Entrevista/ “Queremos atrair start-ups e empreendedores internacionais a estabelecerem-se cá”

Já trabalhou com mais de 1000 alunos, formou uma comunidade de mais de 30 start-up e promoveu mais de 100 momentos de interação entre os diferentes atores do ecossistema. O Nova SBE Haddad Entrepreneurship Institute recebeu uma doação da Fundação Haddad e quer abrir a plataforma a todo o ecossistema empreendedor a nível global, revelou o seu diretor executivo, Euclides Major, ao Link To Leaders.
Um espaço para explorar novas ideias para cocriar. É assim que Euclides Major, diretor executivo do Haddad Entrepreneurship Institute, define como será o instituto de empreendedorismo da Nova School of Business & Economics (Nova SBE), no futuro.
O instituto beneficiou recentemente de uma importante doação da Fundação Haddad, com vista a imprimir um novo ritmo ao hub de empreendedorismo situado no Campus da Nova SBE, em Carcavelos, e que desde que foi criado, em 2018, já contribuiu para a incubação de 35 start-ups.
A intenção passa não só por dotar os alunos de uma mentalidade empreendedora e prepará-los para os desafios do futuro, mas também por abrir a plataforma a todo o ecossistema relacionado com o empreendedorismo a nível global, revelou Euclides Major em entrevista ao Link To Leaders.
O Haddad Entrepreneurship Institute (HEI) beneficiou recentemente de uma doação da Fundação Haddad. Qual a importância desta doação?
Em 2021 o Centro de Empreendedorismo da NOVA SBE recebeu uma doação muito significativa não só a nível nacional, mas também muito relevante a nível europeu. Com esta parceria temos condições para desenvolver um dos leading Centers of Entrepreneurship da Europa. Esta parceria potencia a nossa missão de desenvolvermos o mindset empreendedor em todos os nossos alunos. Trata-se de incutir no DNA da geração futura um espírito de iniciativa, combinado com um conjunto de skills disponibilizado ao longo de um conjunto de programas e interações com empreendedores e start-ups.
De que forma vão potenciar toda a dinâmica que já têm em funcionamento no instituto?
A missão continua a ser desenvolver talento que tenha impacto positivo no mundo. Agora temos é melhores condições e escala para podermos ter a ambição de construir algo com maior alcance. Queremos inspirar e contribuir para a nossa comunidade. Mais concretamente queremos impactar vários milhares de alunos e 1500 start-ups. O HEI será um espaço para explorar novas ideias para cocriar.
Além disso, queremos criar oportunidades para alunos que querem ter uma carreira na área de empreendedorismo e em empresas de elevado crescimento além de criar uma oferta para start-ups e desenvolver o ecossistema de inovação, exponenciando sinergias entre todos. Acreditamos que o desenvolvimento destes skills de empreendedorismo trará enormes dividendos para a nossa sociedade no futuro.
“Ao longo destes três anos conseguimos reforçar a importância do desenvolvimento do tema empreendedorismo na nossa universidade e temos organizado vários programas que têm trazido valor para muitas start-ups nacionais e internacionais”.
Desde 2018 que o hub de empreendedorismo do campus da Nova SBE tem sido relevante para a área do empreendedorismo em Portugal. Que balanço faz destes três anos?
Ao longo destes três anos conseguimos reforçar a importância do desenvolvimento do tema empreendedorismo na nossa universidade e temos organizado vários programas que têm trazido valor para muitas start-ups nacionais e internacionais. A título de exemplo concluímos agora o Programa Check-in, onde participaram 20 start-ups de oito países diferentes e 17 PME nacionais e, após três meses, mais de metade das start-ups conseguiram de facto implementar pilotos. Ao ajudarmos no Go-to market, estamos a contribuir muito para estas start-ups.
Em paralelo temos conseguido cada vez mais trabalhar o mindset de empreendedorismo nos nossos alunos. Neste semestre por exemplo, tivemos mais de cem alunos a fazerem pitch das suas potenciais ideias de negócio e agora a realizarem estágios de Verão em start-ups nacionais e internacionais com desafios e outputs muito concretos.
O que mais destaca na incubação virtual do instituto?
Em primeiro lugar destacaria o excelente espírito que existe nesta comunidade. Depois a ligação à universidade e a todos os stakeholders que incluem alunos, alumni, professores, empresas e o município de Cascais. Em termos de futuro contamos ampliar esta comunidade, fomentar a internacionalização trazendo parceiros de outras geografias, e criar mais oportunidades de ligação aos ecossistemas internacionais.
Destacaria ainda a possibilidade que iremos ter já a partir de outubro em que iremos aliar um programa de incubação física, que permitirá aos founders o acesso a uma variedade de eventos, mentores, mas também uma interação diária com os nossos alunos, criando um verdadeiro espaço de colaboração e experimentação no nosso campus.
Como caracteriza as 40 start-ups incubadas? Qual área que mais predomina?
São maioritariamente empresas de base tecnológica, distribuídas por vários verticais, nomeadamente Fintech & Data, Tourism & Wellbeing, Smart Cities & Blue Economy. No geral são empresas em fase inicial (early stage) embora tenhamos também empresas que já levantaram várias rondas com investidores profissionais. Em termos de perfil temos uma boa combinação de empreendedores experientes com empreendedores que estão a lançar a sua primeira empresa. Em comum têm uma ambição de serem líderes nas suas áreas a nível internacional e acreditam que pertencer a esta comunidade pode contribuir para esse progresso.
“Em primeiro lugar queremos preparar os nossos alunos para saberem aprender de forma proativa. Depois proporcionar-lhes acesso aos skills que são bastante valorizados por empresas de elevado crescimento”.
Que outros programas têm pensado para dotar os alunos de uma mentalidade empreendedora e prepará-los para os desafios do futuro?
Em primeiro lugar queremos preparar os nossos alunos para saberem aprender de forma proativa. Depois proporcionar-lhes acesso aos skills que são bastante valorizados por empresas de elevado crescimento. Por exemplo, ao nível de vendas, área que frequentemente é desvalorizada, mas que é absolutamente fundamental para qualquer start-up e relativamente pouco considerada por alunos numa business school. Depois, o caminho passa por crescer esta comunidade com empreendedores, investidores, disruptores a interagir diariamente com os nossos alunos. O instituto é uma plataforma de conhecimento vivo e isso permite contribuir diariamente para o desenvolvimento do mindset empreendedor.
Temos vários programas como o ‘makers in the making’ em que os alunos desenvolvem as suas ideias, hackatons (por exemplo, teremos em setembro o Blue Bio Value), programas de aceleração, o programa Summer internships, o Startup corner na nossa career fair, palestras de founders e investidores, eventos temáticos, projetos de colaboração com várias cadeiras, field labs, mentorias, sessões de coaching e pitch sessions com outras escolas internacionais (tivemos recentemente uma sessão com a LSE), entre outros, a que todos os alunos podem aceder. Temos previsto ainda uma conferência académica e prémios, e várias outras iniciativas que iremos anunciar em breve!
As organizações estarão preparadas para acolher essa geração futura?
Esse é um desafio muito importante que vemos atualmente. Os próprios líderes das organizações enfrentam grandes desafios com o ritmo cada vez mais acelerado que vivemos em termos de inovação e capacidade de adaptação a esta nova realidade. Ser capaz de integrar esta nova geração é sem dúvida um passo fundamental para acompanhar a evolução que vivemos. Além de trabalharmos o talento, é necessário trabalhar as lideranças e orientar as organizações para o futuro.
Há mercado em Portugal para esta veia empreendedora ou vamos assistir à “internacionalização” de talento?
Olhamos com bastante otimismo para o desenvolvimento do ecossistema nacional e também para o progresso na literacia digital em Portugal. Por um lado, temos um conjunto de fundadores portugueses que têm alcançado feitos de enorme destaque a nível mundial, desde a Farfetch (IPO), Talkdesk, Outsystems e Feedzai (unicórnios e muito em breve até “decacorns”). Vemos várias outras start-ups que rapidamente irão alcançar este patamar. Isto só é possível com enorme talento.
Do lado do capital, observamos também o amadurecimento do ecossistema, com um maior número de players especializados e também o aumento dos montantes disponíveis para investir em start-ups. Temos claro ainda um caminho a percorrer, mas este ano a Europa provou que é possível acompanhar esta tendência e aproximar-se dos maiores mercados (EUA e China).
Um outro aspeto otimista é a qualidade de vida que o nosso país dispõe, e por isso temos assistido a uma nova onda de imigrantes (alguns aproveitando o remote work), muitos deles altamente qualificados e com um forte histórico de empreendedorismo. Há que fomentar, valorizar e potenciar este talento. Do nosso lado queremos também contribuir para atrair start-ups e empreendedores internacionais a estabelecerem-se cá, a deixar um contributo positivo em Portugal mas sempre com ambição de conquistar mercados internacionais.
“Daqui a cinco anos contamos ter ajudado mais de 1500 start-ups e ter apoiado vários milhares de alunos a desenvolver um mindset empreendedor”.
Como vê o instituto daqui a cinco anos?
Vejo-o como uma plataforma que tem um contributo muito positivo no ecossistema de empreendedorismo nacional, com excelentes relações internacionais e que ajude a aproximar todos os stakeholders. Contamos ter ajudado mais de 1500 start-ups e ter apoiado vários milhares de alunos a desenvolver um mindset empreendedor. Tudo isto assente num modelo sustentável e que permita ver o instituto a continuar a criar um impacto positivo nas próximas décadas.