramos num período de pré-eleições legislativas. Eleições antecipadas que chegam numa altura em que os efeitos da inflação, da guerra e os resquícios da pandemia, ainda impactam a vida dos portugueses.

Por outro lado, a incerteza e a volatilidade, marcam os nossos tempos um pouco por todo o mundo. A ideia de paz perpétua, que iludiu a Europa durante tantos anos, está posta em causa o que gera naturais receios e mais instabilidade. Neste contexto complexo, é momento de discutir o país e ouvir que tipo de propostas e estratégias têm os nossos governantes para assegurar um futuro mais promissor para Portugal.

Terminámos 2023 com alguns bons indicadores económicos. Portugal fechou o ano a crescer 2,3%, acima da média europeia e acima das previsões iniciais. Mas há vários dados (não tão positivos) que nos mostram que temos muito trabalho pela frente. Por exemplo, à boleia da situação do comércio internacional, as exportações caíram 1,9% nos últimos três meses do ano e conhecemos bem a importância que têm para o nosso PIB.

Assim, apesar de os dados do crescimento económico poderem ser fatualmente positivos, é preciso colocá-los em perspetiva. O crescimento da zona euro e da União Europeia não chegou, em 2023, a 1%, essencialmente afetado pela recessão que se faz sentir na Alemanha. As previsões para este ano não são melhores e, no que respeita a Portugal, a Comissão Europeia reviu em baixa o crescimento para 1,3%.

Estamos já habituados a que a classe política, especialmente em momentos de campanha eleitoral, olhe para este tipo de dados da perspetiva que mais lhe convém. Este facto acaba por retirar rigor e factualidade a um debate que se quer aprofundado. Há temas fundamentais que merecem reflexão e que ficam, invariavelmente, fora da agenda política, mediática e eleitoral. A produtividade é um desses exemplos.

Sem um aumento considerável da produtividade do nosso país, muito dificilmente alcançaremos uma trajetória de crescimento económico sustentado, que permita aumentar o salário médio no país e, com isso, contribuir para que os nossos melhores recursos não se sintam obrigados a sair para o estrangeiro. No campo da produtividade, Portugal situa-se na cauda da Europa e todos os anos se afunda nos diferentes rankings, e esta realidade deveria ser motivo de preocupação para políticos, empresários, gestores e sociedade civil.

Quando o debate político se centra na economia é fundamental que a questão da produtividade esteja no centro da reflexão. Da legislação laboral, à formação de executivos (onde a Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa tem trabalhado muito), ao investimento em infraestruturas, ou no acesso a novas tecnologias, existem muitas áreas que podem (e devem) ser repensadas para melhorarmos o problema da baixa produtividade no nosso país e para começarmos efetivamente a falar de crescimento económico sustentado que traga melhoria das condições de vida dos portugueses, o que, no final do dia, deveria ser o primeiro objetivo de todos.

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