Opinião

Marketing Artificial: uma realidade

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

Num curto espaço de tempo ouvimos falar de inteligência artificial (IA) e sobretudo do Chat GPT, com uma intensidade e frequência tal, que já nos parece um tema comum e banal.

Não querendo, podendo ou devendo fugir à regra, partilho algumas reflexões sobre o impacto que a IA já produz ou virá a produzir no curto prazo, na dimensão empresarial e, em especial, na função marketing.

Será a IA que nos próximos anos nos irá conduzir e orientar ao conhecimento, à interpretação e, muito provavelmente, à interação com os outros no que à informação diz respeito. Apesar de alguns utilizadores considerarem os benéficos da IA pouco úteis ou que terão ficado pouco impressionados com os seus méritos, a verdade é que a versão agora anunciada (Chat GPT 4) dá um salto qualitativo muito significativo face à versão anterior.

Não esqueçamos uma das principais funções básicas do marketing: otimizar a experiência do cliente sem atritos. Ora, é precisamente neste sentido que caminha a IA: no diálogo constante, real, com resposta just in time por parte das empresas e das suas marcas, orientadas no sentido de customizar, não só a oferta como a própria comunicação. Todo o treino comportamental e argumentativo das formações em vendas, será operacionalizado rápida e habilmente pela IA, com a particular diferença desta memorizar todo o histórico do cliente e aperfeiçoar, a cada dia, a forma de comunicar e o persuadir, adaptando-se ao seu estado emocional e aos fatores chaves de compra.

É mesmo por aqui que se deslaça o futuro da comunicação empresarial. O Chat GPT 4 já interpreta mapas e tabelas, descodifica e resolve fórmulas, resume um PDF, analisa uma folha de Excel, transforma uma proposta draft de um site numa solução em HTML, etc…

Todavia, o seu grande mérito é o de entender cada vez melhor quem é o seu interlocutor. É caso para dizer que o marketing one-to-one, que Don Peppers abordou pela primeira vez em 1994, tem por esta altura o seu verdadeiro início.

Sabe-se agora que o Chat GPT 4 obedece a instruções específicas dadas pelos seus utilizadores, permitindo recolher informação totalmente personalizada. Vejamos alguns impactos na atividade de marketing:

  • No desenho de um logo, mediante instruções sobre atributos da marca;
  • Na redação de um plano de marketing, pedindo-lhe que se assuma como marketeer;
  • Na conceção de uma campanha de comunicação, uma vez identificado o produto, o público-alvo e as palavras-chave que queremos divulgar;
  • Na escolha dos canais de comunicação mais adequados para otimizar o grau de eficácia da mensagem para aquele público-alvo;
  • Na redação de campanhas de e-mail marketing, com diferentes sugestões, consoante o objetivo das mesmas;
  • Na otimização de uma página HTML para SEO;
  • Na sugestão de um plano de meios e do mix de marketing mais apropriado para o atingimento de objetivos.

Não é difícil perceber que as campanhas de marketing de amanhã recorrerão com frequência à IA, como já acontece, por exemplo, com a Coca-Cola. Será na ligação direta do cliente à marca que tudo se passará.

Também iremos assistir a uma customização da mensagem, que se adapta a uma linguagem similar à da personagem que queremos criar ou ao potencial recetor (pedimos à plataforma que utilize uma linguagem técnica, ou indicada para uma criança, com tom comercial, espiritual, amoroso, etc…). No limite, à linguagem de nós próprios, se nos habituarmos a dar instruções constantes ao algoritmo sobre a forma como escrevemos (ou falamos). Será o mesmo bot que nos passará a dar os parabéns no dia de aniversário.

Todos aqueles que têm um olhar mais tecnológico sobre este tema referem algo de muito interessante: é que ao darmos instruções ao Chat GPT 4, de alguma forma estamos todos a programar. Em vez de recorrermos a linguagem Java, C++, PHP, etc…, ele interpreta a direção dos inputs que vai recebendo como ordens específicas de orientação da resposta. Isso é programação, recorrendo à linguagem humana.

Assim sendo, a IA terá tendência para que se prescinda das funções totalmente especialistas e rotineiras, como por exemplo a criação de conteúdos, análise de informação, estudos de mercado ou gestão de campanhas online.

Quer isto dizer que a função marketing exigirá, cada vez mais, uma visão generalista do negócio (técnicas, analítica, estratégica e operacional), pois só estes acrescentarão valor. Sobre o que fazer, como decidir, como corrigir e quem envolver.

Fazendo um paralelo com a escrita, no limite, todos poderemos escreveremos livros de forma automática. Mas nem todos serão igualmente bem escritos ou entusiasmantes. Tal como hoje, caberá ao leitor selecionar e distinguir os melhores.

Livro recomendado: Inteligência Artificial 2041, Chen Qiufan e Kai-Fu Lee

Comentários
Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

Artigos Relacionados