Como Portugal se posicionou para atrair investimento tecnológico internacional
A plataforma online de moda de luxo Farfetch, o fornecedor de software Outsystems e o contact center na cloud Talkdesk ajudaram a colocar Portugal na rota da tecnologia e inovação mundial nos últimos anos.
A florescente economia de start-ups em Portugal começou com a crise económica porque face ao elevado índice de desemprego, muitos portugueses optaram por criar seus próprios postos de trabalho e exportar seus serviços além das pequenas fronteiras do país, economicamente prejudicadas. Outros deixaram o país para encontrar trabalho no exterior. Agora, quase uma década depois, o país não só está a criar empresas de tecnologia domésticas, mas também a atrair talentos e investidores estrangeiros, especialmente em tecnologia.
Esta é a análise que a Sifted faz da performance nacional no que toca à forma como o país se tem posicionado no domínio tecnológico. Aquele site internacional lembra que, no ano passado, Lisboa recebeu o maior número de investimentos estrangeiros em software e TI, com dez projetos avaliados em 75 milhões de dólares (67,1 milhões de euros), marcando o sexto ano de crescimento nesse sentido, de acordo com o fDi Markets, um serviço de dados da FT que monitoriza o investimento estrangeiro em greenfield (projetos tangíveis que criam novos empregos).
Também a Cloudflare, uma das principais empresas mundiais de infraestrutura Web e de cibersegurança, analisou 45 potenciais cidades na Europa para seu terceiro escritório na Europa, depois de Londres e Munique, e a capital portuguesa foi a escolhida. O crescimento tecnológico de Lisboa tem sido acelerado e tem potencial para ser o próximo grande ecossistema tecnológico europeu, na opinião de John Graham-Cumming, diretor de tecnologia da Cloudflare.
O investimento estrangeiro convencional em Portugal também está a recuperar desde 2015. Muitos dos fundadores das principais start-ups de Portugal surgiram dos programas de intercâmbio com universidades norte-americanas – em tecnologia e engenharia – ou adquiriram experiência fora de Portugal durante os anos da crise. Este contexto, juntamente com a reduzida dimensão do mercado nacional, são motivos pelos quais as start-ups portuguesas pensam globalmente desde a sua criação. Por outro lado, refere a avaliação da Sifted, Portugal também conseguiu aumentar e atrair recursos humanos em tecnologia fora da União Europeia devido a programas com o Startup Visa, por exemplo, e promovendo, simultaneamente, incentivos para o regresso de expatriados. Os investidores estrangeiros também têm um regime de não tributação especial, essencialmente uma isenção de impostos para os primeiros 10 anos de atividade.
Tecnologia estrangeira migra para Lisboa
A par do crescente número de empresas instaladas no país, no ano passado também o número de residentes estrangeiros em Lisboa cresceu 25%, bem como o de estudantes internacionais matriculados em universidades que aumentou 11%.
A publicação cita a Invest Lisboa para afirmar que a cidade recebeu um número histórico de start-ups e empresas de tecnologia nos últimos dois anos. Foram várias as empresas internacionais estabeleceram-se no país como a Google, por exemplo, que abriu um centro de assistência na região da Grande de Lisboa, ou nos últimos anos, os casos da Amazon, Huawei, Cisco, BMW, Mercedes, Volkswagen, BNP Paribas, Natixis, Euronext, Bosch e Siemens.
Um indicador do boom tecnológico é a chegada das incubadoras (Lisboa agora possui cerca de 32) e 41 espaços de coworking. A cidade também está a transformar uma antiga fábrica do exército num mega-campus para start-up com 35 mil metros quadrados – Hub Criativo do Beato – competindo em termos de dimensão com a incubadora Station F em Paris, assegura a Sifted.
A juntar as estas particularidades, refere também o facto de Lisboa se ter transformado na sexta cidade mais popular para reuniões internacionais, de acordo com o ranking da Associação Internacional de Congressos e Convenções. A realização da Web Summit, uma das maiores e mais prestigiadas conferências mundiais de inovação e tecnologia – e que em 2019 reuniu cerca de 80 mil participantes, incluindo cerca de 2 mil start-ups e 1.500 investidores – é a “cereja no topo do bolo”.
A popularidade, no entanto, tem um preço. O custo do arrendamento em Lisboa aumentou substancialmente nos últimos anos, com os preços atingindo o valor mais alto em 2018. No entanto, o custo de vida e mão-de-obra no setor de TI e software, ainda são mais baixos em Lisboa do que em outros centros de tecnologia europeus: Londres, Berlim e Barcelona, de acordo com a ferramenta de avaliação de localização fDi Benchmark.
O acesso ao financiamento pode ser outro ponto de atração para start-ups e investidores. O mercado de capital de risco da cidade é modesto face aos padrões da União Europeia, mas está a crescer. As start-ups portuguesas arrecadaram mais de 485 milhões de euros em 2018, enquanto o volume de transações aumentou quatro vezes em relação a 2017, de acordo com um relatório recente da Beta-i.








