Opinião

5 conselhos para arranjar trabalho a partir dos 50´s

José Crespo de Carvalho, presidente do ISCTE Executive Education

Muitos ex-alunos (e não só) me procuram para insights, dicas, opiniões. Cada vez mais, esses ex-alunos têm idades próximas da minha ou são mais velhos que eu. Quando se começa cedo nesta profissão de professor há uma altura em que há muita gente mais velha que nós próprios. Mais tarde estamos na média.

Finalmente, estamos acima da média sem que venha mal ao mundo por isso. E nessa altura, ou nesta – no meu caso – as conversas telefónicas ou por whatsapp são várias para procurar encontrar e trabalhar o melhor potencial dos meus ex-alunos para o que quiserem.

Dizem-se velhos para o mercado de trabalho. Amargurados. Digo-lhes sempre o mesmo: pelo facto de te doer o joelho direito, a cervical ou teres uma tendinite crónica não significa que estejas incapaz. Reconheces o teu corpo e as tuas limitações e isso é até produtivo. É interessante. E deve ser motivo de riso e não de permanente consternação. Onde centro as ajudas (qualquer dia torno-me coach, não desses de cartilha certificada que nada sabem sobre a vida, antes executive coach onde o que posso oferecer é tão-só a minha experiência a todos os milhares de casos que vou apanhando pela frente!). Ficam 5 conselhos para um posicionamento perante o mercado de trabalho:

1. O currículo

Saber fazer um currículo é uma arte. 2 páginas, aspeto atrativo, vertentes pessoais e profissionais, hobbies e desportos, atividades que gostas de fazer e desenvolver, componentes de responsabilidade social, hábitos que consideras interessantes (sem ser fazer zapping durante horas infindáveis à frente da televisão) e sobretudo o ou os objetivos que gostarias de alcançar com aquele currículo.

Não te ponhas a dizer que és enérgico, colaborativo, team worker e quejandos desse tipo. Isso somos todos no currículo. Um bocadinho da tua verdade na prática, um quadradinho de “show me, don’t tell me”: “janto 1 vez por mês com amigos de liceu, tenho 1 grupo de whatsapp de faculdade onde debatemos este e aquele assunto, fazemos corridas de carrinhos em pistas Scalextric, jogo king e Bridge n vezes por ano, oiço jazz sozinho, canto no chuveiro, num ano procuro ver o maior número de pores do sol ou contemplo as estrelas e gosto de o fazer com outras pessoas, debatendo o que vejo. Jogo Subbuteo com um grupo de amigos e não dispenso um gin ao fim da tarde a ver o mar – sempre acompanhado de uma boa conversa sobre política internacional.

2. Os não motivos

Não arranjes desculpas sobre o porquê de não estares a trabalhar. Divergências de caminho, pontos de vista diferentes sobre um negócio, decisões que tomaste ou tomaram por ti deves deixar para quem te entrevista ou com quem falas. Que te façam as questões. Há um provérbio popular árabe de que gosto muito e que diz o seguinte: “Não te justifiques. Os teus amigos não precisam; os teus inimigos não acreditam”. Portanto, evita as desculpas, as histórias, as justificações. Remata as coisas de forma seca, mas airosa, e passa imediatamente ao objetivo que te leva a fazeres o currículo ou a quereres ter uma conversa com alguém para voltares a trabalhar. Não inventes o não inventável. Sê tu mesmo, direto, frontal, o mais transparente e claro possível. Evita também todo e qualquer resquício de autocomiseração. Mostra-te genuíno e coloca cada pedaço de vida que tens, pela positiva, no que dizes, explicas, fazes.

3. O exercício físico

Se não praticares nada pois diz isso mesmo. Não tens de dizer que vais ao ginásio porque achas que todos vão ao ginásio. Basta dizeres e escreveres que gostas de caminhar ou, mesmo, que caminhas mesmo sem gostar porque precisas de te exercitar. E se continuas a fazer desportos que sejam aparentemente menos interessantes para o comum dos mortais di-lo: faço uns peões com um Mini antigo ou um Ford Escort com uns amigos num terreno de areal no local x.
Encontro-me com amigos para corrermos em grupo e nos acompanharmos. Ando sempre com um saco com uns calções, um fato de banho, uns ténis, uma toalha e uma t-shirt na mala do carro para uma qualquer ocasião. Nem que seja porque passei num dia de inverno com um sol fantástico, vi gente na praia e resolvi ir dar um mergulho que me soube pela vida.

4. O ser datado

Procura deixar de ser datado. Arranja um ou outro adereço contemporâneo. Descontrai e não apareças sempre com aquele ar engravatado que te dá um ar de mofo, com cheiro a naftalina. Arranja uns óculos de sol de uma cor diferente do convencional. Se gostas de blusões pretos, usa blusões pretos. Se gostas de um blusão de cabedal não tenhas medo de o usar. Completa sempre o arranjo com algo que seja teu, próprio, e de que gostes. Não precisas pintar o cabelo ou fazer transplantes para pareceres mais novo artificialmente. Nem tão pouco colocar botox ou o que seja. E não precisas aparecer de salto alto só porque vais a uma entrevista. Melhor seres tu que um sucedâneo plástico de ti mesmo(a). Aprende a gostar de ti e coloca nesse eu um ou outro adereço de contemporaneidade.

5. A continuidade da aprendizagem

Nunca deixes de aprender. Faz um curso. Ou vários. São investimentos e não custos. Procura saber o que são as várias tecnologias que se usam hoje. Mantém a curiosidade intelectual sobre os mercados financeiros e sobre para onde vamos. Forma a tua própria opinião sobre os assuntos, da gestão ao empreendedorismo e inovação e não sigas, apenas por seguir, aquilo que é de outros. Interessa-te por vinhos e arte, se for o caso. Mas acima de tudo, e estruturando interesses, não deixes por exemplo de voltar à universidade. De te dares e criares amizade com pessoas bem mais novas que tu. De os ouvires e sentires o que têm para te o oferecer.
Pede feedback, aproveita a rede, não corras para o teu pedestal. Trabalha a humildade e a empatia. Não digas que sabes sempre tudo quando estás numa sala de aula. Não sejas sempre o primeiro a falar. Procura olhar para as coisas com olhos diferentes e como se fosse a primeira vez. Enriquece-te pelo que estás a ouvir e complementa o teu ponto de vista. Faz mais questões e usa menos afirmações. E sobretudo aproveita ao máximo o bom que é estares do outro lado da sala, em frente ao quadro (ou ao ecrã) e a olhar e absorver tudo.

No final, mostra a tua alegria de viver. Deixa a tristeza de lado. E procura o lado positivo das coisas e não apenas os problemas. Ri-te. Ri-te muito. E ri-te mais que tudo de ti próprio. Ri-te porque vais conseguir mesmo trabalhar.

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