Opinião
Liderança e ética: quando no melhor pano cai a nódoa

Ser líder, como tudo na vida, envolve riscos, e por isso, cada líder de uma organização deve estar ciente dos riscos inerentes à sua atividade e desenvolver planos para mitigá-los.
Um líder empresarial, especialmente um CEO, enfrenta diversos riscos que podem impactar sua carreira ou a continuidade da empresa. Entre os principais riscos relacionados com o tema, destacam-se:
- Risco reputacional: refere-se ao dano à imagem da organização ocasionado por escândalos ou pelo descumprimento de padrões éticos.
- Risco de governança: refere-se aos prejuízos à sua governança corporativa decorrentes de práticas como conflitos de interesse e falta de transparência.
O propósito deste artigo é refletir sobre como falhas éticas em lideranças de topo expõem fragilidades e ensinam sobre a importância de uma cultura de integridade organizacional. Líderes (alias, todos) devem agir com integridade, pois a reputação é algo que leva tempo a ser construída, mas pode ser destruída num segundo. A questão que se impõe é: além das competências, quais padrões éticos devem ser exigidos daqueles em posições de poder?
Nos últimos meses, alguns dos riscos econômicos e de mercado se materializaram em grandes corporações. Também se evidenciou o risco reputacional relacionado ao comportamento pessoal dos líderes, em especial no que diz respeito a relacionamentos com colegas de trabalho — um risco que carece de maior mitigação.
Uma das formas de mitigar esses riscos é a regulamentação dos relacionamentos interpessoais dentro da organização. Apesar da existência de códigos de conduta que exigem a divulgação de casos de potencial conflito de interesses, muitos líderes e gestores acabam desconsiderando tais normas. Isso tem gerado uma série de casos que deveriam ser constantemente refletidas por todos os líderes, considerando suas implicações pessoais, familiares e empresariais.
Os códigos de conduta estabelecem que esses casos devem ser divulgados, justamente devido ao seu potencial conflito de interesses, reforçando a importância da governança corporativa. Surge, então, outra questão: como a governança pode prevenir ou responder a falhas éticas na liderança?
Alguns casos recentes ilustram essa realidade:
- No meio político, houve casos de relações impróprias entre líderes e assessores, que resultaram em crises de confiança pública e demissões.
- No desporto, uma relação inadequada entre treinador e atleta levou à perda do cargo.
- Em setores empresariais e militares, diversos incidentes envolvendo líderes em situações de conflito ético ganharam destaque internacional.
- Casos emblemáticos em grandes empresas mostraram que relacionamentos ocultos entre líderes e subordinados, que violam códigos internos, acarretaram demissões, investigações internas e impactos negativos profundos na cultura organizacional e pode impactar negativamente os resultados financeiros.
Diante dessas situações, algumas lições essenciais se destacam para a liderança:
- A transparência deve ser um valor inegociável, permeando todas as ações e decisões.
- O exemplo pessoal do líder é fundamental para definir o tom da cultura organizacional e consolidar princípios éticos.
- A responsabilidade deve ser reforçada, especialmente conforme aumenta a posição hierárquica.
Concluindo, a liderança não deve se limitar apenas a alcançar objetivos e metas financeiras. Ela implica, também, um compromisso com valores fundamentais como o respeito, a ética, a transparência e a responsabilidade.
Organizações cujos líderes atuam com integridade e ética fomentam um ambiente saudável e baseado em confiança mútua e essa integridade se manifesta no dia dia e nas decisões e na assunção plena da responsabilidade pelos resultados.
Um líder inspira confiança não apenas pelo que realiza na liderança, mas, principalmente, pela coerência entre o dizer e o fazer.