Entrevista/ “A formação é uma forma de introduzir um mindset de abundância”
“São inúmeros os estudos que demonstram a ausência de investimento na formação e no desenvolvimento dos colaboradores como um dos principais pontos apontados para a diminuição do engagement”. A análise é de Filipe Luz, Head of Sales Strategy & Performance na Cegoc, e responsável pelo novo projeto Academia Digital Corporativa. Em entrevista ao Link To Leaders, fala da missão desta academia de formação e das mais-valia que pode trazer às empresas.
A Academia Digital Corporativa é uma das mais recentes iniciativas da Cegoc. É uma solução de formação digital dirigida a PME e outras organizações que apresentem lacunas nesta área e que necessitem de fazer um up de competências e de transformação digital para incrementarem o seu negócio.
A solução disponibiliza percursos formativos maioritariamente orientados para a vertente da eficácia pessoal e profissional, a par de conteúdos especializados, quer ao nível da liderança quer em áreas potencialmente mais críticas como a comercial. Filipe Luz, Head of Sales Strategy & Performance na Cegoc, e responsável pela Academia, explica como nasceu este projeto e de que forma, num contexto atual, o investimento em formação pode potenciar a competitividade das empresas.
Em que consiste a Academia Digital Corporativa?
A Academia Digital Corporativa é uma solução integrada de vários elementos que permitem às organizações disponibilizar uma oferta formativa em formato digital. É composta por um portal corporativo, ou seja, a base tecnológica da solução; conteúdos de formação digital organizados em percursos com objetivos específicos, que é a base pedagógica da solução; e o apoio de uma equipa especializada que trata de toda a parte de backoffice, que é a base administrativa da solução.
O projeto nasceu da conjunção de vários fatores: o incremento da formação digital verificado durante o período pandémico, a necessidade de aceleração das organizações nos processos de reskilling e upskilling e a oportunidade de beneficiar dos apoios comunitários para promover a transformação digital das suas organizações.
Qual a missão a que se propõe?
Existe um propósito de democratização do acesso a este tipo soluções em organizações que não podem realizar um investimento significativo para adquirir e implementar plataformas próprias. Para além de apresentarmos a solução com um serviço, integramos na sua implementação um diagnóstico de elegibilidade para financiamento externo que permite a cada organização obter um relatório com as expetativas do apoio que pode vir a obter.
Qual é o target prioritário?
O target identificado consiste em organizações de pequena e média dimensão (50 a 350 colaboradores) que, não tendo uma estrutura formal dedicada à formação e desenvolvimento dos seus colaboradores, pretendam estruturar uma oferta formativa eficaz que alavanque de forma integrada a performance dos seus colaboradores; cumprir com a obrigatoriedade legal de promover 40 horas de formação anuais por colaborador; avançar para a externalização de uma equipa dedicada que incorpore as melhores práticas internacionais de aprendizagem online (síncrona e assíncrona).
“(…) o que apresentamos de diferenciador é a possibilidade de acrescentar conteúdos personalizados (…)”.
Que tipo de oferta formativa têm previsto integrar na Academia Digital Corporativa este ano?
A nossa solução disponibiliza percursos formativos num total de 80 horas de formação maioritariamente orientados para a vertente da eficácia pessoal e profissional, ainda que também tenhamos alguns conteúdos especializados, tanto ao nível da liderança como em áreas potencialmente mais críticas como a comercial. Agora, o que apresentamos de diferenciador é a possibilidade de acrescentar conteúdos personalizados recorrendo à base de dados de mais de 500 ativos digitais que temos disponíveis no nosso grupo permitindo, assim, personalizar esta oferta.
O que podem as empresas, e os seus colaboradores, esperar da vossa proposta formativa?
A Cegoc trabalha na componente da formação digital desde 2000 utilizando uma metodologia pedagógica que potencia a aprendizagem através da organização de diferentes ativos num percurso coerente e orientado para o apoio à transferência para a realidade dos participantes. Na Academia Digital Corporativa são disponibilizados percursos com ativos digitais interativos que envolvem os participantes no processo de aprendizagem e que podem ser realizados em qualquer lugar, através de qualquer equipamento, adaptando-se assim às necessidades de cada formando.
O que é que a formação pode fazer pela competitividade das empresas?
Eu vejo duas grandes mais-valias para as organizações. Uma mais macro, que está relacionada com o processo de transformação digital das empresas e que acontece através de alterações consistentes no seu dia a dia, como, por exemplo, a forma como fazem formação.
A segunda prende-se com a necessidade de upskilling de algumas competências core, de âmbito comportamental, que influenciam e determinam tudo o que queremos dos colaboradores ao nível das competências mais técnicas.
“(…) não estou a dizer que toda a formação deve ser digital, reconheço é que há contextos onde de facto as suas mais-valias são determinantes”.
Globalmente, as empresas nacionais já estão suficientemente sensibilizadas para as potencialidades do Digital Learning?
É inegável que a realidade durante a pandemia veio trazer uma maior sensibilização ao tema, mas também é verdade que se nada for feito a tendência será voltar tudo para trás e perder uma oportunidade para aumentar competitividade em relação ao mercado global. Infelizmente, durante este período também foram realizadas muitas formações e-learning que não abonam a favor da formação digital, uma vez que maioritariamente são experiências monótonas que tornam o processo de aprendizagem penoso para quem aprende. Atenção que eu não estou a dizer que toda a formação deve ser digital, reconheço é que há contextos onde de facto as suas mais-valias são determinantes.
“A formação deverá ter sempre o condão de pôr os formandos a pensar, a exercitar a mente, e os resultados desse exercício deverão depois ser orientados para otimização de processos e inovação de soluções”.
O sucesso de uma empresa pode estar no investimento que esta faz no desenvolvimento contínuo das suas equipas? De que forma?
Acho curioso que, de uma forma geral, todos reconheçam que a tecnologia hoje evolui de uma forma acelerada, mas que quem opera essa mesma tecnologia não precisa de evoluir na mesma velocidade. A formação deverá ter sempre o condão de pôr os formandos a pensar, a exercitar a mente, e os resultados desse exercício deverão depois ser orientados para otimização de processos e inovação de soluções. Há muitos outros benefícios deste investimento, talvez estes sejam os que mais rapidamente “falam” à administração das empresas.
Que conselhos daria às empresas que ainda não apostam na formação dos seus colaboradores?
Acredito sinceramente que quem ainda não assume a formação como investimento (e ainda o vê como custo) o faz porque é verdade que muitas vezes o benefício é intangível. É fácil calcular o aumento de produção com a aquisição de uma nova máquina ou projetar vendas com a abertura de um novo espaço, nem sempre é tão fácil perceber o retorno de ter as pessoas a utilizar todo o seu potencial. E essa é a pergunta: que resultados poderia atingir se os meus colaboradores utilizassem todo o seu potencial no exercício das suas funções?
“A formação é uma das respostas e uma forma de introduzir um mindset de abundância (…)”
Numa altura em que os RH procuram cada vez mais enquadrar nas suas propostas compensatórias benefícios que vão além do lado financeiro, que papel pode a formação desempenhar para atrair e reter os colaboradores nas empresas?
São inúmeros os estudos que demonstram a ausência de investimento na formação e no desenvolvimento dos colaboradores como um dos principais pontos apontados para a diminuição do engagement. Se na realidade atual tudo evolui em grande velocidade é natural que as pessoas sintam a necessidade de o fazer também.
A formação é uma das respostas e uma forma de introduzir um mindset de abundância: se todos investirmos, mesmo que exista rotação (e é ilusório achar que não existe), todos vamos beneficiar uma vez que os novos colaboradores já trazem mais e melhores competências adquiridas nos empregadores anteriores.
*E responsável pela solução Academia Digital Corporativa