Opinião

A atenção médica dos cidadãos da Índia

Eugénio Viassa Monteiro, professor da AESE-Business School

Os países ricos, quando veem necessidades pontuais de médicos ou paramédicos, quase sem esforço de preparação fina dos seus recursos humanos, resolvem-nas dando mais vistos de trabalho aos profissionais que necessitam, em geral do Terceiro Mundo. Assim cobrem a sua lacuna existente noutros países.

Parece interessante, mas não passa de uma profunda injustiça e prova de egoísmo dos países ricos, afundando ainda mais os países pobres, depois de os terem explorado na sua colonização. Pensando com serenidade, as grandes fontes de pobreza e miséria no nosso mundo vêm das fortes tempestades sociais e económicas criadas pelos países colonizadores nos países que iam gradualmente dominando e explorando. Possuíam armas poderosas e também uma maior coesão, em parte fortalecida pelo passado de pirataria, que faltava muito aos pacíficos países dominados.

Com a ocupação, aprovaram um conjunto de leis votadas nos seus parlamentos, para lhes dar aparência de legalidade, ou de democraticidade, como hoje se faz com o aborto ou a eutanásia, esquecendo-se que os representantes do povo não podem pronunciar-se sobre o direito à vida, que é inalienável. Mais: eles reduziram os colonizados à escravidão, com argumentos sem sentido, como a cor da pele ou outros, que apenas serviam para serem ainda mais explorados. Esta loucura da escravatura organizada, com tráfico para outros continentes terá sido uma das mais abjetas da história da humanidade, com consequências difíceis de ultrapassar, para os países que a sofreram, dada a sua profunda penetração e a desorganização social daí resultante.

E a exploração continua hoje sob aparências mais sofisticados: os trabalhadores intelectuais, sentem grande atrativo para sair do seu país, onde reina a desorganização, própria dos países colonizados. Eles podem trabalhar melhor e render mais num país desenvolvido… e organizado. E, assim, logo ao apresentar-se a possibilidade, os candidatos aparecem sem demora.

Os países desenvolvidos deveriam pensar no que lhes custa formar os profissionais que vão chamando, com resposta imediata. Fossem eles a formar, para além dos custos diretos da sua formação, haveria que esperar ainda 6 ou 7 anos para ter médicos e engenheiros aptos para o exercício profissional.

Seria de toda a justiça que todo o custo acumulado da formação dos profissionais que foram atraídos pudesse ser revertido para o país pobre donde provieram os  médicos ou engenheiros, para apoiar o sistema educativo onde foram roubar o profissional pronto para o trabalho.

Esta longa introdução vem a propósito de que a Índia tem atualmente 706 Medical Colleges, que oferecem cursos de Medicina em full-time  Eles incluem 386 Colleges Estatais, 320 Colleges privados e 8 num misto de privados e estatais. O número total de vagas para o curso de Medicina naquelas Faculdades é aproximadamente de 108,915 por ano,  após um exame de seleção uniforme e rigoroso para todos os candidatos.

É necessário um número tão elevado de médicos na Índia? Sim, porque a OMS preconiza no mínimo um médico por 1.000 habitantes e o País está a esforçar-se por corresponder, tendo até à data um pouco menos do que o valor desejado. Além disso, os médicos da Índia estão em quase todos os países de língua inglesa, onde se adaptam com a maior facilidade. Na verdade, a Índia trata de formar médicos para as suas necessidades internas e para complementar as necessidades dos outros países ricos, como: os EUA, o Reino Unido, a Austrália, o Canadá, a Nova-Zelandia, entre outros.

Em 2024, os EUA tinham 109,460 médicos profissionalmente ativos. Desses, cerca de 59,000 são médicos da Índia, representando cerca de 22% de todos os médicos imigrantes. Isto mostra como a Índia é uma fonte significativa de Médicos Internacionais Graduados (IMG) para os EUA.  De acordo com a World Health Organization (WHO), os médicos formados na Índia constituem 9% de todos os médicos registados no Reino Unido e formam o maior grupo de médicos formados no estrangeiro. De acordo com uma associação de médicos de origem indiana, há mais de 50.000 médicos que servem metade da população do Reino Unido. Na Austrália, em cada cinco médicos, um é indiano. No Canadá é na razão de um para cada dez.

Todas essas solicitações levaram a aumentar drasticamente o número de Faculdades de Medicina na Índia. Havia 335 Medical Colleges, 181 privados e 154 do Estado, por volta de 2010. Hoje, mais do que duplicaram, em menos de 15 anos!

Importa que o aumento de Faculdades vá acompanhado de uma boa qualidade de ensino teórico e de práticas hospitalares de qualidade, como estão estipuladas, para que os médicos prestem um serviço de valor elevado.

Nunca ninguém está formado na perfeição e, ao longo d a vida, um médico vai aprendendo da sua reflexão, das leituras que faz e também da troca de impressões com os seus colegas mais experimentados e sabedores. Essa sim é uma boa fonte de aperfeiçoamento no exercício profissional.

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Eugénio Viassa Monteiro

Eugénio Viassa Monteiro

Eugénio Viassa Monteiro, cofundador e professor da AESE, é Visiting Professor da IESE-Universidad de Navarra, Espanha, do Instituto Internacional San Telmo, Seville, Espanha, e do Instituto Internacional Bravo Murillo, Ilhas Canárias, Espanha. É autor do livro “O Despertar da India”, publicado em português, espanhol e inglês. Foi diretor-geral e vice-presidente da AESE (1980 – 1997), onde teve diversas responsabilidades. Foi presidente da AAPI-Associação de Amizade Portugal-India e faz parte da atual administração. É editor do ‘Newsletter’ sobre temas da Índia,... Ler Mais..

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