Atomico lança relatório sobre o estado da tecnologia europeia

A empresa de capital de risco revela que até ao fim de 2024 as tecnológicas portuguesas estão no bom caminho para angariar cerca de 92 milhões de euros.

A 10.ª edição do relatório Estado da Tecnologia Europeia (State of European Tech – SoET), da Atomico, apresenta indicadores relevantes sobre cenário tecnológico europeu e o potencial de futuro, considerando os atuais desafios do setor. Com o objetivo de compreender o que está a acontecer no setor da tecnologia na Europa, o SoET reúne dados quantitativos de 41 países europeus através de um inquérito feito a milhares de fundadores, operadores e investidores.

Desde que a Atomico lançou o primeiro relatório, em 2015, as empresas de tecnologia na Europa angariaram cerca de 400 mil milhões de euros, dez vezes mais do que obtiveram na década anterior, ou seja, de 2005 a 2014. Este ano, a Atomico prevê que as companhias europeias consigam quase 42 mil milhões de euros em investimentos – em conformidade com os quase 44 mil milhões de euros conseguidos em 2023.

Entre as inúmeras conclusões, o relatório aponta para que as tecnológicas portuguesas estejam no bom caminho para angariar cerca de 92 milhões de euros até ao final deste ano, à semelhanças das empresas na Grécia. Por sua vez, estima-se que as companhias espanholas podem obter cerca de 1,3 mil milhões de euros, igualando os números de 2023, enquanto as italianas podem arrecadar cerca de 800 milhões de euros, em comparação com os quase mil milhões de euros registado no ano passado.

Mas a análise feita pela Atomico é mais vasta nas suas conclusões. Assim, constata, por exemplo, que os alicerces para as start-ups em fase inicial são fortes e, em alguns aspetos, estão à frente dos Estados Unidos. Em 2024, Londres subiu para o segundo lugar a nível mundial da lista dos dez principais centros de financiamento angariados para start-ups em fase inicial com Berlim e Paris a juntarem-se a ela entre as dez primeiras. Por outro lado, a Europa tem mais fundadores de start-ups do que os EUA, algo que se tem vindo a repetir todos os anos na última década. Atualmente, existem 35 mil start-ups tecnológicas na Europa – mais do que em qualquer outra região do mundo.

Por outro lado, o ecossistema deve colmatar um défice crítico de financiamento presente na fase de crescimento. Atualmente, existem na Europa oito vezes mais empresas em fase de crescimento do que há dez anos, apesar de as condições de concorrência serem desiguais. E apesar da Europa e dos EUA começarem em pé de igualdade, com o mesmo número de empresas constituídas, as start-ups dos EUA têm duas vezes mais probabilidades de angariar rondas superiores a cerca de 14 milhões de euros do que as concorrentes europeias. Além disso, uma em cada duas empresas europeias de grande dimensão recorreu a um investidor americano para obter financiamento. Uma ação que cria um afastamento da Europa, o que pode levar a uma fuga de talentos, de conhecimentos e de recursos económicos.

O relatório destaca ainda outros pontos fortes do panorama tecnológico europeu:

– O talento é atraído pela tecnologia. Atualmente, há sete vezes mais pessoas a trabalhar em empresas de tecnologia financiadas na Europa do que em 2015; as reservas de talentos nos EUA e na Europa estão a crescer ao mesmo ritmo. O setor tecnológico europeu emprega atualmente 3,5 milhões de pessoas, o mesmo número que os EUA em 2020; mais de 2,5 milhões destes postos de trabalho foram criados desde 2015, o que significa que o mercado de talentos tecnológicos da Europa registou um aumento de 24% da Taxa de Crescimento Anual Composta (CAGR) – a par dos EUA. Neste contexto, o Sul da Europa registou um aumento significativo da sua força de trabalho tecnológica – entre 2015 e 2024, o número de trabalhadores do setor tecnológico em Portugal passou de 5.200 para 20.700, em Espanha o aumento foi de 14.000 para 175.000 e em Itália de 26.000 para 167.000.

– A tecnologia europeia continua a centrar-se na resolução de problemas mais complexos, por exemplo as questões climáticas estão a captar a atenção dos fundadores, do capital e do talento. Nos últimos dez anos, a gestão do carbono foi o tema que registou um maior aumento na sua quota de financiamento na fase de arranque. Subiu 39 lugares no ranking da Atomico desde 2015; 1 em cada 5 dólares (21%) investidos na Europa destina-se a construir um futuro mais sustentável – o dobro do rácio dos EUA, que se situa nos 11%.

– A Europa está bem posicionada para aproveitar as oportunidades no domínio da deeptech, mas o dinheiro e a mentalidade têm de a acompanhar. Este ano, a deeptech (incluindo a IA) captou 33% dos níveis de financiamento total da Europa; nos últimos dez anos, as empresas europeias de deeptech angariaram mais de 87 mil milhões de euros, face aos 114 mil milhões de euros na Ásia e mais de 270 mil milhões de euros nos EUA; a reserva de talentos de inteligência artificial (IA) da Europa é um dos seus grandes trunfos. Com a explosão da adoção da IA, o número de funções relacionadas com a mesma na Europa aumentou seis vezes – com 30 000 funções de IA ativas só em Espanha.

O relatório prevê que, na próxima década, a tecnologia europeia poderá ter um valor de ecossistema de mais de 7 mil milhões de euros e uma reserva de talentos de grande qualidade, que ronda os 20 milhões de empregados.

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