Entrevista/ “Portugal tem cada vez mais influência no contexto tecnológico a nível europeu”

Isabel Reis acaba de ser nomeada diretora-geral da Dell Technologies Portugal. Em entrevista ao Link To Leaders, a executiva fala deste desafio profissional, da transformação digital, da igualdade de género e do objetivo da Dell de se associar a universidades e a outras entidades, para “promover o crescimento do desenvolvimento tecnológico a nível nacional”.
Isabel Reis assumiu no final do mês passado a função de diretora-geral da Dell Technologies Portugal. A sua nomeação vem no seguimento do anúncio a nível internacional que refere a reforma e, consequentemente, saída da empresa de Marius Haas até ao final deste ano fiscal, e da simplificação do modelo go-to-market da Dell, numa organização unificada de Vendas & Parceiros presente em todo o mundo.
Nos dois últimos anos, Isabel Reis foi managing Director de Enterprise – Portugal & Espanha.
Assumiu recentemente a direção geral da Dell em Portugal. Qual a sua missão nesta função e que marca gostaria de deixar?
A minha missão é garantir que a Dell Technologies em Portugal seja considerada como uma (senão a) melhor empresa fornecedora de soluções de infraestrutura e de Data Center do mercado que suportam a rápida transformação do negócio. Ao mesmo tempo que disponibilizam as melhores soluções “cloudy mode” e “as a service” do mercado. Se for bem-sucedida nesta missão, terei os resultados que a companhia me pede, a equipa motivada e os clientes fidelizados.
Que perspetivas tem a Dell para este ano em Portugal?
Pretendemos reforçar a nossa presença no país, ganhando novos clientes, mantendo os que temos e ser a empresa de referência para suportar uma arquitetura cloud e digital. Esperamos um ano desafiante como sempre, mas com crescimento positivo, tanto em termos de resultados, como da reputação da marca a nível nacional. Portugal tem cada vez mais influência no contexto tecnológico a nível europeu e queremos aproveitar este bom momento para promover a marca, mas também juntarmo-nos a universidades e outras entidades no sentido de promover o crescimento do desenvolvimento tecnológico a nível nacional.
Quanto representa a faturação de Portugal para o grupo Dell?
Um número já bastante considerável em comparação com o tecido empresarial nacional. Não sendo obviamente a subsidiária que mais contribui para o revenue global da companhia em números absolutos, é uma subsidiária de referência e muitas vezes pioneira no tipo de soluções que vende no mercado nacional.
“Mas a chave para o sucesso, e para qualquer processo de transformação, serão sempre as pessoas, a equipa e a sua liderança”.
A transformação digital é a chave para o sucesso de uma empresa?
No momento atual sem dúvida alguma. Diria que é de importância máxima, cada vez mais, mas não é a chave para o sucesso de uma empresa. A chave são as pessoas e serão sempre. A transformação digital é um passo junto dos muitos que temos de dar para o ter sucesso. É definitivamente um processo cada vez mais importante e mesmo urgente para muitas empresas. Mas a chave para o sucesso, e para qualquer processo de transformação, serão sempre as pessoas, a equipa e a sua liderança.
A nível tecnológico, existe alguma nova aposta da Dell na calha?
Estamos a trabalhar em soluções empresariais de grande qualidade, mas também estamos a apostar na nossa área de produto para cliente individual. Não posso adiantar nada em concreto, mas estamos a apostar forte nesta nova década e muito em breve teremos novidades muito interessantes.
“As empresas vão tornar-se mais horizontais, as distâncias pessoais vão ser reduzidas, a ética e a moral vão ter cada vez mais peso. A velha liderança autoritária já não tem lugar na sociedade contemporânea”.
A natureza do trabalho, incluindo os funcionários, os equipamentos usados e as formas de liderança, estão a mudar. Qual deve ser nos próximos anos a abordagem a estas questões?
Indo por partes, relativamente à natureza do trabalho e aos funcionários, considero que a agilidade será o principal fator. Trabalho remoto, redução de horas de trabalho, entre outros, serão tendências que já não podemos parar. Resta-nos perceber como implantá-las e como utilizá-las para promover os melhores resultados do nosso negócio.
No que se refere a equipamentos, como já é sabido, a tecnologia vai estar por todo o lado, a inteligência artificial vai ajudar-nos nas tarefas, as clouds vão ser cada vez mais complexas e interligadas, entre muitas outras ferramentas que nos vão ajudar a trabalhar. Mas, esta evolução e os novos equipamentos, vão colocar atividades profissionais em vias de extinção. É essencial que, enquanto sociedade, nos preparemos para esta realidade.
Já a liderança, vai passar a ser muito mais liderança do que gestão. Liderança ainda tem uma grande conotação de gestão, mas é algo que está já mudar e que vai mais ao encontro da verdadeira definição do que é liderança. Os líderes das empresas vão ter de se preocupar tanto com o bem-estar e emoções dos colaboradores como com os resultados e parte operacional. Até porque uma coisa leva à outra. As empresas vão tornar-se mais horizontais, as distâncias pessoais vão ser reduzidas, a ética e a moral vão ter cada vez mais peso. A velha liderança autoritária já não tem lugar na sociedade contemporânea. A preocupação ambiental será cada vez mais um fator diferenciador na hora de decidir com que empresa trabalhar.
Considera que a tecnologia ainda é um setor onde predominam maioritariamente os homens?
Ainda o é, mas a tendência está a mudar e, com as crescentes oportunidades profissionais na área de TI e com a geração Millennial e Z a chegar ao mercado, é uma questão de tempo até a tendência se equilibrar.
“Assegurar a igualdade de género e a equidade em geral é o único caminho para as mulheres progredirem nos cargos de chefia. E tal é cultural e social, exige tempo e pequenos passos consistentes ao longo do tempo”.
O que se pode mudar para ajudar as mulheres a progredirem nos cargos de chefia?
Diria que a única mudança possível é cultural. Assegurar a igualdade de género e a equidade em geral é o único caminho para as mulheres progredirem nos cargos de chefia. E tal é cultural e social, exige tempo e pequenos passos consistentes ao longo do tempo.
Qual o projeto mais desafiante da sua carreira?
Seria injusto nomear algum em detrimento de outro. Todos tiveram os seus desafios e as suas especificidades e todos contribuíram para o meu crescimento, como pessoa e profissional que sou hoje. Diria que o projeto terminado recentemente em Espanha e porque é o último foi talvez o mais desafiante da minha vida profissional, por vários fatores, como o fato de ser um país estrangeiro, não conhecer nem a equipa nem o mercado, ter que transformar o negócio e a equipa, sendo mulher e portuguesa, conhecer os clientes e parceiros, adaptar-me a uma dimensão de negócio cinco vezes maior, com todos os riscos associados e a uma nova cultura que embora parecida é muito própria.
Que conselhos deixaria às jovens executivas que ambicionam uma carreira fora de Portugal e no setor da tecnologia?
Para nunca deixarem de sonhar, para não se deixarem abater pelos obstáculos e terem sempre uma postura construtiva, aberta à mudança e ao erro. Acima de tudo, acreditar e trabalhar, sempre com ética e respeito, e acredito que as coisas acontecem.
Daqui a dez anos onde é que se imagina?
Não me imagino. Nunca funcionei assim. “Go with the flow”. Ao contrário do que se possa pensar a minha carreira foi acontecendo e a única coisa que fiz foi “abraçar” as oportunidades que me foram surgindo, dando sempre tudo, para não desiludir quem apostou em mim. A única coisa que imagino é ter saúde, eu e os meus, ter amigos, continuar a fazer o que gosto e nunca mas nunca deixar de ter sede de aprender.
Respostas rápidas:
O maior risco: Alguns. Bastantes pessoais e profissionais. Mas que graça tinha a vida sem o risco? (ou não fosse eu da área comercial…).
O maior erro: Não ter seguido o primeiro instinto…
A maior lição: Continuo a aprender…
A maior conquista: Ser feliz!