Entrevista/ 5 questões a José Ruivo, CEO Noocity
A Noocity trouxe o conceito de hortas para a cidade, aproximando pessoas e natureza. José Ruivo, CEO do projeto, explica como é que a inovação entra nesta equação e que ideia ainda gostava de implementar.
“Considero fundamental que os líderes sejam movidos por um sentido de propósito que vá além do lucro e das métricas definidas”, defende José Ruivo, CEO da Noocity, start-up instalada no Porto desde 2017 e que promove o conceito de eco-transição ao criar comunidades em torno de hortas em espaços públicos ou privados, que se podem aplicar desde empresas a escolas, condomínios ou hotéis. Com a sua experiência como fundador e gestor, José Ruivo partilha a sua visão do que entende por liderança e da forma como as start-ups se devem preparar para atrair investimento.
O que é para si inovação?
Inovação é criar algo novo e útil, que melhora a forma como fazemos as coisas. Pode ser um produto, um processo ou uma ideia. A Noocity traz inovação para as cidades ao criar hortas urbanas auto suficientes que permitem que as pessoas se conectem com a natureza e com os seus vizinhos. O sistema de cultivo desenvolvido por nós torna a agricultura urbana mais acessível, eficiente e sustentável, promovendo uma maior consciência ambiental e fortalecendo os laços comunitários.
“As principais competências de um líder devem ser a empatia e um sentido de propósito bem definido”.
Qual a competência fundamental para exercer a liderança nos dias de hoje?
As principais competências de um líder devem ser a empatia e um sentido de propósito bem definido. A empatia envolve a capacidade de compreensão e conexão com as emoções e necessidades dos outros e, num contexto de liderança, isto significa ouvir verdadeiramente os membros da equipa, compreender as suas perspetivas e reconhecer os seus sentimentos.
Quando os líderes demonstram empatia, conseguem construir relações de confiança, o que permite que os colaboradores se sintam ouvidos e valorizados, o que, por sua vez, leva a um aumento da satisfação no trabalho, da produtividade e também à criação de um ambiente de trabalho positivo.
A empatia também desempenha um papel fundamental na resolução de conflitos e na abordagem eficaz das necessidades individuais. Além disso, considero fundamental que os líderes sejam movidos por um sentido de propósito que vá além do lucro e das métricas definidas. Uma liderança orientada por um propósito mais amplo ajuda a criar um sentimento de realização e pertença em toda a organização. Também confere significado e direção ao trabalho, motivando e energizando as equipas para alcançar objetivos comuns. Quando combinadas, estas competências formam um estilo de liderança que não apenas impulsiona o sucesso, mas também melhora o bem-estar geral e a satisfação dos membros da equipa, contribuindo para um ambiente de trabalho positivo e com um propósito claro.
Uma ideia que gostava de implementar?
Gostaria de implementar na Noocity um modelo de gestão mais próximo da Holacracy. Temos vindo a trabalhar no sentido de estabelecer um sistema de gestão organizacional com menos hierarquia, baseado numa estrutura mais flexível e em funções e responsabilidades mais claras. O objetivo é permitir que as decisões sejam tomadas de forma descentralizada por equipas e pessoas com maior autonomia. A Holacracy promove a agilidade, transparência e responsabilidade individual, trazendo benefícios como inovação e adaptabilidade. No entanto, é importante destacar que essa abordagem requer uma mudança cultural significativa e o compromisso de toda a equipa para com essa transição. Processo esse que tenho vindo a implementar por etapas e com alguma cautela.
“Os investidores querem ver se a start-up tem um forte sentido de direção e uma razão convincente para existir”.
Que argumentos não devem faltar numa start-up para atrair investimento?
Uma missão e propósito bem definidos. Ter uma missão e um propósito claros e bem definidos é crucial. Os investidores querem ver se a start-up tem um forte sentido de direção e uma razão convincente para existir. Além disso, estão interessados em start-ups que abordem uma oportunidade de mercado real e significativa. É essencial fornecer dados e análises que demonstrem o tamanho e o potencial de crescimento do mercado-alvo. Isso inclui mostrar um profundo entendimento das necessidades do cliente, dos pontos fracos e do cenário competitivo.
Destacar uma proposta de valor única ou uma abordagem disruptiva pode aumentar ainda mais a atratividade da oportunidade. E, por último, mas não menos importante, uma equipa altamente motivada e com as habilidades necessárias. As equipas costumam ser um fator crítico para os investidores. Assim, cada membro da equipa deve trazer habilidades e conhecimentos complementares relevantes para o negócio.
“Não ser criterioso nas contratações pode ser fatal para um projeto”.
Erros que as start-ups nunca devem cometer?
Embora selecionar apenas alguns erros que as start-ups não devem cometer seja uma tarefa difícil, menciono alguns dos quais reconheço como mais significativos:
Criar um produto sem uma compreensão clara das necessidades do seu público-alvo é uma armadilha comum. Uma start-up deve começar sempre por investigar, compreender e validar completamente as necessidades e preferências do seu público-alvo antes de desenvolver um produto. O cliente deve estar sempre no centro de qualquer desenvolvimento de produto ou serviço, e, por isso, nunca devemos negligenciar o feedback do mesmo.
Falta de foco: Tentar fazer muitas coisas ao mesmo tempo pode levar à falta de concentração. As start-ups devem priorizar a sua oferta principal e evitar dispersar-se demasiado. Concentrar-se em resolver um problema excecionalmente bem antes de expandir para outras áreas.
Não complicar demasiado: É fundamental, na fase inicial, fazer um esforço para manter o produto simples e não tentar cobrir todas as funcionalidades e variantes. Tentar construir um produto que faça tudo desde o início, além de poder ser excessivamente complexo, pode atrasar o lançamento do produto para obter validação no mercado. A simplicidade geralmente resulta numa melhor experiência do utilizador.
Ignorar ou subestimar a concorrência pode ser um erro caro. Estudar e compreender os concorrentes pode ajudar a identificar oportunidades e ameaças.
Não ser criterioso nas contratações pode ser fatal para um projeto. Construir uma equipa forte, capaz e alinhada é crucial. As decisões de contratação devem basear-se não apenas nas competências, mas também na adequação cultural e nos valores partilhados. Uma equipa desalinhada pode prejudicar o progresso e criar conflitos internos.
Falta de humildade e a incapacidade de aprender com os fracassos: Erros e falhas são inevitáveis no mundo das start-ups. Contudo, não aprender com estas experiências é um erro grave.Estes são, na minha opinião, alguns dos erros que as start-ups devem evitar, pois podem aumentar as suas hipóteses de enfrentar os desafios do mundo dos negócios e alcançar o sucesso a longo prazo.