Entrevista/ “Queremos ser a referência mundial em software para a economia circular”

Ricardo Morgado, cofundador da LoopOS

A start-up portuguesa venceu a edição nacional da Startup World Cup 2025 e prepara-se para competir em Silicon Valley, com mais de 70 empresas de todo o mundo. Para Ricardo Morgado, cofundador da LoopOS, este é um marco que reforça a ambição global da plataforma que já trabalha com clientes como Fnac, Auchan, Decathlon, MediaMarkt e Fidelidade.

A LoopOS nasceu com a missão de acelerar a transição para a economia circular através de uma plataforma tecnológica modular e escalável que já conquistou grandes grupos em Portugal e além-fronteiras.

Depois de vencer a edição portuguesa da Startup World Cup, a empresa prepara-se para disputar a final em Silicon Valley, onde procura não apenas o prémio de um milhão de dólares, mas, sobretudo, ganhar visibilidade e acesso ao ecossistema global de inovação.

Em entrevista ao Link To Leaders, Ricardo Morgado revela o que esta conquista representa, os desafios de escalar uma solução para diferentes mercados e a visão de transformar a LoopOS no standard mundial para a economia circular.

O que significou para a LoopOS vencer a edição portuguesa da Startup World Cup?

Foi um reconhecimento muito importante do trabalho que temos vindo a desenvolver. É mais uma avaliação externa daquilo que estamos a construir, com especial relevância pela independência do júri e pela concorrência elevadíssima que enfrentámos. Este resultado aumenta a nossa responsabilidade, mas ao mesmo tempo dá-nos ainda mais ânimo para continuar a escalar o LoopOS.

Estavam à espera desta vitória ou foi uma surpresa?

Acabou por ser uma surpresa, porque nunca sentimos que estivesse garantido, dada a concorrência muito forte. Mas sabíamos que tínhamos um projeto sólido e isso deu-nos confiança para apresentar o nosso pitch.

“Temos uma proposta tecnológica clara, já com clientes de referência, e mostramos que a economia circular não é apenas um ideal, é um negócio escalável”.

Qual acha que foi o grande fator diferenciador que convenceu o júri a escolher a LoopOS?

Acredito que foi a combinação entre impacto e execução. Temos uma proposta tecnológica clara, já com clientes de referência, e mostramos que a economia circular não é apenas um ideal, é um negócio escalável.

Agora seguem para a grande final em Silicon Valley. Como está a equipa a preparar-se para este desafio?

Estamos a ajustar o pitch para uma audiência global, a trabalhar mensagens simples e diretas, e a reforçar a preparação da equipa para networking com investidores e parceiros internacionais.

Vão competir com mais de 70 start-ups de todo o mundo. O que esperam encontrar nesse palco global?

Para uma start-up é fundamental ter mundo, e esta final é uma oportunidade única de o fazer. Vamos estar num só lugar com dezenas de equipas brilhantes, onde se concentra uma imensidão de talento e ideias espetaculares. Esperamos encontrar inovação de altíssimo nível, oportunidades de colaboração e contactos que podem acelerar a nossa entrada noutros mercados.

“Ganhar o prémio seria fantástico, mas a nossa prioridade é ganhar visibilidade e acesso ao ecossistema global de inovação”.

Qual é a vossa principal ambição em São Francisco: trazer o prémio de um milhão ou sobretudo ganhar visibilidade internacional?

Ganhar o prémio seria fantástico, mas a nossa prioridade é ganhar visibilidade e acesso ao ecossistema global de inovação. Isso pode abrir portas que valem muito mais do que o prémio.

A LoopOS criou uma plataforma modular e escalável para gerir canais de economia circular. Pode explicar, de forma simples, como funciona?

O LoopOS é um ERP de nova geração, feito para a circularidade. Orquestra processos como trade-in, reparação, refurbish, revenda ou doação, integrando transportadoras, oficinas, marketplaces e sistemas internos das empresas. O que torna a plataforma única é permitir que cada produto possa ter múltiplas opções de reaproveitamento, estendendo a sua vida útil e criando novos canais de valor. Até dentro das próprias empresas é possível lançar iniciativas internas com impacto enorme. E tudo isto conseguimos fazer à escala, com a complexidade e interoperabilidade que cada organização necessitar, graças à flexibilidade da tecnologia, ao mesmo tempo que fornecemos KPIs claros de circularidade.

Quais são hoje os principais clientes e setores que já estão a utilizar a vossa solução?

Já contamos com muitos clientes, sendo os principais grandes grupos como a Fnac, a Auchan, a Decathlon, a MediaMarkt, a Rowenta, a Fidelidade, a Sonae ou CTT. Todas estas empresas estão a usar o LoopOS como enabler das suas estratégias circulares. O mais interessante é que a mesma tecnologia consegue alavancar iniciativas muito distintas em setores completamente diferentes.

Qual tem sido o maior desafio em implementar práticas de economia circular nas grandes empresas?

Temos encontrado uma enorme abertura das empresas para este tema. Os desafios muitas vezes prendem-se apenas com tempos de decisão que podem ser mais longos do que aquilo que desejaríamos. Mas nota-se uma vontade enorme no ecossistema, sobretudo nas grandes empresas, para pensarem circular e adaptarem-se a essa tendência.

Em fevereiro do ano passado fecharam uma ronda de 3 milhões de euros. Que impacto teve esse investimento no vosso crescimento?

Foi uma validação muito importante e deu-nos os recursos necessários para cumprir o nosso roadmap. Tivemos também a sorte de garantir um grupo de investidores totalmente alinhados connosco, que têm sido uma força decisiva no nosso crescimento. Refiro-me à 3xP Global, que liderou a ronda, mas também à Beta Capital e à Fundbox, cujo apoio tem sido fundamental.

“Sim, vamos partilhar muito em breve notícias muito positivas em França. Além disso, estamos a trabalhar ativamente os mercados da Alemanha e da Bélgica”.

Portugal, Espanha e França foram identificados como mercados prioritários. Já estão a equacionar novos países?

Sim, vamos partilhar muito em breve notícias muito positivas em França. Além disso, estamos a trabalhar ativamente os mercados da Alemanha e da Bélgica. E claro, com a final em Silicon Valley vamos ter de olhar para os Estados Unidos mais cedo do que prevíamos, o que é excelente para acelerar a nossa expansão.

A equipa cresceu rapidamente para 35 pessoas. Como têm gerido este crescimento acelerado?

Temos uma equipa brilhante, que é a grande responsável pelos resultados que estamos a alcançar. Procuramos gerir este crescimento com muita comunicação, organização e um profundo espírito de cooperação e respeito entre todos.

Como vê o papel da LoopOS na transição para uma economia mais circular e sustentável?

Acreditamos que, como em qualquer indústria que se consolida, também a economia circular vai precisar de standards em termos de sistemas e tecnologia. Só assim será possível tornar os modelos circulares escaláveis e eficientes. O nosso objetivo é precisamente esse: que o LoopOS se torne o standard da indústria nesta área, a infraestrutura digital de referência para a transição para uma economia mais circular e sustentável.

Qual é a vossa visão a médio prazo: serem líderes europeus na área ou já têm os olhos postos no mercado global?

Desde o início sempre pensámos global, embora o foco inicial estivesse sobretudo no mercado europeu. Esta oportunidade em Silicon Valley vem acelerar essa ambição e obriga-nos a olhar para fora da Europa mais cedo do que prevíamos. A nossa visão é clara: queremos ser a referência mundial em software para a economia circular.

“Outro conselho que daria é não ligar muito aos “gurus do empreendedorismo”, que inundam o LinkedIn com textos cheios de intervalos nos parágrafos, caps locks e egocentrismo (…)”.

Que mensagem gostaria de deixar ao ecossistema português de inovação e às start-ups que estão agora a começar?

Diria para não se deixarem intimidar nunca pelo facto de estarmos em Portugal. É perfeitamente possível construir projetos globais a partir daqui e não faltam bons exemplos de sucesso. Sempre acreditámos que o nosso país é uma excelente “test bed”, com condições muito boas para testar rapidamente no mercado e depois escalar. Pode ser também importante escolher bons programas de incubação e depois de aceleração. Em Portugal eles existem, como o Instituto Pedro Nunes, onde estivemos incubados, ou a Unicorn Factory, onde estamos agora no programa de scale-up.

Outro conselho que daria é não ligar muito aos “gurus do empreendedorismo”, que inundam o LinkedIn com textos cheios de intervalos nos parágrafos, caps locks e egocentrismo, mas sim procurar exemplos fidedignos que se adequem à área e estadio da empresa

E, acima de tudo, é preciso muito trabalho, capacidade de ouvir o mercado, e a coragem de pivotar quando for necessário. O caminho nunca é linear e raramente acontece exatamente como planeamos, mas é precisamente isso que o torna tão desafiante e recompensador.

 

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