Opinião
“Peçam-me o impossível”
Se um médico me disser por alguma razão que vai fazer o possível pela minha saúde, não são com certeza boas notícias. Por outro lado, se contratar um engenheiro para construir a minha casa e ele disser que vai fazer o possível para que a casa não caia, provavelmente vou procurar outro técnico que me dê mais garantias.
Claramente estas abordagens não me trazem confiança. Podia andar aqui a procurar outros exemplos de alguém que faz apenas o possível e ficaria sempre com o sabor amargo de que é pouco para as minhas expetativas. Fazer o possível é ficar pela base e pelo elementar. Procurar o impossível é próprio dos grandes líderes. Esta verdade muito simples pode e deve ser aplicada tanto à gestão como à política. É este princípio que leva grandes treinadores ou grandes jogadores a serem contratados por milhões. É este princípio que nos devia guiar na escolha dos nossos políticos e gestores.
A procura da excelência nas organizações baseia-se neste princípio muito simples: aquilo que é banal e comum não diferencia e se não diferencia não gera crescimento e resultado. Não basta ser um pouco melhor que a concorrência nem sequer fazer tudo bem. Há que ser excelente no produto, no serviço, na organização, na dinâmica, mas sobretudo ser excelente na relação. E a relação é algo biunívoco, ou seja, funciona para os dois lados. Não é “injetar” o cliente com uma dose de simpatia, amabilidade, ou seja o que for. É sobretudo entender o cliente, compreender as suas necessidades e os seus interesses. É, em primeiro lugar, ouvi-lo e saber -percebê-lo. A ideia de que quem sabe do negócio somos nós, é velha e antiquada. Quem sabe do negócio é o cliente que compra porque a necessidade que estamos a satisfazer é a dele e não a nossa.
Ser excelente é preciso em tudo: na vida familiar, empresarial ou social. É o toque de Midas que faz mudar as vidas e as organizações. Vivemos nas nossas organizações de uma falta de ambição generalizada, conformando-nos facilmente com o que é apenas o possível. É o crescimento possível, o resultado possível e a gestão possível. O governo não ajuda, a economia não ajuda, a concorrência não ajuda, as guerras e as pandemias não ajudam e, no fim de tudo, nós também não ajudamos. Que bom seria encontrar gestores, empresários e políticas que nos falassem do sonho, de uma visão do mundo e das empresas carregada de otimismo. Podemos viver num mundo melhor se nos preocuparmos com fazer o impossível. E não pensem que escrevo isto apenas porque estamos em período de Natal, mas se calhar podemos aprender com ele. Quem alinha?
Pedro Alvito é, desde 2017, professor na AESE, onde leciona na área de Política de Empresa, tendo dado aulas também na ASM – Angola School of Management.
Autor de duas dezenas de case-studies publicados pela AESE e de dois livros publicados pela Editora Almedina – “Manual de como construir o futuro nas empresas familiares” e “Um mundo à nossa espera, manual de globalização” – também escreve regularmente no Diário de Notícias. Desde 2023 é presidente do Conselho de Família e da Assembleia Familiar do grupo Portugália.








