Opinião

A nossa Serra da Estrela sobreviveu e vai regressar mais forte

Pedro Machado, presidente da ERT Centro de Portugal

O Centro de Portugal levou um soco no estômago este verão. A Serra da Estrela, um paraíso natural e um destino turístico de exceção, foi atingida no seu coração por um violentíssimo incêndio.

Cerca de 20 por cento da área do Parque Natural foi consumido pelas chamas, para desespero dos habitantes e das muitas empresas e empresários que dependem da Serra da Estrela para exercerem a sua atividade. Os prejuízos naturais, na fauna e flora, são incalculáveis.

A Serra da Estrela, ponto mais alto de Portugal continental, é um ecossistema muito sensível. É uma área protegida que, ao longo dos anos, não tem merecido a devida atenção das entidades nacionais. A tragédia que este ano se abateu sobre ela é o corolário do desleixo acumulado de várias governações.

É importante realçar, no entanto, que a grande maioria do território da Serra da Estrela não ardeu: sobreviveu à catástrofe e continua tão convidativo e apetecível para os visitantes como antes. Há 80% do Parque Natural que está intacto, que permite a fruição, a deslocação e uma excecional experiência turística aos visitantes. Algumas das principais unidades hoteleiras da Serra registaram, inclusivamente, taxas de ocupação de 90 a 100% neste verão, uma vez que estão inseridos nos 80% de área que não ardeu.

Temos a consciência, ainda assim, de que há locais da Serra que dificilmente voltarão a ser o que eram. Mas estamos certos de que, com o esforço de todos, o Parque Natural vai reerguer-se e continuar a ser o destino turístico de excelência que sempre foi. Se for possível, que se aprenda com os erros, de forma a termos uma Serra da Estrela mais bem organizada, mais forte e com maior capacidade de resistência aos fogos florestais.

A Serra da Estrela apresenta vários problemas que não se resumem apenas às questões de segurança que resultam dos incêndios. Urge repensar o ordenamento da floresta, a gestão do ciclo da água, a sustentabilidade dos recursos naturais e a gestão do próprio parque natural. Além disso, a Serra da Estrela tem um problema grave de mobilidade, mais visível no inverno, quando neva.

É obrigatório que haja uma conjugação de esforços ao mais alto nível, de forma a criar-se uma solução de curto e médio prazo, que sustente o longo prazo na Serra da Estrela. Pessoalmente, vejo com bons olhos, face à importância deste ativo único no país, que este trabalho seja desenvolvido por um grupo interministerial liderado pelo primeiro-ministro. A Estrela não merece menos do que isso.

Uma palavra final para quem vive do que a Serra dá. É fulcral que se crie um fundo de compensação para as empresas que operam na área afetada pelos incêndios. São empresas quem vivem da sua relação com a natureza, nomeadamente as unidades hoteleiras, os turismos em espaço rural e os turismos de aldeia. Sem esquecer os pastores da raça bordaleira, responsável pela produção do Queijo da Serra, que precisam de apoios urgentes.

O esforço de recuperação da Serra da Estrela vai exigir o empenho sobre-humano de todos. Mas queremos acreditar que, de uma vez por todas, o país acordou para a necessidade de termos uma Serra melhor, mais segura e mais sustentável.

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Pedro Machado

Pedro Machado

Pedro Machado é presidente da Agência Regional de Promoção Turística do Centro de Portugal e presidente da Mesa da Assembleia Geral do Turismo Centro de Portugal. Doutorado em Turismo, pela Universidade de Aveiro, é Mestre em Ciências de Educação, na Área de Especialização - Psicologia Educacional, pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, e Licenciado em Filosofia. É Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Rotas do Vinho de Portugal desde 2014;Membro Cooptado da... Ler Mais..

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