Opinião

Resiliência

Patrícia Jardim da Palma, Escola de Liderança e Inovação do ISCSP*

A pandemia social veio alterar por completo o ritmo “aparentemente” previsível de evolução dos negócios, imprimindo uma rotura drástica do status quo.

Com esta pandemia “aprendemos” que parece não valer a pena a elaboração de “planos sofisticados de longo-prazo”, uma vez que a realidade pode mudar “de um dia para o outro”. No entanto, os empreendedores e os empresários continuam a ter um negócio para gerir! Recursos, processos e tecnologias para orientar e Pessoas para liderar e motivar a “dar o melhor de si”! Como continuar a gestão do negócio numa realidade descontinuada e invertida? Parece uma tarefa (quase) “impossível” …

As conversas com os líderes de algumas empresas e a própria comunicação social tem-nos mostrado, contudo, “alguma luz”… para além da realidade negativa vivenciada por tantos negócios. São vários os exemplos de empresas do vestuário que passaram a fabricar máscaras ou de empresas do setor vinícola ou farmacêutico que começaram a fabricar álcool-gel. Mas, aparte destes casos, vale a pena lembrar que, nesta conjuntura de dificuldade extrema, são muitas as empresas que continuaram a laborar (com níveis aceitáveis de produtividade) e muitas outras que nasceram neste período. E tal realidade leva-nos a questionar como pode ser possível?

Para além da inovação, do redesenho dos processos de trabalho ou da capacidade de gestão mesmo em ambiente de crise, há uma competência fundamental que se distingue neste contexto: a resiliência. Como já tive oportunidade de desenvolver[1], os psicólogos definem a “resiliência” como a capacidade para recuperar de situações adversas e regressar a um “estado de equilíbrio” físico, psíquico e emocional. Esta competência foi primeiramente identificada em sobreviventes do Holocausto – pessoas que mesmo tendo vivido horrores conseguiram recuperar o seu equilíbrio e viver uma vida relativamente normal. A resiliência é encarada hoje como uma das competências mais importantes no século XXI, não apenas por empreendedores e estudiosos do empreendedorismo, como também por instâncias internacionais, como o Fórum Económico Mundial.

Numa perspetiva prática, como podem os empreendedores e empresários ser mais resilientes? Naturalmente, que não temos espaço aqui para aprofundar o tema, mas podemos avançar com algumas ideias. Entre os fatores que promovem a resiliência destaca-se o Foco Empreendedor. Este Foco Empreendedor não está relacionado com a manutenção rígida e inflexível do negócio, i.e. dos processos, recursos e tecnologias de trabalho, até porque muitas vezes pode ser necessário ajustar ou até mesmo alterar o negócio! O Foco Empreendedor está sim relacionado com o “ser empreendedor” ou “ser empresário” – o já ter “vestido a pele” de gestor de um negócio próprio, sentir-se bem assim e pretender continuar assim. Por outras palavras: o Foco Empreendedor está intimamente associado à identificação dos próprios empreendedores e empresários enquanto tal, que os leva a procurar os recursos, as pessoas e as mais variadas soluções para resolver os problemas. Por isso os empreendedores são tão criativos, proativos, networkers, otimistas, e acima de tudo: “não aceitam um “não” como resposta.

É este Foco Empreendedor que deveria estar sempre presente … nas empresas, nas organizações e em toda a sociedade, principalmente em momentos de crise, para transformar as dificuldades em oportunidades!

[1] Palma, P. J. (2019). O Mindset Empreendedor na Construção de Organizações Positivas. In H. A. Marujo, L. M. Neto e M. Ceitil, Humanizar as Organizações. Novos sentidos para a gestão de pessoas. Lisboa: Editora RH.

*Coordenadora da Escola de Liderança e Inovação do ISCSP – Universidade de Lisboa

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