Opinião
Verdades duras do jogo das start-ups

O investidor não é teu amigo. Ele não está aqui para te salvar, nem para acreditar em ti quando nem tu acreditas. Quer retorno, quer multiplicar capital, quer apostar em cavalos que correm rápido.
Não há mal nenhum nisso, é o jogo. Mas se entras a achar que o investidor vai salvar a tua start-up, já perdeste. O único respeito que ele tem é pela execução.
Fracassar em público é um privilégio. Dói, mas significa que tiveste a coragem de aparecer. A maioria esconde-se no conforto da perfeição nunca alcançada. Quem falha em público está no jogo, ganha casca dura e volta mais forte.
O teu cofundador vai-te falhar. Vai desistir, duvidar de ti ou até sair no pior momento. É traição, mas também um filtro natural. O empreendedorismo separa quem aguenta de quem cede. No campo de batalha, mesmo sozinho, tens de continuar.
O mercado não quer saber da tua ideia. Ideias não valem nada. O mercado paga soluções reais para dores reais. Se não consegues vender, a tua ideia é só ego. O silêncio do cliente é mais doloroso que o “não”, porque mostra irrelevância. Não há tempo a perder em ilusões.
Não és especial. Não interessa de onde vens ou quantos prémios tens. Só importa se consegues construir, vender e entregar. Empreendedorismo é contacto: vence quem aguenta pancada e continua de pé. O sucesso não é destino, é consistência.
A festa da dor nunca acaba. Cada vitória abre uma guerra maior: investidores a cobrar, clientes a exigir, equipas para gerir. Não existe linha de chegada. O empreendedorismo é uma maratona infinita onde a dor é parte do jogo. Aprende a dançar com ela.
Ninguém quer saber do teu pitch. Decks bonitos não fecham negócios. Execução, tração e números falam mais alto. Se precisas de um pitch perfeito para parecer relevante, já perdeste.
Escalar demasiado cedo é suicídio. Contratar, gastar e montar processos antes de provar retenção e vendas repetíveis só queima recursos. Primeiro valida, depois acelera.
A solidão do founder é real. A responsabilidade nunca é partilhada. É treino duro que te torna mais rápido, instintivo e resiliente. O founder solitário não é vítima, é arma.
A dor do cliente é mais importante que a tua visão. Visão não paga contas. Cliente paga. Às vezes vais ter de matar partes da tua visão para resolver dores reais. Se não, ficas irrelevante.
Levantar capital não te torna vencedor. É só mais pressão e expetativas. O dinheiro acelera o que já existe, produto sólido, clientes fiéis e vendas. Sem isso, só acelera o fracasso.
Se precisas de motivação, já perdeste. Motivação é fogo de palha. O jogo exige disciplina, consistência e trabalho invisível. O que sobrevive não é o mais inspirado, é o mais consistente.
O produto nunca está pronto. Esperar pela perfeição é desculpa para não enfrentar o mercado. Lança imperfeito, aprende com feedback real e evolui. O mercado é o único juiz que conta.
A solidão do founder é inquebrável. É fardo e treino. Só tu sentes o peso, só tu decides. E é isso que te endurece e te prepara para continuar quando todos os outros já caíram.