Opinião
Rápido ou Ágil?
Rápido: veloz, ligeiro, instantâneo. Ágil: que se move de forma célere e fácil. Então qual deve ser a abordagem num mundo como o atual onde tudo muda a cada ano e se transforma a cada minuto? Fácil. Ambos.
Aos mais familiarizados com o mundo digital do software as seguintes expressões não serão certamente desconhecidas. A primeira, tanto quanto julgo saber, foi bastante popularizada por Sheryl Sandberg, a COO da META (ex-Facebook inc.) e que desde há muitos anos a repete insistentemente: “Better Done than Perfect”, com isto referindo-se às populares releases no Facebook que todas as terças-feiras eram aplicadas, trazendo novidades por vezes pequenas e noutras vezes dramáticas – do algoritmo do feed a novas funcionalidades no chat, botões de feedback, etc. Quando corria bem, ficava. Quando não resultavam em boa adesão pelos utilizadores, no final da semana eram anuladas e revertidas.
A segunda, menos do mundo do software das redes sociais e mais ligado ao software de produtividade, território nos anos 90 da Microsoft, dá pelo nome de R.E.R.O., acrónimo para “Release Early, Release Often”. Ou seja, impregnado do mesmo espírito de que estruturas piramidais na cadeia de desenvolvimento de software nunca vão conseguir fazer chegar a tempo ao mercado as novidades e melhorias do sistema… para além de que impregnarão de custos avultados todo o processo.
Ambas as expressões nos dizem e defendem o mesmo: a busca pela certeza absoluta é inglória, levando a perdas de tempo que nos negócios podem ser trágicas.
Nem mesmo o apregoado génio de Steve Jobs se deixava levar pela certeza absoluta; ao invés, a sua personalidade guiava-se por instintos (de mercado, por um lado, e estéticos, por outro, a par da sua personalidade algo ditatorial) e com ampla margem para melhoria. Veja-se o caso do iPhone. Quem julgar que o que usamos hoje era a ideia da Apple (e de Jobs) em 2007 estará muito enganado. Aliás, basta pensar nos quase três parcos anos de desenvolvimento; era impossível pensar (quanto mais desenvolver) um sistema como hoje o conhecemos. Na sua essência, o iPhone era a ideia de um iPod onde também podíamos fazer chamadas e trocar mensagens, mas onde o real diferenciador (as apps, sobretudo as de terceiros) nem sequer tinha sido ponderado (aliás, Jobs terá mesmo dito que jamais isso poderia ser feito, por receio de ter código de terceiros na plataforma, desse modo julgando o iPhone apenas para apps da Apple, como o iTunes e pouco mais..). Mas o iPhone veio para o mercado e a dinâmica e aceitação do mesmo fez com que a Apple revisse boa parte das ideias, adaptando-as rapidamente.
Também nas nossas empresas por vezes nos damos conta de planos de negócios detalhados e ponderados à exaustão durante meses ou anos. E corretamente, dado os avultados riscos e investimentos. Mas para as melhorias incrementais o mesmo princípio não deve ser a bitola para que ao fim de um ano se consiga a fidelização dos clientes. Nesses casos devemos adotar uma abordagem mais R.E.R.O., de consecutivas pequenas melhorias, com avaliação uma a uma do seu impacto, afinações rápidas semana a semana, para garantir que 52 semanas depois estamos melhor no serviço do que um ano antes.
Este equilíbrio não sendo fácil é, contudo, precioso. A adoção destas correntes de ideação, com feedback, reflexão, afinação, desenvolvimento, publicação e de novo feedback, são a razão muitas vezes incompreensível porque muitas start-ups correm à frente das grandes e lendárias empresas sedimentadas. Mas isso é fácil, ser novo e rápido. O difícil é mesmo manter-se jovem. Rápido. E ágil.








