Opinião

Parar para liderar: por que as férias são um ativo estratégico

Alexandra Andrade, country manager da Adecco Portugal

Com a chegada do verão, o país abranda. As agendas esvaziam, os e-mails reduzem o ritmo e as equipas distribuem turnos para garantir que todos tenham direito a um período de pausa. É o ciclo natural do ano. Mas será que, nas lideranças, estamos a dar o verdadeiro valor a este momento?

Numa altura em que o mercado de trabalho português enfrenta uma crescente dificuldade em preencher vagas, o INE registou, um aumento significativo das ofertas de emprego não satisfeitas, refletindo a escassez de talentos em vários setores estratégicos, liderar bem significa não só recrutar com eficácia, mas sobretudo fidelizar, cuidar e desenvolver equipas de forma sustentável. E isso começa com uma cultura de descanso saudável.

Segundo o Global Workforce of the Future da Adecco (2024), apenas 37% dos colaboradores a nível global sentem que conseguem desligar verdadeiramente durante as férias. Este dado revela um paradoxo: promovemos o equilíbrio vida-trabalho como princípio, mas muitas vezes falhamos na sua prática. E os resultados estão à vista, níveis crescentes de burnout, perda de engagement e um turnover que custa caro às organizações.

Longe de ser um entrave à produtividade, as férias são um motor estratégico. A Harvard Business Review aponta que colaboradores que tiram férias regulares têm 40% mais probabilidade de receber uma promoção e são, em média, 25% mais produtivos. O descanso permite recuperar a clareza mental, fomentar a criatividade e tomar melhores decisões, capacidades críticas para qualquer função de liderança.

Ao nível macroeconómico, o impacto também é mensurável. A OCDE já demonstrou que países com maior índice de equilíbrio entre vida profissional e pessoal registam maior estabilidade no emprego e níveis superiores de inovação. A correlação entre bem-estar e performance é, hoje, inegável.

Como líderes, o nosso papel é duplo: dar o exemplo e criar condições para que o tempo de pausa seja respeitado, sem culpa, sem vigilância, sem medo. Isso implica repensar práticas, reforçar equipas e garantir que ninguém é “insubstituível” ao ponto de não poder parar. Esse é um sinal de maturidade organizacional.

Na Adecco, acreditamos que o futuro do trabalho exige uma nova visão de performance: mais humana, mais equilibrada e, sobretudo, mais inteligente. Uma liderança eficaz não se mede apenas pela capacidade de acelerar, mas pela sabedoria de saber quando abrandar.

Neste verão, o desafio que deixo aos líderes é claro: vamos parar, com intenção e com estratégia. Porque quem lidera bem, também sabe quando é hora de descansar.

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Alexandra Andrade

Alexandra Andrade

Alexandra Andrade é CEO da Adecco Portugal, com mais de 20 anos de experiência na área de Recursos Humanos, é licenciada em Sociologia, com especialização em Criminologia, tem um MBA e é coacher desde 2016. Iniciou a sua carreira em 2002 como Senior Consultant e passou por algumas empresas da área de Recursos Humanos. Em 2008 começou a sua carreira de liderança. Internacionalizou a sua carreira profissional, em 2017, no Grupo Adecco em Espanha como responsável pela marca Spring Professional,... Ler Mais..

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