Opinião

Liderança e ética: quando no melhor pano cai a nódoa

Carlos Rocha, economista e gestor

Ser líder, como tudo na vida, envolve riscos, e por isso, cada líder de uma organização deve estar ciente dos riscos inerentes à sua atividade e desenvolver planos para mitigá-los.

Um líder empresarial, especialmente um CEO, enfrenta diversos riscos que podem impactar sua carreira ou a continuidade da empresa. Entre os principais riscos relacionados com o tema, destacam-se:

  • Risco reputacional: refere-se ao dano à imagem da organização ocasionado por escândalos ou pelo descumprimento de padrões éticos.
  • Risco de governança: refere-se aos prejuízos à sua governança corporativa decorrentes de práticas como conflitos de interesse e falta de transparência.

O propósito deste artigo é refletir sobre como falhas éticas em lideranças de topo expõem fragilidades e ensinam sobre a importância de uma cultura de integridade organizacional. Líderes (alias, todos) devem agir com integridade, pois a reputação é algo que leva tempo a ser construída, mas pode ser destruída num segundo. A questão que se impõe é: além das competências, quais padrões éticos devem ser exigidos daqueles em posições de poder?

Nos últimos meses, alguns dos riscos econômicos e de mercado se materializaram em grandes corporações. Também se evidenciou o risco reputacional relacionado ao comportamento pessoal dos líderes, em especial no que diz respeito a relacionamentos com colegas de trabalho — um risco que carece de maior mitigação.

Uma das formas de mitigar esses riscos é a regulamentação dos relacionamentos interpessoais dentro da organização. Apesar da existência de códigos de conduta que exigem a divulgação de casos de potencial conflito de interesses, muitos líderes e gestores acabam desconsiderando tais normas. Isso tem gerado uma série de casos que deveriam ser constantemente refletidas por todos os líderes, considerando suas implicações pessoais, familiares e empresariais.

Os códigos de conduta estabelecem que esses casos devem ser divulgados, justamente devido ao seu potencial conflito de interesses, reforçando a importância da governança corporativa. Surge, então, outra questão: como a governança pode prevenir ou responder a falhas éticas na liderança?

Alguns casos recentes ilustram essa realidade:

  • No meio político, houve casos de relações impróprias entre líderes e assessores, que resultaram em crises de confiança pública e demissões.
  • No desporto, uma relação inadequada entre treinador e atleta levou à perda do cargo.
  • Em setores empresariais e militares, diversos incidentes envolvendo líderes em situações de conflito ético ganharam destaque internacional.
  • Casos emblemáticos em grandes empresas mostraram que relacionamentos ocultos entre líderes e subordinados, que violam códigos internos, acarretaram demissões, investigações internas e impactos negativos profundos na cultura organizacional e pode impactar negativamente os resultados financeiros.

Diante dessas situações, algumas lições essenciais se destacam para a liderança:

  • A transparência deve ser um valor inegociável, permeando todas as ações e decisões.
  • O exemplo pessoal do líder é fundamental para definir o tom da cultura organizacional e consolidar princípios éticos.
  • A responsabilidade deve ser reforçada, especialmente conforme aumenta a posição hierárquica.

Concluindo, a liderança não deve se limitar apenas a alcançar objetivos e metas financeiras. Ela implica, também, um compromisso com valores fundamentais como o respeito, a ética, a transparência e a responsabilidade.

Organizações cujos líderes atuam com integridade e ética fomentam um ambiente saudável e baseado em confiança mútua e essa integridade se manifesta no dia dia e nas decisões e na assunção plena da responsabilidade pelos resultados.

Um líder inspira confiança não apenas pelo que realiza na liderança, mas, principalmente, pela coerência entre o dizer e o fazer.

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Carlos Rocha

Carlos Rocha

Carlos Rocha é economista e atualmente é vogal do Conselho de Finanças Públicas de Cabo Verde e ex-presidente do Fundo de Garantia de Depósitos de Cabo Verde. Foi administrador do Banco de Cabo Verde, onde desempenhou anteriormente diversos cargos de liderança. Entre outras funções, foi administrador executivo da CI - Agência de Promoção de Investimento. Doutorado em Economia Monetária e Estabilização macroeconómica e política monetária em Cabo Verde, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão – Lisboa, é mestre em... Ler Mais..

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