Opinião

Empreender não é intuição, é conhecimento

Isabel Neves e Isabel Moço, Coordenadoras da pós-graduação de Empreendedorismo Online – Universidade Europeia

Vivemos numa época em que empreender se tornou quase uma palavra mágica. Um símbolo de autonomia, inovação e liberdade. É comum vermos histórias de sucesso associadas a uma espécie de “instinto empreendedor” — como se bastasse coragem, criatividade ou um talento inato para transformar ideias em negócios viáveis.

Mas esta visão romantizada do empreendedorismo pode ser perigosa. A verdade é simples e incontornável: lançar um negócio sem conhecimento é como navegar em mar aberto sem bússola nem mapa. A força de vontade pode manter-nos à tona por algum tempo, mas não evita que acabemos por afundar.

Os números comprovam isso. Segundo o Eurostat, cerca de 50% das empresas na União Europeia não sobrevivem aos primeiros cinco anos. Em Portugal, essa taxa é ainda mais sensível nos micro e pequenos negócios. As causas são diversas — desde fragilidade no acesso ao financiamento até questões estruturais — mas uma das principais razões é comum: a falta de preparação dos empreendedores em áreas críticas como gestão financeira, planeamento estratégico, marketing, enquadramento legal, liderança e gestão de equipas.

Felizmente, o conhecimento nunca foi tão acessível. Hoje, quem quer empreender encontra uma multiplicidade de recursos: cursos técnicos e de soft skills, workshops, programas de aceleração, formações online, redes de mentores e apoio de incubadoras. A desculpa do “não sei por onde começar” já não se aplica. Aprender é um ato de vontade — e uma exigência prática.

Contudo, não basta colecionar formações ou assistir a tutoriais. É necessário desenvolver uma mentalidade de aprendizagem contínua. O mercado muda, as preferências dos consumidores evoluem, e a tecnologia reconfigura os modelos de negócio. Um empreendedor que não se atualiza, rapidamente se torna irrelevante — mesmo que tenha começado com uma “Boa Ideia”!

Empreender exige visão, sim, mas acima de tudo, exige método. Requer domínio de ferramentas e competências: saber construir um plano de negócios, interpretar indicadores financeiros, avaliar risco, comunicar com eficácia, liderar equipas, e conhecer as obrigações legais e fiscais a cumprir. A intuição pode ser útil — mas é o conhecimento que sustenta a estratégia, a operação e o crescimento.

Por isso, antes de investir num negócio, invista em si. Leia, estude, ouça especialistas, conheça casos de sucesso, mas também de fracasso. Faça perguntas. Questione. Teste hipóteses. Compreenda o seu mercado e o seu cliente. Este percurso preparatório é aquilo que distingue um projeto frágil, de um negócio com verdadeiro potencial.

No empreendedorismo, como em tantas dimensões da vida, o sucesso raramente é sorte. É, quase sempre, o resultado de preparação, estudo, aprendizagem e muito, muito trabalho.

Porque empreender, afinal, não é instinto, nem apenas “jeito” ou talento – é conhecimento.

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