Opinião

Efeitos, iniciativas e soluções trazidos pelo Covid-19 no Brasil

Daniella Meirelles, fundadora da DBRAND e Yuppy

Quando achávamos que o ano ia começar (pois, como havia dito no meu artigo anterior, no Brasil as coisas só começam de facto a aquecer após o Carnaval), o mundo simplesmente parou. Quem jamais poderia imaginar que cidades, países inteiros fechariam as suas fronteiras, as suas portas por conta de um vírus.

Se alguém tivesse previsto, certamente seria chamado de louco e ninguém teria dado ouvidos, assim como de fato aconteceu com o médico chinês que descobriu o Covid-19. Nem mesmo ele teria imaginado quão grande poderia ser o estrago que o novo coranavírus faria à saúde e à economia de tantas nações. O que nos parece mais um filme de Hollywood, tornou-se parte de nossa realidade. Já não podemos sair de casa, mas, graças à tecnologia e à internet, podemos manter-nos conectados e, sim, grande parte de nós pode continuar a trabalhar.

Fato é que todos tínhamos um plano de negócios para 2020 que agora já não nos serve. Todos precisamos de redesenhar uma estratégia e criar um novo plano de negócios com base na realidade atual levando em conta a recessão económica que muito provavelmente nos aguarda.

No meio de tantas incertezas, temos a certeza de que tudo isso vai passar. Quando esse momento chegar precisamos de estar preparados para continuarmos seguindo e crescendo com os nossos negócios. Devemos lembrar que toda crise económica vem acompanhada de novas oportunidades de negócios. O caminho é olhar para quais são e serão as necessidades e demandas desse novo mercado? Quais as ameaças e onde precisaremos de reinventar, adequar o nosso serviço, produto ou empresa? São perguntas fundamentais que nos trarão algumas respostas. Respostas essenciais para o nosso planeamento.

No Brasil, home office e teletrabalho já eram tendências para este ano. Algumas empresas ainda se mantinham retraídas quanto a ter as suas equipas a trabalhar de casa. De um dia para outro, tudo isso mudou e passou a ser uma lembrança do passado. Ninguém tão pouco imaginou que uma pandemia seria a grande responsável pela transformação digital de diversas empresas não só em terras brasileiras, como nos demais países do mundo que relutavam em aceitar os avanços trazidos pela tecnologia.

Gosto sempre de tentar enxergar o “copo metade cheio”*. Aqui no Brasil temos visto várias campanhas de solidariedade, a união de diversas empresas e do setor público e privado em prol da economia e combate ao Covid-19. Há uma grande preocupação com a sobrevivência do pequeno negócio, autónomos e trabalhadores informais (o vendedor de picolé na praia, o guardador de carro, a manicure, entre outros).

A primeira grande ação veio capitaneada pela Ambev que tem utilizado uma de suas cervejarias no Rio de Janeiro para produção de álcool gel. O álcool antes utilizado para a fabricação de cervejas, passou a ser utilizado como matéria-prima para produção do produto essencial na prevenção do contágio pelo vírus. Além de produzirem 500 mil unidades e serem responsáveis por toda logística, a empresa irá doar toda produção a hospitais públicos do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Uma iniciativa maravilhosa que inspirou outras empresas a também se mobilizarem. É em momentos como este que podemos ver quais as empresas que de facto se preocupam com a comunidade em que estão inseridas e que vão além das suas campanhas de publicidade.

Outra iniciativa que merece destaque é o movimento #ApoieUmRestaurante liderado pela Stella Artois que visa incentivar a antecipação de consumo e, dessa forma, manter empregos em bares e restaurantes. Na compra de um voucher de R$ 50, a Stella Artois paga mais R$50 e o cliente ganha um voucher de R$ 100 para consumo no seu restaurante favorito quando este estiver reaberto. A campanha tem sido realizada em várias cidades do Brasil.

É impossível ficar inerte frente a tudo que se está a passar. Particularmente, a minha preocupação foi pensar em como poderíamos conter o contágio pois, dessa forma, conseguimos diminuir o número de pessoas infetadas e consequentemente o número de mortes. Inspirada pela campanha #Masks4All iniciada na República Checa, através do Yuppy e da DBRAND, dei início à campanha #MáscarasParaTodos, onde incentivamos as pessoas usarem máscaras caseiras caso necessitem sair à rua para irem ao supermercado ou à farmácia. No flyer da campanha divulgamos dois sites onde é possível comprar máscaras caseiras ou aprender a como fazer sua própria máscara. Se ainda não houver algo parecido em Portugal, fiquem à vontade de fazer uma campanha similar.

Em relação às start-ups, há aplicações de supermercados como a Zipp e de entrega de remédios como a Benie e a Farmazon. Surgiram também aplicações através dos quais pode fazer um auto-exame para saber se possui sintomas do coronavírus como o Caren.app. Outras start-ups que merecem destaque são a Vittude (start-up que oferece terapia online, conectando psicólogos a pacientes sem que eles precisem sair de casa) e a Hisnëk (start-up de benefícios corporativos que criou a Inteligência Artificial Interativa (IVI) capaz de conversar com os colaboradores via videobot). A interação permite identificar quem possui ou tem potencial de desenvolver algum transtorno psicológico sem revelar a identidade do colaborador.

Com a coleta desses dados anónimos, a Hisnëk cria um relatório mensal que avalia essas ações, propõe soluções assertivas para os grupos de risco e auxilia os RHs a melhorar a qualidade e vida no ambiente de trabalho mesmo com o home office. Já são mais de 80 mil vidas auxiliadas pela start-up em empresas como Nokia, Dasa e Alelo. Além disso, várias empresas liberaram cursos e conteúdo gratuitos para utilizadores como Sebrae, FGV, Escola Conquer, Rock Content, StartSe, Amazon ou Cirque du Soleil, entre outros. Há também vários editais abertos e hackatons a serem realizados procurando empreendedores e start-ups que tragam soluções para os desafios causados pela pandemia.

É tempo de se atualizar, repensar a sua vida, o seu propósito como pessoa e como empreendedor. Aproveite esse momento para refletir e repensar a sua trajetória, para onde deseja seguir. Só lhe peço para que fique em casa, saia somente para ir à fármacia e ao supermercado. E, quando sair, use sempre uma máscara. Assim, nos protegemos e protegemos os outros também. Vamos fazer cada um a sua parte e aguardar que a cura e/ou a vacina para o novo coronavírus surja o mais breve possível.

Portanto, respire fundo, analise o seu negócio, faça as mudanças necessárias, reinvente-se, adapte-se. Por fim, tenha certeza de que tudo isso vai passar. Cuide-se.

*Significa tentar ver o lado positivo de uma situação, mesmo quando se trata de algo ruim.

Comentários
Daniela Meirelles

Daniela Meirelles

Daniela Meirelles é empreendedora, business advisor, mentora de start-ups e palestrante (Branding, Empreendedorismo e Liderança). Foi fundadora da DBRAND, consultora de branding, marketing e inovação; fundadora/CEO da Yuppy, start-up de media, marketing e eventos; mentora nos programas Startup Rio, Startup Weekend e Founder’s Institute; palestrante; e também atua na organização do II Chapter da Singularity University, no Rio de Janeiro. Tem 15 anos de experiência em marketing, branding e desenvolvimento de novos negócios. Desenvolveu inúmeros projetos para pequenas, médias e... Ler Mais..

Artigos Relacionados

Miguel Pina Martins, fundador da Science4you
Vítor Sevilhano, sócio-gerente da Escola Europeia de Coaching