Entrevista/ “O sucesso mede-se pela qualidade dos feitos da equipa e não pelos do líder”

Filipe Nogueira, The Wonderful Company

Com uma carreira internacional de vários anos, o jovem Filipe Nogueira, atualmente vice-presidente para a área de Finanças e Operações de Vendas para a unidade de vendas da norte-americana The Wonderful Company, falou ao Link To Leaders das diferenças entre aquele mercado e o português e da forma como um líder deve gerir as suas equipas.

A paixão pelo desafio de resolver problemas foi o que atraiu Filipe Nogueira para a biologia, numa primeira fase, e, posteriormente, para a consultoria e gestão onde se move atualmente, concretamente na Wonderful Sales, do grupo norte americano Wonderful Company. Ex-aluno do The Magellan MBA da Porto Business School, Filipe  foi escolhido entre os cerca de 6 mil Alumni da instituição, com o prémio revelação, uma distinção que tem em conta critérios como o impacto na sociedade e a ligação à faculdade.

Apesar da sua formação base na área das ciências exatas, Filipe Nogueira destacou-se pela sua carreira internacional no setor da gestão e consultadoria, tendo trabalhado em empresas como a Unicer e a McKinsey & Company.
A formação em gestão, feita na Porto Business School (através do The Magellan MBA), e que, inicialmente, tinha como objetivo ser o “acelerador” da sua carreira na Unicer, acabou por ser, lembra, o catalizador de mudança e da passagem para um papel de gestão, inicialmente numa perspetiva de consultadoria de gestão com a McKinsey & Company e depois na The Wonderful Company.

Atualmente, vive e trabalha nos Estados Unidos concretamente em Los Angeles, na Wonderful Sales, o braço responsável pelas vendas do grupo Wonderful Company, empresa onde ingressou no início do ano passado e onde é vice-presidente para a área das Finanças e Operações de Vendas para a unidade de vendas da empresa. É a sua visão internacional e experiência no mundo da gestão que partilha com o Link To Leaders.

Define-se como um líder de pessoas eficaz. Quais são as características principais de um bom líder?
Acredito que ainda tenho uma jornada relevante a percorrer antes de ter uma resposta efetiva a essa questão. Até ao momento, tenho seguido alguns princípios que fui observando de alguns dos que tem sido os meus mentores e alvos de inspiração em termos de liderança – especialmente aqueles que tenho tido a felicidade de interagir de uma forma próxima. Em primeiro lugar, focar-se em desenvolver a equipa para que sejam melhores que ele(a) – o sucesso mede-se pela qualidade dos feitos da equipa e não pelos feitos do líder. Dito isto, deve ter sempre presente que a responsabilidade final de qualquer decisão tomada pela equipa é de quem a lidera. Isto implica que se algo correr menos bem, o líder deve assumir a responsabilidade. No caso de ser um sucesso, deve partilhar os louvores. No meio de tudo isto, creio que não ser demasiado sério é crítico – garantidamente tudo o que fazemos é de extrema importância, mas relativizar e conseguir incluir um tom jovial torna-se fulcral para manter a energia em “altas” em momentos de maior tensão.

Quais são os princípios fundamentais para gerir pessoas eficazmente?
Não sei se existe uma fórmula mágica… Para mim, um misto de estabelecer expectativas muito claras desde o princípio da tarefa ou projeto, criar um ambiente propício à discussão e partilha de perspetivas diferentes e garantir que se criam condições para todos se poderem divertir enquanto estão a atuar ao mais alto nível, tem-se revelado bastante eficaz. Acredito que outros terão abordagens diferentes. É importante que o estilo de gestão da equipa se adapte ao que são os elementos que estimulam o “líder”… Para mim, um misto de ser desafiado com poder divertir-me funciona perfeitamente.

“(…) as principais [na gestão de pessoas] surgem quando os objetivos estão significativamente desalinhados (…)”.

E as maiores dificuldades na gestão de pessoas?
Na minha experiência até este momento, as principais dificuldades surgem quando os objetivos estão significativamente desalinhados, sendo particularmente problemático quando isto ocorre sem os membros da equipa se aperceberem. Naturalmente, o que motiva cada um de nós difere, por vezes de uma forma significativa. A clarificação de expetativas (para todos os envolvidos) numa fase inicial de qualquer projeto pode ajudar significativamente.

Começou o seu percurso académico na área da Biologia, mas depois de terminar o MBA o percurso profissional mudou para a área de gestão. Onde surgiu este interesse?
O princípio que me atraiu para a Biologia foi o mesmo que me levou para a consultadoria e gestão: uma paixão pelo desafio de resolver problemas de uma forma (mais ou menos) estruturada.
A minha experiência no mundo da investigação demonstrou que mais do que a paixão pelo tópico em si (na altura a ideia de “brincar” com um dos elementos fundamentais e mais em voga na Biologia – o DNA – era extrememente apelativo), o processo de ter desafios constantes que pudesse “quebrar” era bastante mais entusiasmante!

“Apesar de acreditar que o sistema de educação em Portugal tem feito enormes progressos no sentido de desenvolver o sentido de empreendedorismo e uma maior propensão à tomada de risco, diria que ainda estamos significativamente atrás do que é a realidade nos EUA.”

Quais são as grandes diferenças entre a forma de operar das empresas norte-americanas e portuguesas?
Acredito que há várias dimensões que levam a um processo operacional significativamente diferente – sendo que há três mais evidentes: cultura de empreendedorismo, contexto legal/regulamentar e dimensão do mercado (ou escala no geral). As questões de cariz legal e de dimensão (apesar de regulamentações distintas de Estado para Estado, na sua grande maioria as empresas veem os EUA como um mercado só) são mais óbvias. No que respeita à cultura, apesar de acreditar que o sistema de educação em Portugal tem feito enormes progressos no sentido de desenvolver o sentido de empreendedorismo e uma maior propensão à tomada de risco, diria que ainda estamos significativamente atrás do que é a realidade nos EUA. A ideia de atividades como a pequena “barraca de limonada” ainda em muito jovens, acredito que seja um dos fatores que impregna uma visão de empreendedorismo que é clara na população empreendedora.

As multinacionais são uma constante no seu percurso profissional. Já pensou em criar alguma start-up ou ajudar o desenvolvimento de um pequeno negócio?
Está nos planos… Estou neste momento a iniciar contactos com uma non for profit que apoia famílas carenciadas com refeições, utilizando parecerias com cadeias de supermercados. O principal problema que eles tem atualmente é que têm sido extremamente eficazes em pequenas comunidades e querem crescer rapidamente dado que receberam fundos de dois ou três players. Creio que, no curto a médio prazo, gostaria de aplicar os conhecimentos que fui desenvolvendo de gestão e da indústria de bens de consumo a pequenas non for profit que se foquem em nutrição.

“Acredito sinceramente que há imensas oportunidades, de imenso valor, em Portugal que permitem crescer de forma significativa”.

Trabalhou em três países e para vários mercados. Que conselho daria a alguém que tem uma oferta para sair do país, mas que tem medo de sair da zona de conforto?
Tudo se resume ao que são os objetivos de cada um e ao que nos faz “vibrar”. O facto de algo nos criar desconforto e aquela sensação de “borboletas no estômago” tipicamente quer dizer que tem potencial para nos fazer crescer – seja em termos profissionais seja pessoais.
Naturalmente que esse processo traz compromissos e, muitas vezes, leva ao afastamento do que são as rotinas e das pessoas que temos no círculo próximo. Acredito sinceramente que há imensas oportunidades, de imenso valor, em Portugal que permitem crescer de forma significativa. Para mim a vantagem de oportunidades fora fundamenta-se na componente do desafio – para uma posição semelhante, o fato de ser num contexto diferente coloca um desafio adicional… E isso é um elemento extremamente motivacional para mim.

Numa abordagem muito “consultaduresca”, o melhor conselho que acredito que posso dar é para fazerem um exercício sincero de prós e contras. Em primeiro lugar, listem o que é realmente importante e vos faz “vibrar” (e quando digo listem, sugiro que o escrevam, se possível em formato de colunas listadas por relevância). De seguida, para cada uma das oportunidades em cima da mesa (e pode ser tão simples como “ficar ou sair”), tentem ser objetivos em como cada uma delas se classifica em cada uma das colunas que listaram no passo um do exercício. A resposta não tem de ser “matemática”, mas deve ajudar a tomar a decisão.

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