Três formas de integrar os direitos humanos na resiliência das empresas

Nem só de negócios se faz uma empresa. Adotar boas práticas empresariais e princípios éticos e de respeito pelos direitos humanos também devem fazer parte da equação. Veja alguns exemplos.

Os Princípios Oientadores das Nações Unidas sobre Negócios e Direitos Humanos há vários anos que têm servido de base para a estratégia das empresas e governos que procuram aumentar a resiliência dos negócios face às perturbações que vão enfrentando ao longo do seu percurso e, ao mesmo tempo, assumirem um papel social mais ativo.

O World Economic Forum (WEF) analisou esta realidade e compilou três exemplos de como se podem integrar os princípios dos direitos humanos com a resiliência empresarial, e de como as políticas em matéria de direitos humanos devem ser plenamente integradas em modelos de negócio, em vez de dependerem apenas de equipas de direitos humanos ou da liderança.

Estabelecer normas que podem servir de exemplo
O banco holandês ABN AMRO reviu as suas práticas de concessão de empréstimos a produtores indonésios de óleo de palma, depois de serem divulgadas mundialmente, na comunicação social, as más condições de trabalho das plantações.

Desta forma, e de modo a criar incentivos para que os produtores indonésios melhorem as condições de trabalho, o ABN AMRO condicionou a atribuição de empréstimos e exigiu que os estes apresentassem relatórios sobre os progressos feitos na melhoria das práticas laborais.

Por outro lado, também atribuiu incentivos como, por exemplo, a atribuição de melhores taxas de juro. Com estas medidas e esta estratégia, a ABN AMRO conseguiu efetivamente provocar alterações comportamentais nos seus clientes ligados à indústria do óleo de palma. Implementou um sistema condicional de empréstimos que poderia ser replicado por outras entidades bancárias.

Intervir nos direitos humanos das cadeias de abastecimento
A Trafigura, uma empresa suíça de mercadorias, reviu as suas práticas comerciais para com a República Democrática do Congo (RDC), no que toca à mineração artesanal de cobalto, para que este processo abordasse os desafios dos direitos humanos. Neste setor, os mineiros recorriam a ferramentas muitas incipientes bem como às suas próprias mãos para extrair o minério, uma atividade que na RDC é uma parte integrante da cadeia de fornecimento de cobalto e uma tábua de salvação para milhões de pessoas.

A intervenção da Trafigura passou por criar um acordo exclusivo de aquisição com a empresa de exploração de minas, usando a sua influência para ajudar a integrar esta atividade mineira informal na concessão industrial.  Desta forma, as normas para as condições de trabalho eram estabelecidas e aplicadas pela Trafigura, pela empresa de exploração de minas e por uma ONG para garantir condições de trabalho seguras para os mineiros artesanais. Neste caso, com a sua atuação, a Trafigura conseguiu resolver duas preocupações importantes em relação aos direitos humanos naquele país: a segurança das minas e o trabalho infantil.

Integrar os direitos humanos internamente
À medida que as big tech enfrentam a queda dos seus ganhos e cada vez mais reformulam as equipas, é importante garantir que os utilizadores mais vulneráveis sejam protegidos. Veja-se o exemplo de empresas que recorrerem a relatórios e métricas regulares em matéria de direitos humanos e que construíram uma abordagem coerente no sentido de integrar no seu seio os direitos humanos de acordo com os princípios orientadores das Nações Unidas.

É o caso da Microsoft que tem comparado o desempenho dos colaboradores (em particular as equipas de produtos e de engenharia) na proteção das populações vulneráveis, um comportamento empresarial que abre um precedente de longo termo para defender e respeitar os direitos humanos.

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