Entrevista/ “Temos apoiado cada vez mais empresas de menor dimensão na internacionalização”

Pedro Barreto, administrador do BPI*

Impulsionar a atividade internacional das empresas portuguesas é o objetivo da iniciativa “Negócios com o Mundo” lançada pelo BPI, em parceria com o CaixaBank, e que já vai na sua segunda edição. Em entrevista ao Link To Leaders, Pedro Barreto, administrador do BPI responsável pela banca de empresas e institucionais, explica que o apoio do banco às PME com negócios internacionais é um dos segmentos prioritários da sua ação e fala dos projetos que têm em cima da mesa para apoiar o empreendedorismo.

Dias depois de ter realizado a segunda edição da iniciativa “Negócios com o Mundo”, um programa de sessões presenciais de aconselhamento personalizado no qual as empresas interessadas em impulsionar a sua atividade internacional se reúnem com representantes da rede internacional do Grupo CaixaBank, Pedro Barreto falou com o Link To Leaders sobre o apoio do banco à internacionalização das empresas portuguesas para o Médio Oriente & Norte de África.

O administrador do BPI responsável pela Banca de Empresas e Institucionais falou ainda do apoio do banco às empresas de menor dimensão, encontrando-se próximo dos principais players e start-ups.

De que forma o BPI tem ajudado as empresas portuguesas a impulsionar a sua atividade internacional?
O apoio às empresas com negócios internacionais é, desde há muito anos, um dos segmentos prioritários da nossa ação junto das empresas. Como resultado desta aposta, temos registado um acréscimo da quota de crédito do BPI nas empresas e, especificamente, em operações de trade finance.

Além das equipas especializadas que disponibilizamos para esclarecer e ajudar as empresas que pretendem implementar processos de internacionalização, e que necessitam de utilizar novos instrumentos para negociar em segurança com novos clientes e em novos mercados, fomos criando parcerias estratégicas com entidades empresariais e câmaras de comércio. A parceria com a COSEC permitiu-nos disponibilizar aos clientes um conjunto de produtos de cobertura de risco de crédito, que são fundamentais para muitas empresas que dão os primeiros passos nos mercados internacionais.

Adicionalmente, temos vindo a reforçar o nosso serviço junto destas empresas, fruto da ligação ao CaixaBank, através do qual os clientes dispõem de uma rede internacional alargada, com forte know-how e presença em 20 países, distribuídos pelos cinco continentes.

O BPI anunciou recentemente que apoia a internacionalização das empresas portuguesas para o Médio Oriente & Norte de África através da parceria com a CaixaBank. Quais as vantagens para os clientes BPI?
O CaixaBank realiza, há cerca de dez anos, as jornadas “Puertas al Exterior”. Tratam-se de roadshows regulares por várias regiões e cidades de Espanha, com reuniões personalizadas e especializadas entre clientes e os responsáveis das sucursais internacionais e escritórios de representação.

O evento foi alargado a Portugal em 2018, designando-se “Negócios com o Mundo”. Na edição de 2019, as reuniões centraram-se nos mercados do Médio Oriente e Norte de África e os clientes tiveram a oportunidade de conhecer as características específicas destes mercados, através de reuniões personalizadas com os especialistas que temos localizados naqueles mercados. Este ano, foi escolhido o tema “Médio Oriente & Norte de África”, com presença dos representantes do CABK, em Marrocos, Argélia, Egito, Turquia e Dubai.

Porquê estes mercados?
Porque são mercados onde a experiência dos nossos clientes é menor do que a dos mercados tradicionais e porque acreditamos que são economias com potencial para investimento, atendendo à estimativa de crescimento da procura interna: investimento em infraestruturas e crescimento das suas classes médias que potenciam o consumo, e os negócios, nesses países.

Por outro lado, temos constatado um aumento do comércio com estes mercados. Existem atualmente cerca de 3.800 empresas portuguesas a exportar para estes países.

Que balanço faz da iniciativa “Negócios com o Mundo”?
Um balanço muito positivo. A opinião dos clientes é unânime de que a disponibilização de informação privilegiada sobre as diferenças legislativas e socioculturais nestes mercados se reveste de grande relevância para as suas decisões de negócio.

Em 2018, demos foco aos mercados da Alemanha, Marrocos, Reino Unido e Polónia e este ano decidimos abordar outros, menos tradicionais, mas com interesse e expressão nas nossas exportações. O feedback em ambas as edições foi muito positivo. Os clientes consideram as informações obtidas muito relevantes e úteis, quer as que se referem aos aspetos económicos, quer as questões relacionadas com as especificidades culturais, cujo conhecimento é essencial para assegurar, da melhor forma, a entrada no mercado, a condução dos negócios e das parcerias locais.

“(…) temos apoiado, cada vez mais, as empresas de menor dimensão nos seus processos de internacionalização.”

Quem são as empresas, e de que setores, que mais recorrem às sessões organizadas no âmbito do “Negócios com o Mundo”?
Cada mercado possui características próprias e a procura é muito específica e diferenciada. Para cada um destes países, as empresas exportadoras representam diferentes setores de atividade. Existem empresas da construção, produção de máquinas, extração de mármore e outras pedras similares, equipamentos eletrónicos e telecomunicações, metalomecânica, indústria têxtil e o agroalimentar.

Em termos de dimensão, as empresas com maior perfil para este tipo de evento são as PME e grandes empresas. As microempresas ainda têm alguma dificuldade em exportar, por limitações estruturais e financeiras. Mas no BPI temos apoiado, cada vez mais, as empresas de menor dimensão nos seus processos de internacionalização.

Que outras soluções de apoio ao negócio internacional oferece o BPI?
O comércio internacional envolve riscos diversos que decorrem de fatores exógenos e que ocorrem durante todo o ciclo de exploração. Para minimizar esses riscos, dispomos de um leque de produtos e serviços, cuja adequação a cada cliente ou negócio depende, quer do nível de segurança pretendido para a transação, quer do risco comercial e político associado. Temos desenvolvido, continuamente, produtos e serviços inovadores, vocacionados para o comércio internacional, capazes de responder às múltiplas necessidades dos clientes. Podem encontrar desde soluções mais tradicionais como Créditos e Remessas Documentárias, a soluções mais customizadas de Export Finance, que permitem desenvolver um financiamento específico a cada projeto.

Adicionalmente, contamos com uma equipa de especialistas em Trade Finance que, em conjunto com os Centros de Empresas e Balcões, presta um apoio dedicado aos negócios de comércio internacional realizados pelos clientes.

“O apoio ao empreendedorismo e à inovação tem sido crescente em Portugal (…)”

É fácil às start-ups fazerem parcerias com os bancos? Como funciona no caso do BPI?
O apoio ao empreendedorismo e à inovação tem sido crescente em Portugal, havendo diversas entidades públicas e privadas que têm demonstrado forte empenho na sua promoção, fomentando a criação de novas empresas e negócios, dado o seu impacto no crescimento económico e na geração de emprego.

O tecido empresarial tem revelado elevada dinâmica, atingindo, nos últimos anos, máximos históricos ao nível da criação de empresas, que conquistam representatividade e emergem com um perfil distinto: menor dimensão, menor número de pessoas ao serviço, mais especializadas e focadas no exterior. Temos implementado diversas iniciativas de interligação com o ecossistema, encontrando-se próximo dos principais players e start-ups.

Como apoiam o empreendedorismo?
Tendo em consideração a dinâmica e o crescimento deste segmento e com o objetivo de nos aproximarmos desta realidade, temos promovido e participado ativamente num conjunto de iniciativas específicas deste segmento, sendo de destacar o Prémio Empreendedor XXI. Esta iniciativa tem como objetivo identificar, reconhecer e acompanhar start-ups inovadoras, com elevado potencial de crescimento.

A edição 2018/2019 contou com 300 candidaturas em Portugal, num total de 961 em Portugal e Espanha. Globalmente, foram distinguidas 37 empresas – com prémios em valor ou programas de desenvolvimento internacional num valor superior a 500 mil euros – e sete destas empresas eram portuguesas.

A edição portuguesa conta com o patrocínio do Ministério da Economia e com a parceria da Agência Nacional de Inovação que atribuiu o seu “Born from Knowledge Award a um dos candidatos portugueses aos Prémios Empreendedor XXI, o que demonstra bem o reconhecimento institucional desta iniciativa.

No contexto destes prémios, realizamos dois summits de inovação – os BPI Innovation Summits –, que envolveram todo o ecossistema de empreendedorismo e inovação no debate de temas relevantes para estas entidades. Estiveram presentes start-ups e investidores e representadas algumas instituições, nomeadamente, a Agência Nacional de Inovação, a Portugal Ventures, a PME Investimentos e a ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários. Estes eventos foram organizados em parceria com a Beta-i e Founders Founders, em Lisboa e no Porto, respetivamente.

Temos também o Programa Jovens Empreendedores. O BPI e a Fundação “la Caixa” lançaram em Portugal este programa, dirigido a alunos do ensino secundário, atualmente com mais de 60 escolas inscritas, para fomentar a atitude empreendedora entre os jovens, promovendo iniciativas que intensifiquem a sua criatividade e capacidade para trabalhar em equipa.

E ainda as Linhas de Financiamento. Para apoiar o financiamento, disponibilizamos um conjunto de linhas que enquadram o apoio a empresas de criação recente, das quais destacamos a Linha de Funding BEI, Linha Capitalizar, Linha Capitalizar Mais e a Linha de Apoio Desenvolvimento Negócio.

“(…) o mais importante é que sejam criadas condições para que haja financiamento desde a génese, que apoie a evolução dos modelos e ideias de negócio.”

Como vê as alternativas de financiamento à banca a que muitas das start-ups e pequenas empresas recorrem?
O ecossistema de empreendedorismo e inovação funciona com modelos e regras muito próprios, sendo que o mais importante é que sejam criadas condições para que haja financiamento desde a génese, que apoie a evolução dos modelos e ideias de negócio. Neste contexto, as alternativas de financiamento devem ser vistas como complementares, que cumprem necessidades diferentes, em diferentes momentos temporais.

Nós temos procurado estar cada vez mais próximo deste segmento, também numa lógica de hub, agregando os parceiros do ecossistema, que sustente contactos com investidores, parceiros, numa lógica de networking, tão relevante para este segmento.

*Responsável pela Banca de Empresas e Institucionais

Comentários

Artigos Relacionados