Opinião
A escola de programação que procura “talentos com personalidade” está mais internacional

Quatro anos depois de ter chegado ao mercado, a Academia de Código assume-se cada vez mais global ao anunciar a entrada em Cabo Verde e Brasil. João Magalhães, CEO do projeto, explicou ao Link To Leaders por onde passam as suas ambições para a escola de programação que quer dar às pessoas a oportunidade para mudarem de vida.
No início de dezembro, João Magalhães revelou que 2019 estava a ser o ano de internacionalização da Academia de Código e que se adivinhavam algumas novidades para 2020. Depois de em setembro ter inaugurado um campus em Utrecht, na Holanda, o CEO da escola de programação anunciou a expansão para São Paulo, Brasil, e Cidade da Praia, em Cabo Verde. Em entrevista ao Link to Leaders explicou que o objetivo é sempre o mesmo: dar as competências a jovens e adultos para que tenham um futuro melhor e mais sustentável.
Porquê a internacionalização para Cabo Verde e Brasil? O que têm estes mercados de atrativo para a Academia de Código?
A visão da Academia de Código é global. A verdade é que existem pessoas sem trabalho em todo o mundo e com o grande crescimento da tecnologia, a falta de programadores é uma realidade em qualquer lado. Queremos chegar a mais crianças e adultos e ensinar programação para que tenham um futuro mais sustentável num mundo cada vez mais global e tecnológico.
Cabo Verde é um caso muito especial. Existe uma aposta estratégica do governo para criar um hub tecnológico de referência em África, o “Cabo Verde Digital”, de que somos parceiros. Encontrámos em Cabo Verde jovens com muito talento que estão à procura de oportunidades, estão a ser construídas infraestruturas de muita qualidade e existe uma aposta grande na educação.
O Brasil é um mercado desafiante, com uma dimensão enorme e com muita necessidade de programadores. Temos tido bastante interesse vindo de lá e fizemos recentemente uma parceria com a IT Trends, uma plataforma de conteúdo e educação sobre tecnologia com mais de 20 milhões de utilizadores. Mais uma vez tem como objetivo potenciar o acesso a pessoas sem emprego ao mercado de trabalho na área das tecnologias da informação através do primeiro bootcamp gratuito já no primeiro semestre de 2020, em São Paulo.
“(…) procuramos talentos com personalidade, que demonstrem paixão, capacidade de trabalho e que não tenham medo de aprender para dar uma volta à sua vida”.
Como define o perfil tipo de quem recorre à Academia de Código?
A distinção dos candidatos não assenta na experiência ou na formação académica, aliás, tipicamente os nossos alunos nunca tiveram qualquer contacto com programação antes de entrarem para os nossos bootcamps. Acima de tudo, procuramos talentos com personalidade, que demonstrem paixão, capacidade de trabalho e que não tenham medo de aprender para dar uma volta à sua vida.
Já participaram alunos de diversos backgrounds (desde doutorados a pessoas com apenas o 9.º ano de escolaridade), e de idades entre os 18 e os 53 anos. A percentagem de mulheres graduadas nos nossos bootcamps ronda os 30%. O nosso processo de seleção é exigente, mas no final do dia os candidatos que demonstrarem persistência e vontade de aprender tem uma probabilidade enorme de serem selecionados.
Quantas pessoas já formaram desde a criação do projeto?
A Academia de Código tem quatro anos de atividade. Nos seus já cinco campus estabelecidos em território nacional, a Academia de Código já teve transformou quase 800 (no final deste mês) pessoas no desemprego em programadores, integrando-os em mais de 50 reputadas empresas de IT nacionais e multinacionais.
A nossa taxa de empregabilidade é de 96% e, muitas vezes, os nossos alunos estão contratados ainda antes do bootcamp terminar.
Qual a taxa de empregabilidade de quem sai dos vossos cursos?
O nosso foco é a transformar a vida a pessoas com talento desperdiçado, ou seja, ensinar, preparar e arranjar-lhes um emprego. A nossa taxa de empregabilidade é de 96% e, muitas vezes, os nossos alunos estão contratados ainda antes do bootcamp terminar.
Depois de quatro anos de atividade como analisa o percurso deste projeto? Superou as suas expetativas ou ficou aquém do previsto?
Temos uma visão global e de longo prazo, estamos no início do nosso percurso. Temos tido bastante sucesso a desenvolver as nossas soluções, a melhorá-los e a torná-los cada vez mais replicáveis e com mais impacto. Estes quatros anos foram muito bons, mas queremos chegar a muito mais pessoas e a novos mercados.
“Não estamos a mudar nada devido à entrada de novos players no mercado. Continuamos a evoluir porque queremos que os nossos alunos saiam dos nossos cursos cada vez mais preparados (…)”.
Nos últimos meses têm surgido no mercado nacional novos projetos de formação a área da programação. Como estão a adaptar o vosso modelo de negócio face à concorrência?
Não estamos a mudar nada devido à entrada de novos players no mercado. Continuamos a evoluir porque queremos que os nossos alunos saiam dos nossos cursos cada vez mais preparados, e para que as empresas queiram cada vez mais contratar os nossos alunos. Somos super competitivos em qualquer parte do mundo e temos soluções diferenciadas e focadas na procura de talento e na sua empregabilidade.
Quais os projetos da Academia para o próximo ano?
Temos já cinco campus em Portugal e uma Pós-Graduação no ISCTE. No plano internacional estamos em Utrecht, na Holanda e vamos abrir na Cidade da Praia em Cabo Verde e São Paulo, no Brasil. Para 2020 planeamos ainda o lançamento dois novos campus no estrangeiro, o que significa mais de 600 programadores formados num só ano.
Em áreas pretendem inovar?
O nosso foco vai ser sempre dar as competências a jovens e adultos para que tenham um futuro melhor e mais sustentável. Vamos continuar a evoluir e a acompanhar as novas tendências de computer science e da programação nas áreas da educação, reskilling e upskilling. Em simultâneo vamos continuar a desenvolver novos modelos para chegarmos cada vez a mais crianças e a mais talentos desperdiçados que precisam de uma nova carreira.
A Academia de Código tem constado, várias vezes, nas listas das melhores escolas e bootcamps de programação na Europa. O que acha que distingue a vossa proposta para que isso aconteça?
Somos uma start-up de impacto social e o nosso foco está na criação de comunidades sustentáveis num mundo cada vez mais global e tecnológico. Temos uma visão inclusiva e não queremos deixar nenhum talento de fora. Temos uma forma de ensinar muito humana, damos um acompanhamento muito próximo aos nossos alunos e trabalhamos de perto com as empresas que nos contratam para estarmos sempre a par das novas tendências de mercado. Vemos os nossos bootcamps não como um curso, mas como uma oportunidade para mudar de vida.
Que tendências se adivinham no domínio da linguagem de programação?
Uma das tendências que temos sentido no mercado e nas empresas que constantemente nos contactam é a procura por programadores com conhecimento de Outsystems, uma tecnologia low code para desenvolvimento rápido de aplicações. A procura tem sido elevada, tornámo-nos no início do ano “Training Partner” da Outsystems com quem temos colaborado de variadas formas desde aí. É uma tecnologia com um potencial enorme e que tem demonstrado um crescimento incrível. No que toca ao back-end, Java – bem como todas as linguagens relacionadas -, são claramente as mais procuradas pelas empresas que nos contactam. No front-end, o JavaScript continua a dominar as ofertas.
Saber código é garantia de emprego no futuro?
A programação é a nova literacia. Um exemplo, até 2015 50% das profissões que existem hoje vão acabar e irão surgir outras em que a tecnologia e a programação terão um papel fundamental. No caso específico de Portugal, até ao ano de 2030, 700 mil pessoas vão ter de mudar de ocupação para continuaram a ter um emprego. Neste momento faltam 5 milhões de profissionais IT a nível mundial. Diria que a programação é provavelmente a competência mais procurada já aos dias de hoje.
Temos talentos em Portugal neste domínio? Portugal tem mesmo potencial competitivo no domínio da inovação digital ou estamos perante um falso paradigma?
Temos muito talento em Portugal, muito potencial, mas podíamos fazer ainda muito mais do que estamos a fazer para sermos uma referência internacional. Um exemplo, introduzir o ensino da programação no currículo de todas as escolas em Portugal como já acontece por exemplo em Inglaterra, Austrália, Finlândia, Holanda, alguns estados dos Estados Unidos e nalgumas regiões da Alemanha. Desde 2015 que estamos a trabalhar para que todas as crianças dos 6 aos 12 anos tenham acesso à programação, não numa ótica de serem programadores mas para o pensamento lógico e competências técnicas que vão ser sem dúvida necessárias para os seus futuros. A nossa plataforma ubbu tem atualmente 50 mil alunos, estamos em 10 países e esperamos conseguir cobrir grande parte do mundo com os parceiros Microsoft, jp.ik e Fundación Telefónica.