Entrevista/ “As competências digitais são fundamentais para o sucesso das organizações”

Gabriel Coimbra, vice-presidente de grupo da IDC EMEA*

O responsável pelo grupo IDC no mercado nacional revela que a transformação digital está na ordem do dia para 73% dos decisores nacionais. Em entrevista ao Link To Leaders, Gabriel Coimbra afirma ainda que a cultura empresarial continua a ser o maior entrave dessa transformação.

A IDC, multinacional da área de market intelligence para os mercados das Tecnologias de Informação e Transformação Digital, realizou no início deste mês um Digital Innovation Forum, que reuniu mais de 250 participantes, para falar sobre o estado da transformação digital e sobre o que de melhor se tem feito e inovado nesse sentido.

Na sequência do evento falamos com Gabriel Coimbra, vice-presidente de grupo da IDC EMEA e diretor-geral em Portugal, sobre, entre outras coisas, a forma como as empresas estão a incorporar o digital nos seus modelos de negócio e quais as tendências que irão moldar a economia digital no próximo ano.

Qual o balanço que faz do Digital Innovation Forum?
Faço um balanço muito positivo: esta primeira edição contou com cerca de 250 decisores nacionais. A agenda, para além de 10 casos concretos de inovação digital por organizações portuguesas, focou temas relacionados com a estratégia, cultura, tecnologia, competências necessárias para a inovação.

“(…) as competências digitais são fundamentais para o sucesso das organizações numa economia cada vez mais digital.

Quais as principais mensagens que foram passadas?
Hoje o digital é responsável por mais de 90% da inovação levada a cabo pelas organizações mundiais. Neste contexto, para além da cultura e tecnologia, as competências digitais são fundamentais para o sucesso das organizações numa economia cada vez mais digital.

Adicionalmente ficou claro que hoje a inovação é cada vez mais feita de fora para dentro das organizações: para além do foco no consumidor, as organizações devem trabalhar em ecossistema. Neste contexto, temas como a inovação aberta são cada vez mais relevantes.

Como podem as organizações incorporar uma cultura de inovação digital para poderem continuar a competir no mercado global?
As organizações devem estar conscientes dos pontos acima mencionados, nomeadamente a inovação aberta.

“(…) a transformação digital está na ordem do dia para 73% dos decisores nacionais (…)”

Que casos de sucesso destaca neste sentido?
No evento foram destacados 10 casos de sucesso. Um inquérito realizado pela IDC no primeiro semestre de 2019, que abrange um conjunto alargado de grandes organizações nacionais, mostra que a transformação digital está na ordem do dia para 73% dos decisores nacionais, que irão aumentar o investimento na área, com o foco na inovação de produtos e serviços, e atração e fidelização de clientes.

Estão as empresas portuguesas a transformar digitalmente os seus negócios?
Segundo os dados da IDC, 46% das empresas já são digitally determined e já estão a fazer a transformação digital (com estratégia e a ganhar escala) há vários anos; enquanto 54% são digitally distraught, têm o tema em agenda, mas ainda não em escala. Nestas contas não entram as que estão fora da economia digital, e que nem sequer têm uma presença online, e que ainda representam uma fatia muito importante da economia.

Tendo estes dados em conta, ainda são poucas as organizações que estão de facto a transformar os modelos de negócio, o foco das organizações nacionais ainda está na eficiência dos processos e experiência do cliente. Contudo, acreditamos que nos próximos anos, para além da eficiência dos processos e da experiência do cliente, as organizações portuguesas irão cada vez mais desenvolver novos modelos de negócios assentes no digital.

Considerando que o tecido económico português é sobretudo composto por pequenas e médias empresas, como é que as organizações portuguesas podem ganhar escala neste mundo digital?
As organizações portuguesas devem trabalhar em ecossistema. Devem encontrar ecossistemas e parceiros europeus e globais de forma a ganharem escala e poderem competir num mercado cada vez mais digital e global.

“(…) nas grandes organizações há visão, mas faltam muitas vezes as competências a nível intermédio e de operação (…)”

Considera que a cultura empresarial continua a ser um dos principais entraves à transformação digital das empresas?
Sem dúvida. A cultura empresarial continua a ser o maior entrave à transformação digital: nas grandes organizações há visão, mas faltam muitas vezes as competências a nível intermédio e de operação, enquanto que nas PME falta, sobretudo, competências na liderança e a visão da forma como o digital vai trazer valor ao negócio.

Que tendências vão moldar a economia digital em 2020?
Ainda estamos a trabalhar nas tendências TIC e do Digital para Portugal (iremos apresentar no nosso evento de 18 de fevereiro, o IDC Portugal FutureScape), mas posso adiantar que em termos de negócio, vemos quatro áreas onde o Digital/TIC estão a potenciar mais a transformação das organizações em Portugal: o Customer Experience, uma área onde temos visto maior crescimento em termos de investimento em TI/Digital. É aqui que se enquadra aquilo que chamamos “Future of Consumers”; depois a Retenção e Angariação de Talentos que, em função da falta de talento, é uma das áreas que vemos grandes mudanças em Portugal. É aqui que se enquadra aquilo que chamamos “Future of Work”; a Automação e robotização das operações – tendo em conta o crescimento do IoT, Robótica e AÍ, temas como os RPA e a robótica industrial estão a mudar o panorama empresarial português. É aqui que se enquadra aquilo que chamamos “Future of Operations”; e por fim a Inovação – quase 100% de toda a inovação hoje depende do digital. É aqui que se enquadra aquilo que chamamos “Future of Innovation”.

Entre as novas tecnologias (Inteligência Artificial, IoT, big data/analytics, cloud computing, entre outras), quais terão mais impacto na forma como são geridos os negócios em Portugal nos próximos anos?
Em termos de tecnologia, estas quatro terão maior importância para as organizações em 2020:

O Cloud Computing / Infraestrutura Híbrida – Em 2020 vamos praticamente atingir 100% de utilização da Cloud por parte das organizações portuguesas. O desafio agora é conseguir pôr em prática uma estratégia multi-cloud. É aqui que se enquadra aquilo que chamamos “Future of Infrastructure”.

Data, Analytics & AI – Em 2020 o maior desafio dos departamentos de IT será ao nível da gestão dos dados. Data Governance, Security&Privacy and Data Monetization. É aqui que se enquadra aquilo que chamamos “Future of Intelligence”.

Security – Em 2020 a segurança irá ser um dos principais desafios das organizações, ao nível de negócio e IT. É aqui que se enquadra aquilo que chamamos “Future of Trust”.

IoT – Em 2020, com a redução dos custos dos sensores e entrada do 5G, começaremos a ver um crescimento exponencial de “coisas” conectadas, o que será um dos principais impulsionadores nas soluções de Big Data, Analytics & AI. É aqui que se enquadra aquilo que chamamos “Future of Conectedness”.

Em que aspetos o tecido empresarial português se mostra mais e menos preparado para competir na economia digital?
Enquanto que 55% das empresas mundiais são digitally determined esse número desce para 40% em Portugal. O tecido empresarial português é um caso curioso pois tem bons casos de sucesso – apesar de ainda não serem suficientes.

* E diretor-geral em Portugal

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