O espanhol que ajuda as start-ups do espaço a conseguir dinheiro para descolar

O jovem espanhol Izan Peris fundou a Disrupt Space com a missão de pôr em contacto empreendedores espaciais e investidores.

Enquanto a NASA trabalha para levar uma nave a Marte antes de 2033 e a SpaceX, com Elon Musk, prevê chegar à Lua em 2018 com turistas incluídos, muitos outros empreendedores dão pequenos passos para contribuir para a exploração e a economia espacial. Sem dúvida, conseguir financiamento não é uma tarefa fácil. Por isso, através da sua plataforma Disrupt Space, o espanhol Izan Peris trabalha para pôr em contacto as pessoas com ideias e as pessoas com recursos, de forma a tornar os projetos em realidade.

As muitas ‘start-ups’ que se querem juntar à prometedora economia do espaço, enfrentam uma série de problemas na hora de encontrar investidores que confiem nas suas iniciativas. Decidido a mudar esta situação e a criar oportunidades para as pessoas com talento, o espanhol Izan Peris fundou há um ano e meio a Disrupt Space, uma plataforma que põe em contacto ‘start-ups’ e empreendedores do setor aeroespacial, com investidores e executivos de agências espaciais e multinacionais.

“A Disrupt Space nasce um pouco da frustração de muitos companheiros na Europa, que tinham muitas ideias, mas aos quais faltavam recursos para poder lançar estes projetos”, explica este engenheiro aeroespacial que passou pelos Estados Unidos e a Alemanha, e que contou com o apoio de Magni Johannsson e Philippe Cyr para pôr a iniciativa em marcha. “Então começámos a fazer alguns eventos e a pôr em contacto pessoas com ideias e pessoas com recursos: empresas estabelecidas, investimento privado e também recursos públicos”, enumera, citado pelo site El Diario.

Quando foi lançada, a Disrupt Space era muito diferente da grande comunidade que é hoje. Com efeito, a primeira iniciativa que organizaram foi um pequeno encontro de um fim de semana, tendo conseguido impulsionar vários empreendedores que estavam a começar e que procuravam assessoria e alguma ajuda para aceder aos recursos necessários.

“Das equipas desse primeiro evento que fizemos há quase dois anos, hoje restam quatro empresas que estão em atividade”, explica Peris. A Valispace, que comercializa um ‘software’ para desenhar desde satélites até foguetões de forma colaborativa, e a Satsearch, um motor de busca para a indústria espacial, são duas delas.

“Começou assim e temos evoluído até aos últimos eventos que fizemos. No último, há duas semanas em Berlim, tivemos 300 pessoas, 50‘start-ups e mais de 20 fundos de investimento só para o setor espacial”, relata orgulhoso Peris, referindo-se à última edição da Disrupt Space.

“Muitos dos empreendedores com experiência e dos investidores que vinham dos Estados Unidos ficaram surpreendidos com a qualidade e o nível dos empreendedores europeus do setor”, destaca. “Há que reconhecer o mérito da Europa, porque não estamos na retaguarda, nem muito menos”, frisa.

A dificuldade para atrair investidores

Um dos maiores problemas do setor aeroespacial relaciona-se com o facto de os investidores procurarem o maior retorno no menor tempo possível. Contudo, muitas tecnologias espaciais, especialmente na parte de ‘hardware’, necessitam de bastante mais tempo para se desenvolverem, ao contrário do que acontece com uma aplicação móvel.

“Nós engenheiros somos especialistas em transformar o dinheiro em tecnologia, mas o que procuram os investidores é pessoas que saibam transformar o dinheiro em muito mais dinheiro, multiplicá-lo como os pães e os peixes”, explica Peris. “Um investidor típico procura ter o seu dinheiro de volta em três a cinco anos. E quando estás a falar de tecnologias que vão muito além do nível físico, mas que tens que as enviar para o espaço, podes demorar em média uns dez ou doze anos. É muito maior o tempo de espera e a paciência é limitada”, lamenta.

No entanto, como destaca este engenheiro aeroespacial, o retorno que se pode obter nas empresas espaciais, a médio ou longo prazo, é muito maior, pois investir em tecnologia espacial não envolve só um benefício económico direto, mas também um indireto, através das suas múltiplas aplicações em aspetos do nosso dia a dia.

“Para não ir mais longe, todos usamos quase diariamente o nosso telemóvel para consultar uma morada, por exemplo. Usamos um mapa e usamos o GPS. E estes dois serviços estão a aceder a informação que vem por satélite”, recorda. “E para chegar a este tipo de serviços, alguém construiu o satélite, alguém teve que construir o foguetão que o pôs em órbita e alguém teve que desenvolver todas as tecnologias que se utilizaram”.

Por isso, aconselha, os profissionais do setor aeroespacial devem aprender a comunicar a importância do trabalho que estão a realizar. “Fazer entender às empresas, aos utilizadores e ao público em geral como a tecnologia espacial é relevante para muitas das atividades que fazemos no dia a dia”, vinca.

Por outro lado, também surgem empresas que começam a pensar numa economia diferente, própria do espaço, capaz de criar valor diretamente fora da Terra. Por exemplo, “há empresas hoje em dia que estão a tentar encontrar diferentes materiais fora do planeta que poderiam ser úteis para usar no espaço, não para devolver à Terra, e construir com isso uma infraestrutura para o espaço”, descreve o cofundador da Disrupt Space.

Trabalhar no espaço continua a ser coisa de astronautas. “O mercado [laboral] hoje em dia é de seis pessoas. É a Estação Espacial Internacional, o único sítio onde se pode trabalhar no espaço, e a rotação é cada seis meses. É muito, muito difícil chegar a esse ponto, não só a nível de conhecimentos, mas também a nível de requisitos físicos. Há que estar muito preparado”, afirma Peris.

“Isto é uma situação que vai mudar, seguramente”, contrapõe, “mas eu atrevia-me a dizer que não se estenderá à Lua ou Marte, a nível de trabalho”. O que na realidade prevê que sucederá é que “muitos destes trabalhos vão ser robóticos e praticamente não terão interferência humana, serão praticamente autónomos”.

A razão para que tal aconteça é que “os seres humanos não estão preparados para viver no espaço”. Tal como recorda o engenheiro espanhol, “é um sítio muito agressivo a nível de radiação, recursos… Fazer com que uma pessoa possa trabalhar e viver em condições tal como o fazemos aqui na Terra, é complicado e custa muito dinheiro […] Fazer este tipo de trabalhos com maquinaria ou robótica vai ser muito mais rentável”.

Seja como for, Peris e a Disrupt Space continuarão a trabalhar para que a economia do espaço descole e os empreendedores do setor encontrem oportunidades para aproveitar o seu talento. Este engenheiro espanhol, que antes desenhava foguetões e agora presta assessoria a ‘start-ups’, está no centro dessa faixa e liga investidores a empreendedores, sempre à procura de criar pontes para que a tecnologia espacial continue a melhorar inúmeros aspetos das nossas vidas.

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