Mais mulheres no digital? Adecco sugere 4 dicas.

A União Europeia quer liderar o caminho da transição digital, mas há quem alerte para o facto de a digitalização estar a acentuar os problemas de discriminação da idade e de género. A Adecco sugere quatro dicas para evitar que as mulheres se sintam excluídas deste processo.
Mais de metade da população portuguesa é constituída por mulheres. Elas já são 60% dos diplomados, mas continuam a dominar nas áreas tradicionalmente femininas da Educação, Saúde e Apoio Social. A percentagem de raparigas que escolhe nas áreas das ciências, engenharias e TIC’s (Tecnologias de Informação e Comunicação) – profissionalmente mais competitivas e melhor remuneradas – continua a ser muito baixa. Outro dado relevante é que, apesar do número de licenciados nas TIC´s ter duplicado, a percentagem de mulheres baixou de 26 para 21%.
Além disso, a pandemia agudizou ainda mais as desigualdades entre homens e mulheres. Um estudo do Grupo Adecco concluiu que homens e mulheres experienciaram a pandemia de forma distinta e foram as mulheres que mais sentiram na pele as consequências: mais mulheres a sentir-se em burnout (39% vs 36%); a referirem que o seu bem-estar mental declinou (34% vs 29%) e que ansiavam regressar ao escritório (46% vs 38%).
Um outro estudo também da Adecco aponta que cerca de 28% do universo de quase 580 mulheres inquiridas dizem ser cuidadoras. A distribuição do tempo dedicado aos cuidados de outros é a variável que melhor explica o facto de esta responsabilidade ser um dos obstáculos à progressão da carreira: ultrapassa as 21 horas semanais para 42% das inquiridas com filhos menores e para 34% das cuidadoras.
O inquérito conclui ainda que 1 em cada 4 homens tem dificuldade em aceitar uma liderança feminina: 46% refere serem ainda menos ouvidas do que os seus pares masculinos.
Como se pode, então, evitar que as mulheres se sintam excluídas do processo de mudança para o digital? A Adecco Portugal propõe quatro formas.
Primeiro, há que definir modelos a seguir de forma a mobilizar as jovens para estudar tecnologia. Por mais superficial que possa parecer, é importante que o mundo da ficção possa alavancar uma revolução cultural. “Se pensarmos que a arte imita a vida, podemos afirmar que a igualdade e inclusão de géneros pode começar com a arte e ficção: há muitas mulheres cientistas que o são porque seguiram exemplos de outras cientistas ou de personagens fictícias, como Abby Scuito, da série Investigação Criminal Los Angeles”, explica a consultora. A astronauta Mae Jemison, a primeira mulher afroamericana a ir ao espaço através do programa especial dos Estados Unidos, já reconheceu ter sido inspirada pela atriz Michelle Nichols, na série Star Trek, exemplifica.
Segundo, os governos têm de acelerar a ação regulatória relativamente à discriminação salarial, solicitando, por exemplo, às empresas que comprovem que existe igualdade salarial por trabalho de igual valor. Os governos devem ainda investir na prestação de cuidados, para promover o regresso das mulheres ao mercado de trabalho e priorizar as mulheres em programas de upskilling e reskilling.
A discriminação positiva é necessária. Se continuarmos à mesma velocidade, a igualdade de géneros vai chegar dentro de 267 anos (Closing the Gender Gap | World Economic Forum), reforça a Adecco.
Terceiro, tem de se pensar em formas de proporcionar formação digital adequada à vida das mulheres. Os podcasts são um exemplo. Para muitas mulheres, estes são uma oportunidade de absorver informação enquanto se ocupam de tarefas diárias, sugere a consultora.
Muitas mulheres estão afastadas das profissões digitais porque pressupõem que estas são funções onde se trabalha de forma isolada em frente a um computador, o que nem sempre corresponde à realidade. Muitas envolvem uma série de outras competências.
Por último, a Adecco refere que os homens têm de se questionar sobre como podem contribuir para trazer mais mulheres ao mercado de trabalho. Veja-se o caso da luta pelos direitos civis dos anos 60 – que envolveu inicialmente a luta de pessoas negras pelos seus próprios direitos – e o movimento Black Lives Matter, que se estendeu a outras áreas da sociedade e as levou a reconhecer a sua própria necessidade de mudar.
“Ser um patrocinador é mais do que ser um aliado. Um patrocinador é alguém que fala (bem) de si quando não está presente na sala. As mulheres fazem isto por outras mulheres e os homens também o podem fazer”, conclui a Adecco.