Opinião
A Alegria do Sim

“Maria levantou-se e partiu apressadamente”. Este foi o lema da Jornada Mundial da Juventude, que se realizou em Lisboa em agosto, de que tanto (e bem) já se falou. Este levantar e partir apressadamente tem subjacente o “Sim” incondicional de Maria.
E nós? Estamos incondicionalmente disponíveis para dizer “Sim”? É-nos mais fácil dizer “Sim” em vez de “Não”? O que nos trazem os nossos “Sim”? E os nossos “Não”?
Tenho observado em contexto organizacional, e não só, que o “Não” prevalece frequentemente sobre o “Sim”. É frequente ouvirmos nas nossas organizações expressões como: “agora não posso”; “desculpa, mas não consigo”; “esse assunto não está comigo”; “hoje não tenho tempo”; “não sei do que se trata” e poderia continuar a dar exemplos e mais exemplos… Sempre que dizemos estes “Não” é uma porta que fechamos a um colega que precisa de ajuda, é uma mão que não se abre para acolher, é uma disponibilidade, um conhecimento, uma experiência, um conselho, uma opinião que não partilhamos. Sempre que dizemos estes “Não” fechamo-nos nos nossos egoísmos, nas nossas fragilidades, nos nossos medos.
O “Não” constrói muros que nos afastam dos outros e que nos impedem de crescer. Se não estou disponível para ajudar um colega, para ser flexível na marcação de uma reunião, para ter tempo para ouvir e procurar ajudar ou para dar o meu melhor para encontrar uma solução, estou a contribuir para ambientes menos colaborativos, mais autocentrados em que o “eu” prevalece sobre o “nós”. Sendo as organizações, pela sua própria natureza, pessoas coletivas o “Não” cria entropias, atrasos, conflitos, mal-entendidos e, por isso, deveria ser evitado, sempre que possível.
O “Não” traz normalmente associado consigo o “nada”, o “nunca”, o “nenhum”, o “negativo”.
O “Sim” traz o “de acordo”, o “está bem”, o “com certeza”, a “aprovação”, a “anuência” e o “consentimento”.
Parece-me, pois, que pessoas e organizações têm que apostar mais no “Sim”. Quando digo “Sim” estou a abrir oportunidades para mim e para os outros. O meu “Sim”, mesmo que por vezes implique mais trabalho e alteração de planos, permite-me sair de mim próprio e colocar-me ao serviço do outro. Quando o faço, ganho sempre. Posso não receber o “obrigado” que esperava ou ser penalizado porque deixei de cumprir um prazo porque fui ajudar alguém, mas ganho a alegria de ter ajudado, de ter partilhado a minha experiência e de ter contribuído para a resolução de um problema.
Uma cultura do “Sim” cria ambientes mais colaborativos em que as pessoas se sentem mais seguras não só para falar, dar opiniões e partilhar experiências, mas também para falhar e não ter medo de errar. Vários estudos apontam para os efeitos positivos que ambientes psicologicamente seguros têm nas organizações: mais produtividade, mais transparência, mais colaboração, compromisso e motivação, mais capacidade para atrair e reter talentos, mais inovação, entre outros.
Parece-me, pois, claro os benefícios do “Sim”. Está na altura de deixarmos de lado os nossos “Não”, comodistas e egoístas, para passarmos a dizer mais vezes os nossos “Sim” que nos ajudam a crescer e podem fazer a diferença nas organizações onde trabalhamos e nas vidas com que nos cruzamos.
Da minha parte, sei que terei que continuar a dizer, por vezes, “Não”, mas também sei que quero, sobretudo, continuar a levantar-me e sair apressadamente para dizer “Sim”.