Opinião
Uma “Swift lesson” para a vida profissional

Pouco conheço da Taylor Swift, mas não preciso de conhecer em detalhe ou gostar das músicas para admirar aquilo que ela já conseguiu e acima de tudo a forma como conseguiu. No rescaldo dos concertos em Lisboa, há muito que podemos aprender com este fenómeno para nossa vida empresarial, profissional e pessoal.
Confesso que não fui a nenhum dos concertos que a Taylor Swift deu em Portugal, mas tenho pena. Não necessariamente por gostar ou não gostar da artista, mas porque quem foi – “swiftie” ou não – saiu de lá impressionado, e acima de tudo porque queria conhecer e entender melhor um fenómeno que esgota todos os sítios por onde passa pelo mundo fora, e que tem uma legião de fãs e seguidores – de todas as idades e contextos – provavelmente nunca antes vista.
Será por acaso? Definitivamente que não. E há tanta coisa que podemos (e devemos) aprender com esta rapariga (só tem 34 anos) da Pensilvânia de quem toda a gente gosta e que não só bate recordes ano após ano, mas é também uma empresária de grande sucesso (entrou recentemente na lista de bilionários). Que paralelismos podemos fazer e o que podemos aprender de todo este fenómeno para as empresas e para nós enquanto profissionais?
Começando pelas empresas em si, há desde logo três características que são para mim evidentes:
- Contar histórias – muito mais importante do que publicitar produtos, marcas, eventos de forma massiva, o que realmente diferencia é a capacidade de o fazer através de uma narrativa que faça sentido e que acima de tudo diga alguma coisa aos clientes e às pessoas com quem estamos a tentar comunicar. Cada vez mais a capacidade de transmitir mensagens importantes, consentâneas com a própria identidade, de uma forma eficaz – no fundo de contar histórias – é o que faz com que as pessoas se identifiquem ou não com emissores dessas mensagens. E é aí que muitas empresas (e profissionais) acabam por falhar. A autenticidade e sinceridade com que a Taylor Swift transmite e conta histórias – por vezes mundanas e por isso tão próximas do público – cria uma conexão com os ouvintes de fazer inveja a qualquer marca.
- Centralidade no cliente – “o cliente tem sempre razão”. Não existe negócio se não tiver clientes, sejam eles de que tipo forem. As empresas que tomam as decisões centradas nos clientes e percebem o que eles valorizam, estão sempre mais próximas de serem bem-sucedidas. Essa centralidade não só facilita e promove a aproximação com os públicos-alvo, como faz deles próprios promotores das marcas – à semelhança do que a Taylor Swift faz com os seus públicos – ao estar próxima deles, ao promover e dinamizar a interação entre eles e ao pensar cada pormenor dos espetáculos para que estes sejam mais do que simples concertos (as pistas que ela vai deixando sobre eventos futuros são um ótimo exemplo disso).
- Inovação – a capacidade das empresas inovarem, de anteciparem tendências e de continuamente se reinventarem é fator crítico de sucesso para um crescimento sustentado e continuado ao longo do tempo. Quantos exemplos de empresas não vemos que atingiram o topo, mas que rapidamente caíram porque não souberam ir-se reinventando e inovando (Kodak e Blockbuster são dois exemplos). Não deixa de ser impressionante que um artista, ao fim de tantos anos, continue a reinventar-se na forma (este modelo de concerto “foge à regra”) e no conteúdo (com diferentes “eras” e géneros explorados), mas mantendo (aparentemente) sempre a identidade.
Para as nossas vidas profissionais, e a nível individual, há também alguns excelentes ensinamentos que podemos retirar:
- Autenticidade e princípios – é curioso observar que não deve haver muitas pessoas no mundo que, independentemente de se gostar ou não das músicas, sejam tão consensuais. Talvez porque dá realmente a sensação que a Taylor Swift é aquilo mesmo que vemos, muito confortável na sua pele, sem ir atrás de modas e polémicas, autêntica e fiel aos seus princípios. Nem sempre é fácil, por vezes até muito difícil, mas acredito que na vida profissional (e pessoal), se formos autênticos e fiéis aos nossos princípios, estamos sempre mais próximos de ser bem sucedidos no longo prazo, mesmo que isso muitas vezes possa não ser o caminho mais fácil.
- Humildade e empatia – são para mim duas das características mais importantes num líder (e cada vez mais). O reconhecimento e consciencialização de que todos os dias podemos aprender coisas novas com toda a gente, é o primeiro passo para irmos sendo continuamente e progressivamente melhores no nosso trabalho. Também a empatia é chave para a colaboração, para a gestão de pessoas e para o desenvolvimento de relações profissionais e pessoais. No final do dia, as empresas são feitas de pessoas, cada uma com a sua circunstância, dificuldades, perfil. Por isso os CEOs devem ser muito Chief Empathy Officers. No caso da Taylor Swift, não deixa de impressionar que todos os seus colegas e pessoas com quem se cruza a elogiem tanto por isso mesmo (ao contrário de outras celebridades), e isso também transparece na relação com os fãs.
- Experiências e contínua aprendizagem – são a forma de irmos crescendo, como pessoas e como profissionais. Diferentes experiências profissionais, com diferentes contextos (mesmo que dentro da mesma empresa) completam-nos, permitem-nos distinguir melhor o que gostamos mais e menos, e dão-nos mais ferramentas para enfrentarmos diferentes desafios. Tal como a Taylor Swift foi explorando diferentes géneros e abordagens, também na nossa vida corporativa a pluralidade de experiências traz benefícios, para nós e para as empresas onde trabalhamos.
- Work-life blending – ao contrário da música da Taylor Swift (e genericamente de outros artistas), que acaba por ser uma extensão da sua vida pessoal e das suas emoções, parece-me que às vezes tentamos acreditar que é possível separar em absoluto o trabalho da vida pessoal, como se não fosse a mesma pessoa (com sentimentos, circunstâncias, emoções) que está em ambas as situações. Se não fosse assim nunca teríamos amigos no trabalho nem preocupações profissionais quando desligamos o computador. A solução não é tanto querer separar as realidades “à força” como se fossem água e azeite, mas sim aprender a conjugá-las, balanceá-las, misturá-las da forma que for mais confortável para cada um. No final do dia, não deixam de ser duas faces da mesma moeda.
- Sucesso = talento + trabalho – mais do que talento, que é condição necessária mas não suficiente, é o trabalho árduo que nos permite atingir o que nos propusermos. Tenho a profunda convicção que quem se esforça e trabalha é eventualmente recompensado, mais cedo ou mais tarde – um pouco à semelhança dessa rapariga da Pensilvânia que aos 11 ou 12 anos foi para Nashville para perseguir o seu sonho. Talentosa, sem dúvida, mas isso também muitos outros o são. É preciso muito trabalho.
“Swiftie”? Não diria tanto, mas que ela representa uma “swift lesson” de como fazer bem as coisas? Sem dúvida.