Opinião

A importância da liderança e o impacto na felicidade dos trabalhadores

Teresa Damásio, administradora do Grupo Ensinus

Ao longo dos últimos anos tenho refletido sobre um tema que considero central para o futuro das organizações: de que forma a liderança empresarial impacta a vida das pessoas.

Passamos uma parte significativa das nossas vidas no trabalho — muitas vezes mais tempo do que com as nossas famílias — e, inevitavelmente, a forma como lideramos influência o bem-estar individual e coletivo.

Uma liderança excessivamente rígida e hierarquizada limita a inovação, desmotiva as equipas e reduz a produtividade. Pelo contrário, lideranças flexíveis, humanizadas e abertas ao diálogo criam um ambiente onde as pessoas se sentem valorizadas, ouvidas e integradas no processo de crescimento da organização e desenvolvimento sustentável da organização.

O conceito de felicidade dentro das empresas não é simples nem imediato. Cada colaborador vive realidades e contextos distintos, além de cada um ter expectativas diferentes.

O grande desafio das áreas dos Departamentos de Talent, passam, precisamente, por equilibrar estas dimensões: compreender as perspetivas individuais, alinhar expectativas e criar condições para que cada pessoa se sinta parte de um projeto maior. Ouvir os nossos colaboradores é, muitas vezes, a chave para acelerar a transformação organizacional, trazer a inovação necessária e fazer com que os trabalhadores sintam que são parte da empresa.

Estudos como o Happiness Works[1], de Georg Dutschke e Guilherme Vaz Monteiro, demonstram que organizações que se preocupam com a felicidade dos seus colaboradores retêm mais talento, apresentam maior eficiência operacional e conquistam clientes mais satisfeitos.

A inovação e o bem-estar acontecem de ‘dentro para fora’. Mas, como construir empresas mais felizes? A resposta passa por pilares sólidos, como uma cultura organizacional assente no respeito e na autenticidade; por lideranças mais empáticas e inspiradoras, que promovam confiança, colaboração e liberdade na partilha de ideias; o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, prevenindo a sobrecarga de trabalho; Uma gestão baseada na meritocracia, que valorize e reconheça o contributo individual, promova o esforço e o Investimento contínuo em formação e oportunidades de desenvolvimento.

Estes pilares não só fomentam bem-estar, como também criam ambientes produtivos e atrativos, capazes de reter talento. A evidência nacional e internacional é clara: empresas onde as pessoas estão felizes são mais sustentáveis, produtivas e bem-sucedidas.

O desafio torna-se ainda mais relevante com a entrada dos comumente denominados ‘Gen Z’  no mercado de trabalho. Esta geração valoriza o propósito, a autenticidade e a saúde mental. Já não procura apenas segurança ou remuneração; procura projetos que façam sentido, onde exista espaço para crescer e contribuir. Quando não encontram esta realidade, afastam-se rapidamente e vão à procura de novas oportunidades. Os seus principais insights não passam pela remuneração, mas sim pelo seu bem-estar e pelo propósito do projeto que estão a abraçar. Procuram qualidade de vida e o compromisso com o emprego para a vida, que acontecia com gerações anteriores, não faz mais parte da sua forma de estar. Tais discrepâncias criam ainda um verdadeiro choque geracional dentro das empresas e com os quais os departamentos de Recursos Humanos têm de aprender a lidar.

Hoje, mais do que nunca, é fundamental que as empresas saibam gerir expectativas, promover o equilíbrio entre gerações e, acima de tudo, cultivar lideranças humanas e inspiradoras. Porque só assim criaremos organizações fortes, inovadoras e preparadas para o futuro.

Indo ao encontro da mensagem central de Martin Luther King que proferiu no seu intemporal discurso ‘I have a dream’, transmitindo-nos que o mundo precisa de mais líderes que se guiem pela sentido de justiça social e pelo amor à  humanidade, transpondo-o para as organizações e para os seus líderes que devem seguir estas palavras e colocá-las em prática no seu quotidiano, para que, também eles, transformarem as suas empresas em lugares de verdadeiro bem-estar. Só assim contribuímos para a construção de um mundo melhor, só assim contribuímos para o bem  coletivo.

Ser feliz é essencial!

Bibliografia:

RH Magazine (2025, março, 20). Felicidade Organizacional: A Chave para um Mundo mais Humano e Sustentável. Artigo disponível em https://rhmagazine.pt/felicidade-organizacional-a-chave-para-um-mundo-mais-humano-e-sustentavel/

[1] Estudo lançado em 2012 que é um marco na área da investigação no âmbito do conceito felicidade organizacional em Portugal e foi desenvolvido em estreita colaboração com os parceiros da Revista Forbes APG – Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas, Happy Brands, ACEGE, SRS Legal e RHmagazine

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Teresa Damásio

Teresa Damásio

Teresa Damásio é Administradora do Grupo Ensinus desde julho de 2016, que faz parte do Grupo Lusófona, o maior grupo de ensino de língua portuguesa no mundo. É também Administradora do Real Colégio de Portugal e do Grupo ISLA. Presidente do Conselho de Administração da Universidade Lusófona da Guiné-Bissau e Membro do Conselho de Administração do ISUPE Ekuikui II, em Angola. Presentemente, integra a Direcção da AEEP. Foi fundadora da Internacionalização do Grupo Lusófona, passou pela Assembleia da República como... Ler Mais..

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