Web Summit: a avaliação do mercado

Mais de uma semana depois de terminar a Web Summit falámos com alguns profissionais da área para saber o seu feedback sobre a “maior conferência de tecnologia do mundo”.

Depois do ruído à volta da Web Summit ter acalmado e da poeira já ter assentado, pedimos a opinião a profissionais do tecido empresarial português sobre o evento: o que os surpreendeu, pela positiva e pela negativa, e os aspectos a melhorar em 2018.

Em relação aos aspetos positivos da cimeira tecnológica, o networking foi um ponto bastante forte, como destaca Madalena Clara, acceleration manager da Fábrica de Startups. De acordo com esta profissional, esta componente da conferência “foi muito proveitosa tanto para nós como no feedback que tivemos das nossas start-ups”.

A opinião da Beta-i vai no mesmo sentido. Hugo Vaz de Oliveira, head of media and partnerships, revelou que, para além da qualidade dos oradores e das palestras terem sido superiores ao ano anterior, “o valor a retirar das várias interações ao longo do evento também foi maior, tanto como espectador, ou a nível particular, nos chamados 1×1”. Para Hugo Vaz Oliveira foi também “muito interessante perceber que esta comunidade de techies e nerds também está preparada, mais do que para fazer avançar a tecnologia a todo o custo, para a questionar”.

Ainda na área de networking, a Startup Braga optou por não ter um stand de forma a conseguir apostar nos contactos diretos com as start-ups e o talento. A incubadora e aceleradora nortenha organizou ainda eventos paralelos à cimeira tecnológica. Como conta a sua communications manager, Mariana Machado, “fizemos vários meetups e jantares que tiveram imensa adesão e foram verdadeiros sucessos. O facto de termos optado por nos focarmos em temas altamente discutidos hoje em dia, como é o caso do blockchain, cryptocurrencies [moedas virtuais] e health tech, fez com que a capacidade dos locais tivesse que ser aumentada e tivessem lotação esgotada”. Com este evento, a Startup Braga conseguiu ainda aumentar a sua rede de mentores e especialistas.

Noutra abordagem, a diretora de marca e comunicação da holding tecnológica SIBS, Maria Antónia Saldanha, referiu que o Web Summit foi “uma oportunidade para mostrar aos visitantes nacionais e internacionais como a empresa está cada vez mais habilitada a ladear os operadores europeus e internacionais pelo seu nível de eficiência e capacidade de inovação”. Fazendo uma avaliação “extremamente positiva” do evento, a responsável pela comunicação da empresa admitiu que a realização deste tipo de acontecimentos em Portugal é muito importante. “Portugal é realmente um caso de sucesso em inovação tecnológica e no lançamento de soluções de vanguarda”, frisou.

O investidor e CEO da Bravegeneration Tim Vieira – que ainda recentemente escreveu um artigo de opinião no Link to Leaders sobre o Web Summit – teve a oportunidade de experimentar “o efeito de networking” que o Web Summit traz para os eventos noturnos, como jantares, encontros e cocktails de final de dia. “É aqui que muitos relacionamentos de longo prazo são iniciados ou cimentados. E estes são essenciais para garantir ligações fortes, com vista ao crescimento e expansão dos nossos negócios, em todo o mundo. Os portugueses são excelentes anfitriões e comunicadores, pelo que temos de usar estes talentos para nos ligarmos ao mundo, através de pessoas que podem ajudar a fazer a diferença”, explicou.

Miguel Fontes, diretor da Startup Lisboa, referiu o considerável aumento de participantes como algo positivo e, tal como o head of media da Beta-i, frisou o facto da cimeira “se ter consolidado também como um evento de reflexão sobre os impactos sociais e políticos da tecnologia, nas suas variadas vertentes”. Destacou, inclusivamente, a discussão crítica em torno da Inteligência Artificial como um dos aspetos positivos da edição deste ano.

No campo do que pode ser melhorado para a edição de 2018,  a Fábrica de Startups deixa algumas dicas: “Seria interessante ter um mapa visual de ocupação dos vários pavilhões e palcos para otimizar o tempo no evento”, sugere Madalena Clara.

Por sua vez, Hugo Vaz de Oliveira, da Beta-i, salientou que falta “trabalhar e investir ainda na relação do Web Summit com a cidade de Lisboa, enquanto um todo. “Ouvindo as várias críticas, e lendo os vários articulistas que se opõem ferozmente a este tipo de evento, fica a impressão de que a grande maioria, na verdade, não percebeu o conceito, ou do que se trata”, afirma o  head of media da Beta-i. Reforça a sua posição explicando que a Web Summit não é “uma montra de tecnologia e de gadgets, mas antes uma plataforma de networking e investimento, de ligação a redes internacionais de difícil acesso, de identificação de tendências”. Nesta perspetiva, Hugo Vaz Oliveira ficou descontente com a mensagem que alguns órgãos de comunicação passaram sobre o evento, especialmente alguns “fóruns repletos de pessoas inteligentes e normalmente bem informadas, como o ‘Eixo do Mal’ ou o ‘Governo Sombra’, que discutiram o Web Summit sem discutir no essencial aquilo que ele de facto representa, focando-se em questões paralelas ou menores, e, de certa forma, aderindo à moda do ‘sou contra porque todos são a favor’”. Este profissional ficou com a certeza de que ainda há muito trabalho a fazer.

Já o diretor da Startup Lisboa considera que as melhorias para 2018 podem passar por “encontrar novas formas de promover um contacto mais efetivo entre o mundo das start-ups e o dos investidores”, “dar mais atenção à competição de pitch que decorre durante o evento” e, “em suma, dar mais palco e visibilidade às start-ups presentes no evento, com uma maior intensidade competitiva e, consequentemente, mediática”.

Tim Vieira apontou como um aspeto menos positivo o facto de ter sido dada tanta atenção à Inteligência Artificial durante toda a conferência, admitindo que acredita “que este será um grande tema e uma oportunidade atual e futura, mas ao mesmo tempo há oportunidades de disrupção em muitas outras áreas”.

Do ponto de vista da Startup Braga, o desafio que Mariana Machado coloca à Web Summit é o de filtrar o ruído que o evento envolve, admitindo que “no meio de tantas conferências, start-ups, oportunidades e talento, torna-se difícil distinguir aqueles que são realmente relevantes para nós e que possam acrescentar alguma mais-valia à nossa comunidade de start-ups”.

Também Maria Antónia Saldanha, da SIBS, deixa o apelo à Web Summit: “aquele que se denomina como o maior evento tecnológico a nível mundial, deverá contribuir eficazmente para a promoção da digitalização da economia, através da disponibilização de meios de pagamento eletrónicos no local para que os participantes possam efetuar as suas compras [como em refeições] com cartão bancário”.

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