Entrevista/ “O setor das IT continuará a ser um dos mais atrativos para trabalhar”

Fernando Rodrigues, Managing Director na Axians Portugal

“O setor do digital e das tecnologias da informação é, em Portugal como no contexto internacional, um dos setores mais atrativos, mas ao mesmo tempo o que revela uma enorme escassez de talento especializado, perante a notória competitividade global”, afirmou Fernando Rodrigues, Managing Director na Axians Portugal, no mês em que a tecnológica celebra o seu 5º aniversário.

A Axians continua empenhada em reforçar as suas equipas em Portugal. Ainda no ano passado, em plena fase de pandemia da Covid-19, a empresa abriu 200 vagas para integrarem as equipas de Lisboa, Porto e Castelo Branco.  Além da contratação de talento, a marca do grupo VINCI Energies tem apostado também na requalificação e formação no setor das IT, tentando combater o problema da falta de mão de obra qualificada na indústria tecnológica.

Um exemplo disso é o programa UpSkill, do qual a Axians é cofundadora, juntamente com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC) e o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP). E mais recentemente a parceria que a estabeleceu com a escola de programação 42 Lisboa.

No mês em que celebra o seu 5º aniversário, falámos com Fernando Rodrigues, Managing Director na Axians Portugal, sobre a aposta da empresa na procura de talento e na promoção das carreiras no setor das IT, e sobre os projetos para o futuro.

O que tem a Axians previsto para este ano quer na procura de talento, quer na promoção das carreiras no setor das TI?
O nosso posicionamento está desde sempre agarrado à ideia de um “indelével toque humano”. Mais do que uma assinatura – “with a human touch” –, acentuamos desde a primeira hora a nossa identidade humanista, baseada em valores humanos fundamentais que herdamos da VINCI Energies. Somos tecnológicos, mas somos primordialmente próximos, relacionais e preocupados com o impacto do que fazemos, individual e coletivamente, interna e externamente. É assim que vemos o nosso trabalho reconhecido junto dos clientes, dos parceiros e dos colaboradores.

Temos uma estratégia ativa de programas com o objetivo de recrutar profissionais para o setor das tecnologias da informação, que é hoje um dos mais atrativos, e capacitá-los para carreiras ativas, positivas e geradoras de conhecimento, que promovam um desenvolvimento sustentável. A fonte universitária nacional – mesmo complementada pelos politécnicos – é crítica, mas infelizmente insuficiente para a procura no setor. A 42 Lisboa é um caso recente – justificado pelo modelo de ensino próximo dos valores da Axians. Já o programa UPskill, do qual somos empresa “co-fundadora” é também um  bom exemplo de como procuramos alargar o horizonte, no acesso ao talento nacional e à sua promoção. Estas apostas vão certamente continuar e estaremos atentos a outras parcerias, em particular às que sejam próximas da nossa ambição e cultura.

“Com orgulho podemos dizer que somos dos melhores e isso está patente na procura do nosso país por parte de empresas do setor do digital e das TI vindas de fora”.

E o que podemos continuar a esperar da Axians para este ano para aceder a talento altamente especializado?
Sendo o talento um dos nossos argumentos críticos de posicionamento, será inevitavelmente um eixo estratégico de aposta continuada. Para além da nossa proximidade com algumas escolas de referência – de engenharia e gestão, principalmente – e do leque de parcerias mencionadas, devo relembrar a nossa programação interna permanente de formação ou requalificação. Relembro a Axians Academy que arrancou em plena pandemia e que se revelou um pleno sucesso, enquanto experiência imersiva de aceleração formativa para recém-licenciados. E ainda a participação em programas diferenciados em algumas tecnologias (ex. SAP).

O setor do digital e das tecnologias da informação é, em Portugal como no contexto internacional, um dos setores mais atrativos, mas ao mesmo tempo dos que revela uma enorme escassez de talento especializado, perante a notória competitividade global. Com orgulho podemos dizer que somos dos melhores e isso está patente na procura do nosso país por parte de empresas do setor do digital e das TI vindas de fora.

 Na Axians quais critérios basilares utilizados para o recrutamento de talento?
A pandemia obrigou a uma mudança drástica nos processos de recrutamento e também no modelo de trabalho. O mercado tornou-se global e hoje lidamos com uma equipa que trabalha remotamente a partir de diferentes geografias e com backgrounds muito diferentes que pedem mais agilidade, tolerância e capacidade de descoberta. Diria que a base da captação e da retenção de talento se mantém a mesma que define a Axians e que consubstancia um forte employee value proposition: implementação de um modelo de trabalho flexível e outras práticas que estimulem o bem-estar; criação de uma cultura de experimentação, com foco em colaboração, partilha e entreajuda; práticas de desenvolvimento de pessoas com planos de desenvolvimento individual que estimulem o crescimento diário, não só técnico, mas também emocional; gestão do desempenho e do desenvolvimento com base no feedback contínuo; programa de mentoring como acelerador do crescimento; investimento contínuo na formação de líderes para uma liderança de proximidade e focada no crescimento das pessoas; implementação de um processo de recrutamento remoto que permita demonstrar mais da cultura da organização; aposta em upskilling; surveys recorrentes de clima organizacional; e, criação de dinâmicas de convívio remotas.

Mas a montante importa destacar, como fatores críticos de recrutamento, a identificação mútua com a cultura humanista dominante baseada num conjunto de valores muito concretos. A autonomia, o empreendedorismo, a responsabilidade, a solidariedade e a confiança, são comportamentos observados no dia a dia e até mesmo objeto de avaliação 360º no nosso modelo de gestão de desempenho. Esta é a base do sucesso do nosso maior valor: as pessoas.

Como tem a Axians procurado combater o atual problema da falta de mão-de-obra qualificada na indústria tecnológica?
A Axians é formada por uma rede de 25 países com cerca de 12 mil colaboradores. A operação portuguesa, que se estende a outras geografias como Angola, Moçambique, Luxemburgo ou Qatar, acolhe hoje cerca de 26 nacionalidades por força desta pressão sobre o talento, globalização do mesmo e remotização – total ou parcial – de algumas funções. Apesar da procura pelo talento nacional, a nossa dimensão internacional permite-nos também encontrar competências especializadas além-fronteiras, originárias de outras geografias.

Não devemos por isso menosprezar os argumentos que Portugal tem sabido encontrar na atração de talento e no negócio digital. A transformação digital é um dos pilares da recuperação económica do país e é imprescindível captar, reter e desenvolver mão de obra qualificada – ou requalificada – através dos argumentos ao nosso alcance.

“A escassez de talento feminino no setor tecnológico ainda é muito grande e através dos programas que realizamos verificamos que a escolha por esta área está na sua maioria ainda muito ligada ao género masculino”.

 Na área das tecnologias continua a haver falta de talento feminino. O que ainda é preciso fazer para mudar esta realidade?
A escassez de talento feminino no setor tecnológico ainda é muito grande e através dos programas que realizamos verificamos que a escolha por esta área está na sua maioria ainda muito ligada ao género masculino. É, de facto, importante mudar a mentalidade e a realidade junto das jovens e mostrar que a área das tecnologias é igualmente interessante e com ótimas perspetivas de futuro e que poderá ser um contributo importante para a transformação digital em curso.

E porque acreditamos neste propósito temos em prática algumas parcerias de promoção do talento feminino no setor. Destaco a nossa proximidade à Professional Women’s Network ou à Geek Girls Portugal, e ainda o voluntarismo da nossa própria comunidade feminina nessa promoção.

Além da contratação de talento, a Axians tem apostado também na requalificação e formação. Qual a estratégia para este ano?
A Axians investe no ambiente cultural positivo e de base humana, sentido de propósito organizacional, potencial de desenvolvimento profissional, dinâmica formativa, reconhecimento, espaço de inovação, equilíbrio entre esfera pessoal e profissional, respeito pela diferença/diversidade, lideranças que inspirem confiança, entre outros argumentos. Estes são aspetos essenciais para que os colaboradores vivam em pleno a sua experiência profissional numa organização. Para este e próximos anos, a Axians visa promover o espírito empreendedor, da solidariedade e, acima de tudo, da confiança que sobressaem em tudo o que fazemos, e completam a fórmula de crescimento da empresa.

Como encara a Axians a transformação digital?
Todo este processo de crescimento acelerado no setor juntamente com a velocidade exponencial de transformação digital a que o mundo tem assistido, quer ao nível das infraestruturas, mas também dos processos e da formação dos colaboradores, tem atestado os pontos fortes da nossa cultura. Temos afinal o privilégio de ter um papel particularmente relevante no desenvolvimento da tão aclamada sociedade digital. Importa, porém, sublinhar a criticidade deste setor para o atual momento de Portugal. Há muito trabalho e mérito no desenvolvimento das últimas décadas, mas o mundo e a sociedade pedem definitivamente mais e melhor em setores críticos. Este sentido de missão e de propósito maior estão bem presentes na nossa atividade.

Tem sido fácil apoiar a transformação digital dos vossos clientes num contexto de pandemia, de incertezas e com mudanças tão aceleradas?
Os resultados do negócio e a qualidade da relação com os clientes e com as nossas pessoas são em grande parte reflexo da nossa maneira de estar. Inspira-nos o sonho e a mudança, mas muito mais aquilo que fazemos todos os dias, independentemente da escala ou setor. Costumamos dizer que somos sonhadores. Transformamos negócios, transformando pessoas. Mesmo em contexto de pandemia, registámos indicadores muito positivos, seja do ponto de vista de resultados, retenção/satisfação de clientes, retenção/satisfação de colaboradores e continuidade de projetos.

O virar de página para a nossa economia, de olhos postos no “pós-pandemia”, passa pela adoção acelerada de uma combinação perfeita entre a transformação digital e a transição energética, e está na nossa agenda. E tendo sempre no horizonte uma perspetiva de sustentabilidade económica, social e ambiental, para o nosso país e geografias em que operamos. Temos de ter cada vez mais presente o nosso propósito, na criação de valor de longo prazo, e ser consequentes com os nossos valores. Acredito que, enquanto célula empreendedora num ambiente privado privilegiado, precisamos de fazer a nossa parte pelo todo. Acredito que isso se destaca cada vez mais quando expostos ao olhar criterioso de quem nos “escolhe” para desenvolver a sua carreira ou transformar o seu negócio. Queremos mesmo fazer acontecer essa transformação, gerando valor de longo prazo para todos os stakeholders e sociedade em geral, com o tal indelével toque humano.

“Apesar da posição de liderança que temos em diversas categorias em que atuamos, continuamos a procurar oportunidades de crescimento externo e acreditamos que em Portugal existe ainda um espaço para crescermos nessa dimensão”.

Quais os grandes objetivos da Axian para este ano?
O principal objetivo passa por continuar a construir um projeto empresarial em Portugal, e daqui para o mundo, levando a tecnologia e o conhecimento português, através da nossa rede, a geografias onde o grupo está presente. Apesar da posição de liderança que temos em diversas categorias em que atuamos, continuamos a procurar oportunidades de crescimento externo e acreditamos que em Portugal existe ainda um espaço para crescermos nessa dimensão. O desenvolvimento orgânico será natural e continuará a tendência de crescimento acentuado que verificámos em 2021.

Que tendências antevê para a vossa área de negócio?
Acredito que o processo de transformação digital das organizações irá manter um ritmo acelerado. A incorporação de novas tecnologias (Inteligência Artifical, Deep e Machine Learning, etc) irá também acentuar-se e, com isso, manter também uma mudança no mercado de trabalho. A tendência para a escassez de talento, em particular em áreas de conhecimento especializado, irá manter-se. O setor das IT continuará a ser um dos mais atrativos para trabalhar e continuará a atrair o interesse de pessoas vindas de outros setores, aumentando a pressão para modelos de upskilling e reskilling, nos quais continuaremos a apostar.

Estando agora a celebrar o 5º aniversário da marca em Portugal, como avalia os desafios que assumiu na Axians Portugal?
Somos sempre maus juízes em causa própria. As pessoas que trabalham comigo todos os dias estarão numa melhor posição para fazer essa avaliação, mas sinto-me bem com o que conseguimos atingir nestes cinco anos. Eramos menos de 400 pessoas em Janeiro 2017 e em Janeiro de 2022 somos já mais de 1200. Tem sido uma viagem fantástica e que ainda está no seu início. Conseguimos fazer de Portugal uma referência no grupo VINCI, quer ao nível da capacidade operacional, do conhecimento tecnológico, da dinâmica inovadora, mas também em temas relacionados com segurança mental e bem-estar, que estão hoje em lugar cimeiro nos processos de segurança definidos globalmente.

“Costumamos dizer que jogamos um jogo infinito ou, de outra maneira, que uma empresa é um projeto permanentemente inacabado, no sentido em que está em permanente construção”.

Como gostaria de ver a empresa daqui a um ano?
Numa frase, gostaria de ver uma empresa melhor para o mundo. Acredito profundamente na avaliação de performance baseada nos três pilares de valor essenciais: económico, ambiental e social. Costumamos dizer que jogamos um jogo infinito ou, de outra maneira, que uma empresa é um projeto permanentemente inacabado, no sentido em que está em permanente construção. O grande desafio é que essa construção tenha sempre uma dinâmica positiva, alinhado com o nosso propósito e com os nossos valores. E a consistência entre o que afirmamos, entre aquilo em que acreditamos, e depois as ações nas operações do dia a dia, com o necessário equilíbrio nas decisões a que somos chamados, olhando para os impactos no curto-prazo, com o que definimos para o longo prazo.

O que ainda gostaria de fazer e não teve oportunidade na Axians?
Há uma afirmação atribuída a Johann Von Goethe que me acompanha desde a adolescência e que me inspira: “Tudo aquilo que puderes fazer ou sonhar, fá-lo ou sonha-o. O atrevimento é uma súmula de génio, força e magia.” Provavelmente ainda irei sonhar sobre o que gostaria de fazer e ainda não fiz na Axians e na VINCI Energies, e depois, provavelmente, irei fazê-lo. A filosofia de gestão no nosso grupo, com uma base “multilocal”, com uma matriz de valores assente em empreendedorismo e autonomia, faz com que as decisões relevantes para concretizarmos o nosso propósito são da responsabilidade de quem está à frente dos negócios. Revejo-me nessa cultura e forma de estar, pois sinto que o que faço tem um impacto concreto nos resultados que conseguimos atingir, sempre nas três dimensões que avaliamos: económica, ambiental e social.

Respostas rápidas:
O maior risco:
agravamento da crise sanitária que vivemos e o impacto na saúde de quem nos rodeia.
O maior erro: ir além dos limites e pensar que tudo se aguenta.
A maior lição: que o amor incondicional é uma realidade, quando vi o meu filho pela primeira vez.
A maior conquista: ainda está para vir.

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