Opinião
O que interessa são os fins e não os meios
Aplicar à gestão o conceito de “só olho aos fins e não olho aos meios” significa adotar uma abordagem focada exclusivamente nos resultados, sem dar a devida atenção aos processos, métodos ou valores utilizados para alcançá-los. Foi esta a resposta que o ChatGPT deu à minha pergunta.
O foco excessivo nos resultados leva obviamente a uma abordagem da gestão preocupada, sobretudo, com o curto prazo, com o imediato e com o resultado rápido. Podemos obviamente numa situação de exceção (uma pandemia, por exemplo) ter que tomar decisões urgentes e até imediatas, mas até numa situação destas, muita gente, em muitos países, criticou (e bem) a dureza dos meios utilizados para alcançar um fim que se dizia maior. Entra aqui a avaliação ética, hoje-em-dia tão maltratada. Quando se fala em ética para muita gente lembra, inevitavelmente, o célebre Diácono Remédios e a sua intervenção crítica sobre os diversos assuntos a que ele assistia. Mas ética não é isso.
Numa definição muito pessoal direi que é, sobretudo, fazer o que devemos fazer e o que está certo, em cada momento. E aqui é que ‘a porca torce o rabo’ porque ficamos subordinados a qual é a minha definição pessoal de “dever” e de “estar certo”. Infelizmente, em muitas situações empresariais e políticas (e isto desde sempre) condiciona-se estes aspetos àquilo que dá jeito num determinado momento ou que mais satisfaz. É a “minha” ética, e como é minha, é a mais correta e até inabalável. Aqui o interesse pessoal ou de um determinado grupo (e até empresa) sobrepõe-se ao bem maior que é o bem de todos. E, por isso, os meios não contam, e por isso a ética torna-se torneável, mas sempre com o convencimento pessoal que somos pessoas éticas.
Esta é a razão pela qual dando relevo à responsabilidade social da minha empresa tenho, simultaneamente, de assumir uma atitude ética. Não falo de um manual escrito e altamente elaborado, mas de uma atitude. A ética pode-se escrever, mas aí fica apenas pelas intenções como algo externo. Tem de ser algo que vem de dentro e que olha para o presente e avalia a melhor maneira de atingir o futuro que se pretende. E por isso os meios são importantes, porque estes, sendo éticos, conduzem a um fim, seguramente melhor para todos. Como diz Mario Sérgio Cortella, filósofo brasileiro “É necessário cuidar da ética para não anestesiarmos a nossa consciência e começarmos a achar que tudo é normal.”
Pode parecer uma conversa muito idealista para os dias de hoje até porque, quer nas empresas quer na política, se vê cada vez mais defender fins, utilizando os piores meios, e sempre com os olhos postos nos resultados imediatos. Eu diria que parece que até já se deixou de ver a ética como algo moldável aos nossos gostos para, e ainda pior, termos zero de preocupação com valores e princípios que deviam ser comuns a toda a humanidade.
Uma vez num país distante em que procurava fazer negócios perguntei a um advogado local como funcionava a Máfia nesse país. Respondeu-me que não tinha que me preocupar porque eles passavam fatura…
É nos meios que se vê a virtude de um político ou gestor, o fim é sempre incerto por isso não percamos a consciência da nossa responsabilidade.
Pedro Alvito é, desde 2017, professor na AESE, onde leciona na área de Política de Empresa, tendo dado aulas também na ASM – Angola School of Management. Autor de duas dezenas de case studies publicados pela AESE e de dois livros publicados pela Editora Almedina – “Manual de como construir o futuro nas empresas familiares” e “Um mundo à nossa espera, manual de globalização”. Escreve regularmente em vários órgãos de comunicação social especializada. Desde 2023 é presidente do Conselho de Família e da Assembleia Familiar do grupo Portugália e membro do Conselho Consultivo da GWIKER.








