Opinião

Etiqueta corporativa: assuntos que devem ser evitados no ambiente de trabalho

Carlos Rocha, economista e gestor

Com a chegada das férias, é natural desejar se desligar das obrigações profissionais e aproveitar o tempo com a família ou amigos — de preferência, longe das preocupações do trabalho. Ao retornar, é comum querer compartilhar com os colegas os bons momentos vividos.

No entanto, é importante saber que certos assuntos, por mais inofensivos que pareçam, podem comprometer sua imagem, desgastar relacionamentos e causar desconforto desnecessário. Estamos falando de etiqueta corporativa. Ainda que eu seja leigo na matéria, a minha experiência profissional ao longo dos anos permitiu observar como o código de conduta e boas maneiras evolui entre gerações. Já trabalhei com a geração que me antecedeu, com a minha geração e, atualmente, com a geração Z — cada uma com suas peculiaridades. Esta última, por exemplo, tem sido amplamente estudada por sua abordagem única ao mercado de trabalho e pela busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Embora certos temas pessoais possam parecer irrelevantes, eles ajudam a entender (ainda que não justificar) o comportamento de muitos colaboradores. Recentemente, deparei-me com um artigo da Business Insider que chamou a minha atenção. A revista entrevistou quatro especialistas em etiqueta corporativa para identificar os tópicos que devem ser evitados no ambiente de trabalho — e os motivos pelos quais esses temas geram ruído.

Referencial teórico

A literatura especializada mostra que é necessário ter cautela ao tratar de assuntos sensíveis, como crenças pessoais, idade e vida íntima. A abordagem desses temas deve respeitar a discrição que exigem.

Hudson (2014) afirma que existem estruturas invisíveis nas organizações que inibem a discussão aberta de estigmas, perpetuando uma cultura de silêncio. Da mesma forma, o estudo Communicating Across the Borders (2021) destaca a pressão para manter fronteiras rígidas entre o pessoal e o profissional, o que contribui para a exclusão de temas sensíveis no ambiente corporativo.

A MIT Sloan Management Review (2024) também discute a importância de estabelecer limites claros em relação a horários, disponibilidade e vida pessoal, como forma de evitar frustrações e mal-entendidos.

Por outro lado, há quem defenda que conversas difíceis podem e devem ocorrer, desde que de forma estruturada e respeitosa. No entanto, estudos como Taboo Topics in Business (Clise Etiquette, 2009) e Healthy Boundaries and Psychological Safety in the Workplace (HR Future) alertam para os riscos de ultrapassar certos limites. Para esses autores, respeitar o silêncio em alguns assuntos demonstra maturidade relacional, e não repressão.

A má gestão de temas delicados pode ainda desencadear comportamentos de incivilidade no ambiente corporativo, definidos como atitudes desrespeitosas, ainda que subtis.

Assuntos que merecem cautela

  1. Críticas às escolhas alimentares dos colegas
    Refeições são momentos íntimos. Comentários depreciativos sobre o que alguém come podem envolver questões de saúde, religião ou cultura e devem ser evitados. Segundo a especialista Jamila Musayeva, esse tipo de crítica é um “ataque silencioso”.
  2. Reclamar constantemente de estresse
    Expressar exaustão ou sobrecarga de forma recorrente pode parecer um desabafo, mas também cria um ambiente negativo. Musayeva alerta que isso pode gerar culpa ou competição velada com colegas que têm outro ritmo. O ideal é buscar apoio de forma individualizada.
  3. Relatar excessos durante o fim de semana
    Evite compartilhar detalhes sobre festas intensas, consumo excessivo de álcool ou comportamentos questionáveis fora do expediente. Tais relatos podem afetar sua credibilidade. Em vez disso, prefira destacar experiências que agreguem valor, como viagens, leituras ou aprendizagens, recomenda Jacqueline Whitmore, consultora de etiqueta empresarial.
  4. Expor detalhes da vida amorosa
    Relacionamentos são assuntos íntimos e, geralmente, não interessam aos colegas. Compartilhar demais pode confundir os limites entre vida pessoal e profissional, afirma Jo Hayes, fundadora do portal EtiquetteExpert.
  5. Dizer que está à procura de outro emprego
    Embora pareça um ato de transparência revelar que está num processo seletivo pode abalar a confiança da equipa e prejudicar sua imagem profissional antes mesmo de uma decisão ser tomada. O mais adequado é aguardar até ter uma definição formal para comunicar sua saída.

Conclusão
Embora o ambiente corporativo moderno valorize a autenticidade, abordar certos temas exige cautela. Evitar assuntos delicados não se trata de censura, mas de uma estratégia inteligente para manter um clima organizacional saudável. Pequenas falas podem ter grandes consequências — tanto positivas quanto negativas.

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Carlos Rocha

Carlos Rocha

Carlos Rocha é economista e atualmente é vogal do Conselho de Finanças Públicas de Cabo Verde e ex-presidente do Fundo de Garantia de Depósitos de Cabo Verde. Foi administrador do Banco de Cabo Verde, onde desempenhou anteriormente diversos cargos de liderança. Entre outras funções, foi administrador executivo da CI - Agência de Promoção de Investimento. Doutorado em Economia Monetária e Estabilização macroeconómica e política monetária em Cabo Verde, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão – Lisboa, é mestre em... Ler Mais..

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