6 hábitos pandémicos de trabalho que não devemos perder no “novo normal”

Algumas das formas como lidamos com a pandemia tornaram melhor o local de trabalho, defendem líderes de vários setores que foram questionados pela Fast Company. Conheça os hábitos que apontam para mantermos no regresso à “normalidade”.
A pandemia mudou o modo como trabalhamos de forma profunda e abrangente, tornando muitas pessoas em trabalhadores remotos e com o desafio de combinar a vida doméstica com a vida profissional. Outros continuaram a apresentar-se no local de trabalho, enfrentando uma miríade de preocupações – da segurança a novas exigências e formas de trabalhar.
A Fast Company perguntou a líderes de diferentes áreas de atividade o que deveríamos manter no regresso efetivo ao local de trabalho. Eis algumas sugestões.
1. Proteger o seu valor e o bem-estar
“Atravessar os tempos de pandemia tem sido como passar pela “recruta da vida”, diz a oradora e apresentadora de podcasts Luvvie Ajayi Jones, autora de “Professional Troublemaker: The Fear-Fighter Manual”. Forçados a diminuir o ritmo, muitos perceberam o quão estavam exaustos com o ritmo frenético de trabalho. Esta circunstância também cristalizou aquilo de que as pessoas precisam para se sentirem apoiadas e valorizadas.
“As pessoas começaram a pedir mais no local de trabalho, seja mais dinheiro, uma mudança de cargo ou apenas defendendo-se a si mesmas, tomando medidas para lutar contra os medos que as impediam de conseguir o que queriam no passado”, salienta Luvvie Ajayi Jones. “Agora, espero que saibamos que precisamos encontrar tempo para relaxar, e não só quando estamos doentes – ou a evitar uma pandemia global”, acrescenta. Algo para deixar para trás? “Apertos de mão. Provavelmente, somos mais saudáveis sem eles”, afirma.
2. Mostrar vulnerabilidade
Quando está a meio de uma videoconferência importante e o seu gato salta para as costas da cadeira ou há caos doméstico com crianças no fundo, é difícil não se sentir vulnerável. Mas, segundo Carole Robin, professora de Dinâmica Interpessoal, na Universidade de Stanford, e coautora de “Connect: Building Exceptional Relationships With Family, Friends and Colleagues“, essa vulnerabilidade pode levar à conexão. Explica que quando se abre para outra pessoa, constroem-se relacionamentos mais fortes.
Carole Robin diz também que, para algumas pessoas, a natureza estruturada da videoconferência tornou mais difícil cultivar relacionamentos próximos como acontecem no escritório, mas a professora espera que a situação possa melhorar em locais de trabalho híbridos. Assim, sugere, da próxima vez que as crianças estiverem a gritar ao fundo ou o gato saltar para o campo de visão da webcam use a oportunidade para se ligar aos outros. “Diga ‘Oh, eu também tenho um gato. O meu tem sido uma fonte de grande conforto para mim”, por exemplo.
Esta profissional refere ainda que a resiliência que tantos demonstraram durante a pandemia é algo que não deve ser esquecido. “Devemos apegar-nos a esse conhecimento e deixá-lo guiar-nos sobre como fazer escolhas mais corajosas para sair da nossa zona de conforto e estabelecer relacionamentos mais profundos e ricos. Para construirmos uma vida mais significativa”.
3. Mais transparência e honestidade
A palavra “sem precedentes” tornou-se cliché ao descrever a pandemia. “Como havia tantas mudanças a ocorrer rapidamente, os executivos eram mais transparentes, consistentes e detalhados nas comunicações com os funcionários do que no passado”, observa Angelina Darrisaw, fundadora e CEO da C-Suite Coach, uma empresa de coaching executivo.
Os empregadores precisam de seguir práticas de comunicação aberta à medida que os funcionários regressam ao escritório, uma fase que será, certamente, marcada por um período de rápidas mudanças, portanto “as práticas de comunicação estabelecidas para ajudar a “navegar” durante a crise devem persistir para que se desenvolvam melhores relações com os funcionários”, refere.
À medida que mais pessoas trabalham remotamente, a transparência e a honestidade serão ainda mais importantes para liderar. “A pandemia mostrou que muitas funções não exigem presença no escritório e alguns funcionários preferem a sua flexibilidade, desde que sejam mantidos limites de tempo saudáveis. Se os empregadores desejam permanecer competitivos e continuar a atrair talentos de alta qualidade, honrar o bem-estar dos funcionários será indispensável”, afirma a CEO. Os empregadores que ignorarem essas necessidades correm o risco de perder o talento contratado, conclui.
4. Confiar na capacidade
Independentemente da área de trabalho ou do setor, provavelmente em 2020 teve algum problema complexo ou questão para resolver, supõe a especialista em liderança Ash Beckham, autora de “Step Up: How to Live With Courage and Become an Everyday Leader”. Como colaborará a sua equipa em casa? Como irá mudar o seu modelo de negócios para permanecer viável e lucrativo? Como liderar uma equipa de pessoas que trabalham nas salas e nos quartos das suas casas? Estas foram provavelmente algumas das questões presentes na sua vida.
“Não nos costumamos colocar em situações nas quais temos de resolver problemas na hora, mas na verdade, não tivemos escolha durante a pandemia”, lembra diz Ash Beckham. Sugere, por isso, que não se perca essa capacidade de resolver problemas e tornar o local de trabalho melhor. “Eu esperava que as pessoas se chegassem à frente e realmente construíssem o seu papel a partir de uma situação em que se encontraram acidentalmente”, refere a especialista.
5. Abraçar a tecnologia
A adoção de tecnologia foi acelerada para facilitar o trabalho remoto, o distanciamento social e os requisitos de segurança. As plataformas de colaboração lançaram novas funcionalidades, serviços e ferramentas. O trabalho remoto tornou-se mais contínuo e eficaz, e essa abertura para a mudança digital – bem como para as oportunidades que desencadeia – é algo que devemos levar por diante, defende Kevin Cornish, CEO da agência de inovação Moth & Flame. Destaca a tendência da fusão dos mundos digital e virtual”, mas questiona-se como podemos fazer com que o ambiente virtual se pareça mais com o ambiente físico, no qual, como pessoas, preferimos estar, para promover a conexão.
As equipas de Kevin reúnem-se regularmente em ambientes de realidade virtual para que os funcionários remotos sintam que estão juntos num espaço físico. A tecnologia também é útil para ações de formação e colaboração. E quanto mais usarmos a tecnologia para suavizar os pontos fracos do trabalho remoto, mais fácil é expandir os limites geográficos dos processos de contratação, o que leva a maiores reservas de mão-de-obra, mais talento e mais oportunidades para atingir metas de diversidade, equidade e inclusão.
Segundo este CEO “a presença focada num ambiente de trabalho partilhado é um dos maiores desafios que enfrentamos e é interessante ver como as empresas se têm envolvido e animado com a realidade virtual, que resolve a escalabilidade do software e o envolvimento de se estar pessoalmente”.
6. Prioridade aos humanos
A gravidade da pandemia e os riscos associados mudaram as perspetivas de muitos líderes no sentido de se tornarem mais centrados no ser humano, diz Christie Smith, diretora-gerente sénior, líder global na gestão de talentos e organização de potencial humano da Accenture. “Acho que tem havido uma associação íntima com a humanidade e, na verdade, com a vida e a morte. Continuamos a lutar contra isso ”, observa.
Christie Smith salienta que para continuarem a operar, as organizações precisavam de mudar o foco para as necessidades dos funcionários. O relatório “Net Better Off ” de setembro de 2020, da Accenture, concluiu que quando as organizações atendem a seis necessidades humanas fundamentais – emocionais e mentais, relacionais, físicas, financeiras, senso de propósito e empregabilidade – os funcionários tendem a prosperar.
Ao apoiar as equipas durante a pandemia, os CEO modernos tiveram uma noção mais prática de como é fundamental atender a essas necessidades. “Mentalmente, esses líderes possuem agora uma agenda humana, não apenas dentro das suas organizações, mas dentro do seu grupo de clientes nas comunidades onde vivem e trabalham. Acho que foi uma mudança dramática e positiva ”, conclui Christie Smith.