Opinião

Os Vistos Gold

Rajan Sahay, chairman do Obrana Group

Todos os trimestres viajo para 3-4 países no Médio Oriente. O meu agente marca encontros com clientes das 10 da manhã até às 8 da noite ao longo de dois dias, após o que viajamos durante a noite para o próximo país e repetimos o processo.

Tenho um negócio imobiliário, mas o que vendo são soluções para pessoas que estão assustadas com o seu futuro, numa região prestes a explodir em violência. A principal solução é o Visto Gold (ARI – Autorização de Residência para Atividade de Investimento), que permite a estrangeiros obter um “green-card” SHENGEN, assim como o direito a viver e trabalhar em Portugal durante os 6 anos até que reúnam condições para pedir a nacionalidade.

Muitos dos requerentes são empresários de sucesso que já têm vistos de 3 a 5 anos para a Europa, mas o seu verdadeiro objetivo é poderem, eventualmente, obter cidadania europeia; seria a forma de assegurarem a segurança para si e para os seus filhos / futuras gerações, caso alguma guerra ou perseguição religiosa torne os seus países de origem inabitáveis. Muitos chamam a este processo uma “apólice de seguros” ou “plano B”.  Se o ARI não fosse mais do que um visto a longo prazo, o investimento em imobiliário atual seria 90% inferior.

O ARI tem sido um excelente programa, lançado pelo anterior governo (PSD), mas continuado com grande visão pelo novo governo PS, que não só continuou o programa, mas também reparou o dano a ele causado pelos escândalos de 2014. O investimento até agora está perto dos 3 biliões de euros em imobiliário, tendo salvado várias construtoras em Portugal e contribuído para os impostos cobrados pelo governo português (IMT/IS/IMI) e para as economias locais, através dos gastos dos novos residentes. Todos ganham.

Não há muitas construtoras que viajem para visitar potenciais clientes nos seus próprios países. Hoje em dia já há muitos intermediários no mercado português com as suas redes de contactos próprias, o que leva as construtoras a preferir pagar uma comissão para obter clientes – porque não, se vendem as casas a clientes estrangeiros com maior lucro (uma casa vendida com Visto Gold é, normalmente, mais cara 25% do que se for vendida a um comprador nacional)? Contudo, quando viajas e conheces as pessoas no seu habitat próprio, sentes, como empresário, o peso das expectativas, dos sonhos e da responsabilidade para conseguires que o processo funcione. Não deves considerar a venda apenas como uma transação, mas como o início de um relacionamento. Esta é a razão pela qual vou mais longe no imobiliário que promovo – acho que é crítico compreender a missão que temos perante os nossos clientes e nada lhes esconder, especialmente quando surgem eventuais problemas e atrasos, às vezes inevitáveis em Portugal.

Espero que o governo avance com a sua promessa de atribuir cidadania a quem concluir um Visto Gold e que não haja uma reviravolta no enredo, como frequentemente acontece neste país – um “imprevisto” ou “mal-entendido”. Quem se candidata a estes programas foi altamente escrutinado – não tem registo criminal, não tem ligações ao terrorismo ou atividades ilícitas. Estas pessoas têm rendimentos mais do que suficientes para pagar entre 400 a 600 mil euros e não se tornarem num peso para o estado. Menciono isto, porque, na minha última visita, alguns clientes disseram que estavam preocupados, devido aos seus conselheiros legais os terem informado de que a cidadania é um “nim”. Que obter cidadania não está garantido, como lhes foi originalmente prometido, e que, para além das condições originais, os interessados teriam de provar que têm “laços culturais” com Portugal – o que quer que isso signifique.

Portugal aceitou menos de 1.000 refugiados, mas mais de 10.000 candidatos a Vistos Gold (famílias incluídas). A diferença é que o nosso país recebeu um benefício económico enorme com estes migrantes abastados. Não faz sentido para o país destruir a sua credibilidade, ao não atribuir passaportes em 2018/2019 (quando os primeiros detentores de Visto Gold ficarem legalmente elegíveis); no entanto, qualquer pessoa que viva em Portugal sabe que os políticos e os burocratas nem sempre agem com lógica e, frequentemente, recuam nas suas promessas (por ex. atrasos no Estatuto de Não Residente (NHR), criação e posterior destruição financeira de notários privados, de farmácias, enormes aumentos dos impostos sobre a propriedade, privatização seguida de nacionalização, mudanças nas leis do arrendamento… só para citar uma pequena parte).

Tenho esperança de que, no caso dos ARI (Vistos Gold), as promessas sejam cumpridas.

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Rajan Sahay

Rajan Sahay

Rajan Sahay na Costa Leste da Índia. Ainda novo, mudou-se para o Reino Unido, onde frequentou um colégio interno. Seguiu-se a Universidade de Oxford, onde se licenciou em dois cursos. Em termos profissionais, Rajan começou como consultor de gestão na área de fusões e aquisições. Mais tarde, rumou a Boston onde fez consultadoria de Marketing empresarial a grandes nomes como a AT&T, a Bell Canada ou a NCR. Em Portugal desde 1995, fundou a Obrana, empresa de construção civil que... Ler Mais..

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