Opinião

Uma “Swift lesson” para a vida profissional

Tomás Loureiro, Head of Innovation Intel na EDP

Pouco conheço da Taylor Swift, mas não preciso de conhecer em detalhe ou gostar das músicas para admirar aquilo que ela já conseguiu e acima de tudo a forma como conseguiu. No rescaldo dos concertos em Lisboa, há muito que podemos aprender com este fenómeno para nossa vida empresarial, profissional e pessoal.

Confesso que não fui a nenhum dos concertos que a Taylor Swift deu em Portugal, mas tenho pena. Não necessariamente por gostar ou não gostar da artista, mas porque quem foi – “swiftie” ou não – saiu de lá impressionado, e acima de tudo porque queria conhecer e entender melhor um fenómeno que esgota todos os sítios por onde passa pelo mundo fora, e que tem uma legião de fãs e seguidores – de todas as idades e contextos – provavelmente nunca antes vista.

Será por acaso? Definitivamente que não. E há tanta coisa que podemos (e devemos) aprender com esta rapariga (só tem 34 anos) da Pensilvânia de quem toda a gente gosta e que não só bate recordes ano após ano, mas é também uma empresária de grande sucesso (entrou recentemente na lista de bilionários). Que paralelismos podemos fazer e o que podemos aprender de todo este fenómeno para as empresas e para nós enquanto profissionais?

Começando pelas empresas em si, há desde logo três características que são para mim evidentes:

  • Contar histórias – muito mais importante do que publicitar produtos, marcas, eventos de forma massiva, o que realmente diferencia é a capacidade de o fazer através de uma narrativa que faça sentido e que acima de tudo diga alguma coisa aos clientes e às pessoas com quem estamos a tentar comunicar. Cada vez mais a capacidade de transmitir mensagens importantes, consentâneas com a própria identidade, de uma forma eficaz – no fundo de contar histórias – é o que faz com que as pessoas se identifiquem ou não com emissores dessas mensagens. E é aí que muitas empresas (e profissionais) acabam por falhar. A autenticidade e sinceridade com que a Taylor Swift transmite e conta histórias – por vezes mundanas e por isso tão próximas do público – cria uma conexão com os ouvintes de fazer inveja a qualquer marca.
  • Centralidade no cliente – “o cliente tem sempre razão”. Não existe negócio se não tiver clientes, sejam eles de que tipo forem. As empresas que tomam as decisões centradas nos clientes e percebem o que eles valorizam, estão sempre mais próximas de serem bem-sucedidas. Essa centralidade não só facilita e promove a aproximação com os públicos-alvo, como faz deles próprios promotores das marcas – à semelhança do que a Taylor Swift faz com os seus públicos – ao estar próxima deles, ao promover e dinamizar a interação entre eles e ao pensar cada pormenor dos espetáculos para que estes sejam mais do que simples concertos (as pistas que ela vai deixando sobre eventos futuros são um ótimo exemplo disso).
  • Inovação – a capacidade das empresas inovarem, de anteciparem tendências e de continuamente se reinventarem é fator crítico de sucesso para um crescimento sustentado e continuado ao longo do tempo. Quantos exemplos de empresas não vemos que atingiram o topo, mas que rapidamente caíram porque não souberam ir-se reinventando e inovando (Kodak e Blockbuster são dois exemplos). Não deixa de ser impressionante que um artista, ao fim de tantos anos, continue a reinventar-se na forma (este modelo de concerto “foge à regra”) e no conteúdo (com diferentes “eras” e géneros explorados), mas mantendo (aparentemente) sempre a identidade.

Para as nossas vidas profissionais, e a nível individual, há também alguns excelentes ensinamentos que podemos retirar:

  • Autenticidade e princípios – é curioso observar que não deve haver muitas pessoas no mundo que, independentemente de se gostar ou não das músicas, sejam tão consensuais. Talvez porque dá realmente a sensação que a Taylor Swift é aquilo mesmo que vemos, muito confortável na sua pele, sem ir atrás de modas e polémicas, autêntica e fiel aos seus princípios. Nem sempre é fácil, por vezes até muito difícil, mas acredito que na vida profissional (e pessoal), se formos autênticos e fiéis aos nossos princípios, estamos sempre mais próximos de ser bem sucedidos no longo prazo, mesmo que isso muitas vezes possa não ser o caminho mais fácil.
  • Humildade e empatia – são para mim duas das características mais importantes num líder (e cada vez mais). O reconhecimento e consciencialização de que todos os dias podemos aprender coisas novas com toda a gente, é o primeiro passo para irmos sendo continuamente e progressivamente melhores no nosso trabalho. Também a empatia é chave para a colaboração, para a gestão de pessoas e para o desenvolvimento de relações profissionais e pessoais. No final do dia, as empresas são feitas de pessoas, cada uma com a sua circunstância, dificuldades, perfil. Por isso os CEOs devem ser muito Chief Empathy Officers. No caso da Taylor Swift, não deixa de impressionar que todos os seus colegas e pessoas com quem se cruza a elogiem tanto por isso mesmo (ao contrário de outras celebridades), e isso também transparece na relação com os fãs.
  • Experiências e contínua aprendizagem – são a forma de irmos crescendo, como pessoas e como profissionais. Diferentes experiências profissionais, com diferentes contextos (mesmo que dentro da mesma empresa) completam-nos, permitem-nos distinguir melhor o que gostamos mais e menos, e dão-nos mais ferramentas para enfrentarmos diferentes desafios. Tal como a Taylor Swift foi explorando diferentes géneros e abordagens, também na nossa vida corporativa a pluralidade de experiências traz benefícios, para nós e para as empresas onde trabalhamos.
  • Work-life blending – ao contrário da música da Taylor Swift (e genericamente de outros artistas), que acaba por ser uma extensão da sua vida pessoal e das suas emoções, parece-me que às vezes tentamos acreditar que é possível separar em absoluto o trabalho da vida pessoal, como se não fosse a mesma pessoa (com sentimentos, circunstâncias, emoções) que está em ambas as situações. Se não fosse assim nunca teríamos amigos no trabalho nem preocupações profissionais quando desligamos o computador. A solução não é tanto querer separar as realidades “à força” como se fossem água e azeite, mas sim aprender a conjugá-las, balanceá-las, misturá-las da forma que for mais confortável para cada um. No final do dia, não deixam de ser duas faces da mesma moeda.
  • Sucesso = talento + trabalho – mais do que talento, que é condição necessária mas não suficiente, é o trabalho árduo que nos permite atingir o que nos propusermos. Tenho a profunda convicção que quem se esforça e trabalha é eventualmente recompensado, mais cedo ou mais tarde – um pouco à semelhança dessa rapariga da Pensilvânia que aos 11 ou 12 anos foi para Nashville para perseguir o seu sonho. Talentosa, sem dúvida, mas isso também muitos outros o são. É preciso muito trabalho.

“Swiftie”? Não diria tanto, mas que ela representa uma “swift lesson” de como fazer bem as coisas? Sem dúvida.

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