Opinião

Vai de férias? Vá… MESMO!!!

Sandra Silva, diretora-geral da Mary Kay Portugal

Quando foi a última vez que tirou férias e se manteve conectado? A ver uma vez por dia o email? A verificar, muitas vezes, quase às escondidas da família, o whatsApp ou teams?

Algo do que disse lhe soa familiar? Então é provável que sofra do mesmo que tantos outros líderes. Vão de férias, sem ir realmente. Mantêm-se conectados. Com um pé nas férias e outro no trabalho e nas preocupações que deixaram no escritório. E lá se vão justificando, dizendo de si para si: “Bem, é o possível. É melhor isto que nada. Mesmo assim descanso. A empresa e a minha equipa precisam mesmo de mim. Não há ninguém que me possa substituir”.

E vão achando que é o melhor para a empresa, para a equipa e para si.

Pois bem. Não é! De facto, é o pior para si, para a sua equipa e para a empresa. Por várias razões.

Vamos começar pelo princípio. E pela razão pela qual provavelmente sente que não pode desligar. Será que está perante a síndrome da indispensabilidade? Acha que sem a sua liderança e iluminação diárias algo de terrível irá acontecer? A verdade é que salvo honrosas exceções, em que os negócios estão em plena crise ou momentos críticos, como por exemplo, no caso de fusões e aquisições, em que talvez o melhor seja mesmo adiar as suas férias, nos restantes casos não é assim. O negócio continua a desenrolar-se e a decorrer com normalidade. E, se fizer bem o trabalho e capacitar as equipas e pessoas para saberem o que fazer, como tomar decisões e quais os limites para o fazer, os benefícios de ir mesmo de férias são muitos e variados.

Vamos aos benefícios. Para si. Para a sua equipa. Para a empresa.

Para si.

Os líderes sofrem de stress crónico e continuado. Vem com a função. Com o poder e a responsabilidade. Por força das muitas decisões diárias que têm de tomar e das situações cada vez mais complexas em que o fazem. A capacidade de manter a calma, o foco, de ler o ambiente e as implicações das decisões é essencial. Isso não se compadece de líderes cansados, que não agem, mas reagem, acabando por tomar muitas vezes más decisões.

Por isso, ir de férias é essencial para quem quer ser melhor líder e gestor.

Períodos de descanso em que fazem coisas novas, ou mesmo em que não fazem nada, aumentam a criatividade, clareza, energia e otimismo essenciais para os desafios da gestão. Depois há os benefícios para si próprio e que vão além do trabalho. Na saúde mental, na felicidade e alegria de estar com a família e amigos.

Vamos aos benefícios para a sua equipa.

Em primeiro lugar, o seu crescimento. Não estar presente vai forçar a equipa a crescer. A tomar decisões, a lidar e liderar imprevistos, a gerir possíveis conflitos e prioridades. Por outro lado, a sua relação e confiança, na e com a equipa vai sair reforçada.

Em segundo lugar, o seu exemplo vai premiar toda a organização com os benefícios que daí advêm. Quando o(a) líder vai realmente de férias está a enviar uma mensagem muito clara à organização. Está a dizer que espera que façam o mesmo.

Isso traz ganhos para a empresa. Em saúde mental, criatividade, agilidade, confiança, respeito, organização e planeamento, com reflexo direto no crescimento das equipas e do negócio. Crescimento em responsabilidade para quem fica, com o ganho de novas competências e “músculos” que desenvolvem ao realizar novas tarefas. Crescimento na capacidade de priorizar e organizar devido ao maior volume de trabalho. Crescimento no conhecimento global do negócio, dos processos e dinâmicas que durante o ano muitos nem veem. Respeito pelo trabalho de colegas cuja visibilidade ficou mais evidente. Tudo isto se traduz necessariamente numa melhoria de planeamento e organização de recursos, pessoas, processos e tomadas de decisão cujos benefícios se estendem muito além das férias.

No entanto, nada disto acontece por acaso ou magia. Há que preparar o ir mesmo de férias.

Deixo algumas dicas:

  1. Diga à sua equipa que vai de férias e faça-o com antecedência. No mínimo um mês para poder prepará-la.
  2. Faça a sua lista com os itens críticos que têm de ficar feitos. Nessa lista devem estar as tarefas mais complexas, aquelas que colocam em causa o negócio e ainda as que irão atrasar o trabalho das equipas ou projetos.
  3. Nas reuniões de one on one, peça-lhes que antecipem pedidos de decisão. Decisões que até podiam ser tomadas daí a umas semanas, são antecipadas para não atrasar projetos, processos ou negócio.
  4. Nomeie quem fica ao leme na sua ausência. Situações que exijam tomadas de decisão podem acontecer e, se calhar, não podem, nem devem esperar pelo seu regresso. Nomeie quem assume a sua posição temporariamente e comunique-o. Escolha uma pessoa da sua absoluta confiança.
  5. Seja claro em que situações as suas férias podem ser interrompidas, por quem e qual a melhor forma de ser contatado(a). Podem existir crises e situações que exijam decisões que vão além da autonomia dada.

Vá de férias. Mesmo! Por si, pela sua equipa e empresa!

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Sandra Silva

Sandra Silva

Sandra Silva é a diretora-geral da Mary Kay Portugal desde 2009, ano em que entrou para a companhia. Desempenhou um papel importante e fundamental tendo sido responsável pelo turnaround da empresa em Portugal. Liderou a importante renovação da estratégia de negócio implementada em todos os departamentos. Também é membro da Plataforma Portugal Agora. Antes de chegar à Mary Kay a experiência profissional de Sandra Silva centrou-se nas áreas das Vendas e Marketing em multinacionais de grande consumo. Começou na Johnson&Johnson,... Ler Mais..

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