Opinião
Vai de férias? Vá… MESMO!!!

Quando foi a última vez que tirou férias e se manteve conectado? A ver uma vez por dia o email? A verificar, muitas vezes, quase às escondidas da família, o whatsApp ou teams?
Algo do que disse lhe soa familiar? Então é provável que sofra do mesmo que tantos outros líderes. Vão de férias, sem ir realmente. Mantêm-se conectados. Com um pé nas férias e outro no trabalho e nas preocupações que deixaram no escritório. E lá se vão justificando, dizendo de si para si: “Bem, é o possível. É melhor isto que nada. Mesmo assim descanso. A empresa e a minha equipa precisam mesmo de mim. Não há ninguém que me possa substituir”.
E vão achando que é o melhor para a empresa, para a equipa e para si.
Pois bem. Não é! De facto, é o pior para si, para a sua equipa e para a empresa. Por várias razões.
Vamos começar pelo princípio. E pela razão pela qual provavelmente sente que não pode desligar. Será que está perante a síndrome da indispensabilidade? Acha que sem a sua liderança e iluminação diárias algo de terrível irá acontecer? A verdade é que salvo honrosas exceções, em que os negócios estão em plena crise ou momentos críticos, como por exemplo, no caso de fusões e aquisições, em que talvez o melhor seja mesmo adiar as suas férias, nos restantes casos não é assim. O negócio continua a desenrolar-se e a decorrer com normalidade. E, se fizer bem o trabalho e capacitar as equipas e pessoas para saberem o que fazer, como tomar decisões e quais os limites para o fazer, os benefícios de ir mesmo de férias são muitos e variados.
Vamos aos benefícios. Para si. Para a sua equipa. Para a empresa.
Para si.
Os líderes sofrem de stress crónico e continuado. Vem com a função. Com o poder e a responsabilidade. Por força das muitas decisões diárias que têm de tomar e das situações cada vez mais complexas em que o fazem. A capacidade de manter a calma, o foco, de ler o ambiente e as implicações das decisões é essencial. Isso não se compadece de líderes cansados, que não agem, mas reagem, acabando por tomar muitas vezes más decisões.
Por isso, ir de férias é essencial para quem quer ser melhor líder e gestor.
Períodos de descanso em que fazem coisas novas, ou mesmo em que não fazem nada, aumentam a criatividade, clareza, energia e otimismo essenciais para os desafios da gestão. Depois há os benefícios para si próprio e que vão além do trabalho. Na saúde mental, na felicidade e alegria de estar com a família e amigos.
Vamos aos benefícios para a sua equipa.
Em primeiro lugar, o seu crescimento. Não estar presente vai forçar a equipa a crescer. A tomar decisões, a lidar e liderar imprevistos, a gerir possíveis conflitos e prioridades. Por outro lado, a sua relação e confiança, na e com a equipa vai sair reforçada.
Em segundo lugar, o seu exemplo vai premiar toda a organização com os benefícios que daí advêm. Quando o(a) líder vai realmente de férias está a enviar uma mensagem muito clara à organização. Está a dizer que espera que façam o mesmo.
Isso traz ganhos para a empresa. Em saúde mental, criatividade, agilidade, confiança, respeito, organização e planeamento, com reflexo direto no crescimento das equipas e do negócio. Crescimento em responsabilidade para quem fica, com o ganho de novas competências e “músculos” que desenvolvem ao realizar novas tarefas. Crescimento na capacidade de priorizar e organizar devido ao maior volume de trabalho. Crescimento no conhecimento global do negócio, dos processos e dinâmicas que durante o ano muitos nem veem. Respeito pelo trabalho de colegas cuja visibilidade ficou mais evidente. Tudo isto se traduz necessariamente numa melhoria de planeamento e organização de recursos, pessoas, processos e tomadas de decisão cujos benefícios se estendem muito além das férias.
No entanto, nada disto acontece por acaso ou magia. Há que preparar o ir mesmo de férias.
Deixo algumas dicas:
- Diga à sua equipa que vai de férias e faça-o com antecedência. No mínimo um mês para poder prepará-la.
- Faça a sua lista com os itens críticos que têm de ficar feitos. Nessa lista devem estar as tarefas mais complexas, aquelas que colocam em causa o negócio e ainda as que irão atrasar o trabalho das equipas ou projetos.
- Nas reuniões de one on one, peça-lhes que antecipem pedidos de decisão. Decisões que até podiam ser tomadas daí a umas semanas, são antecipadas para não atrasar projetos, processos ou negócio.
- Nomeie quem fica ao leme na sua ausência. Situações que exijam tomadas de decisão podem acontecer e, se calhar, não podem, nem devem esperar pelo seu regresso. Nomeie quem assume a sua posição temporariamente e comunique-o. Escolha uma pessoa da sua absoluta confiança.
- Seja claro em que situações as suas férias podem ser interrompidas, por quem e qual a melhor forma de ser contatado(a). Podem existir crises e situações que exijam decisões que vão além da autonomia dada.
Vá de férias. Mesmo! Por si, pela sua equipa e empresa!