Entrevista/ “Temos um mercado fantástico para fazer experiências piloto e replicá-las no exterior”
O CEO da lop consulting lançou, no ano passado, a Associação Portuguesa de Gadgets e Tecnologia para promover a investigação e inovação. Ao Link To Leaders Vitor Rosa falou dos objetivos desta associação e do que podemos esperar em termos de inovação da Lop consulting.
Para promover a investigação e a inovação na área dos gadgets e tecnologia, Vitor Rosa, CEO da lop consulting, criou, em 2016, a Associação Portuguesa de Gadgets e Tecnologia (APGT), uma organização sem fins lucrativos que pretende potenciar a melhoria dos produtos e serviços tecnológicos nacionais, de forma a facilitar o seu desenvolvimento e entrada nos mercados externos.
As empresas portuguesas, incluindo as start-ups que pela sua pequena dimensão não têm delegações exteriores, ganham agora a possibilidade de suprir essa falta, podendo inserir-se em mercados de difícil acesso através do apoio desta associação, garante o responsável. A criação da APGT foi feita através de uma cooperação direta com o Estado Português e a União Europeia.
O que o levou a criar a APGT e quais os objetivos?
Na nossa atividade corrente (enquanto LOP), quer a nível nacional quer a nível internacional, recebíamos vários pedidos de “colaboração” para a internacionalização de determinadas marcas/produtos. Em alguns casos, o mercado é tão competitivo e as margens acabam por ser “esmagadas” de tal forma que não podíamos fazer parte da cadeia de valor. No entanto, nunca hipotecámos os negócios, colaborávamos na pesquisa do potencial cliente, íamos à reunião, juntávamos as partes e, no final, não fazíamos parte do negócio. Risos…. e assim surgiu a APGT, se é para não faturarmos, vamos fazê-lo de forma oficial.
Acreditamos que os gadgets e a tecnologia fazem parte do futuro e, por vezes, são pequenos equipamentos que podem melhorar exponencialmente a vida de um utilizador ou aumentar a produtividade de uma empresa. Também acreditamos que os produtos portugueses, com base de inovação em Portugal, têm um potencial enorme, mas pouco explorado, devido à baixa visibilidade que temos no mercado mundial. O aparecimento da APGT também veio no seguimento de uma das várias conversas informais que tivemos durante a apresentação de um produto completamente inovador e português. E a pergunta colocou-se: “Como é que isto não é visto lá fora?!”. O objetivo principal da APGT é levar os produtos, as marcas e empresas portuguesas de gadgets/tecnologia para o mundo.
Num mercado pequeno como o português há tração para o setor dos gadgets e tecnologia no país?
Sim, claro. É um mercado com enorme potencial por duas razões: 1) os portugueses gostam muito de gadgets e de produtos tecnológicos, e estão disponíveis para gastar parte do seu orçamento mensal em tecnologia e inovação; 2) é um mercado fantástico para fazer experiências piloto e posteriormente replicar no mercado exterior, e aí sim, ter escala, conseguir trabalhar com quantidades maiores, reduzindo o custo de produção.
Quais os desafios com que se deparam neste momento?
A concorrência global, quer na produção quer nas vendas. A capacidade de produção da China, quer em termos de preço quer em termos de quantidade, é enorme. Há ainda outro aspeto importante que é a capacidade de venda online. É fácil e comum qualquer site fazer chegar um produto sem qualidade e sem qualquer informação e/ou requisitos (por exemplo, simples instruções na língua) dos países de chegada, incluindo requisitos legais. Tudo isto tem custos, e produzir e vender corretamente significa alocar este custo ao PVP do produto, sendo por isso difícil ter preços competitivos. Contudo, pensamos que o caminho deverá ser outro, isto é, não tendo como competir com o preço, devemos apostar na diferenciação, inovando e demonstrando que vale a pena optar por gadgets/tecnologia desenvolvida em Portugal.
A fraca visibilidade de Portugal no exterior é também uma das dificuldades com que nos deparamos. Temos vindo a melhorar – o que é ótimo! – mas efetivamente ainda não estamos como queremos. Esse aspeto deve também ser analisado, tentando vender mais e melhor, apostando na qualidade dos produtos portugueses e na sua diferenciação.
O que prevê em termos de evolução do mercado do setor em Portugal para o futuro próximo?
Quando trabalhamos com gadgets/tecnologia temos sempre a sensação que o futuro já passou, vamos ter de ser mais rápidos e ágeis que outros países, mais criativos. O melhor exemplo que posso dar neste momento é o da iki Mobile com quem trabalhamos diariamente. Até ao final do primeiro semestre, a iki Mobile terá uma unidade fabril em Coruche, onde vamos produzir os primeiros smartphones em terras lusas. Já são muito poucos os componentes que vamos importar e alguns deles não os vamos querer importar, porque o nível de poluição na produção é demasiado elevado.
Em paralelo, já estamos a desenvolver outros produtos inovadores na área do Mobile que brevemente serão comunicados. Em todos os produtos que desenvolvemos há sempre uma preocupação enorme em utilizarmos matérias-primas portuguesas, como a cortiça, e com processos produtivos com baixas ou nenhumas emissões de CO2. Num futuro próximo, a tecnologia é para todos!
E em termos de exportação e internacionalização?
Vamos crescer. Partimos de uma base pequena, mas pretendemos estar em todo o lado (cinco continentes). Neste momento, estamos a analisar valores de mercado para definir metas concretas e percentagens de crescimento já para 2018. Com a projeção da APGT nos mercados internacionais, não só é possível ampliar a reputação das marcas e produtos portugueses, como também maximizar a procura e o volume de vendas das mesmas. Isto porque, atuando no mercado mundial, as marcas usufruem de novas sinergias, conseguindo entrar em parcerias e em canais de distribuição internacionais. Acreditamos que ao potenciar este tipo de relações, as oportunidades vão surgindo, só temos de as concretizar.
Quais serão as grandes tendências do setor?
Os wearables e connectables. Acredito que daqui a 2 anos teremos a nossa casa totalmente ligada ao nosso smartphone, a SmartHouse. Atualmente temos a smartv e o smartwatch, e já vão surgindo muitas soluções para a iluminação e electrodomésticos. Está para breve o controlo total da nossa casa através do nosso smartphone ou tablet. Quando falamos em gadgets/tecnologias, esta é a grande tendência hoje. Amanhã, tudo poderá ser diferente!
Como é que a APGT apoia ou pretende apoiar as start-ups do setor?
Divulgando e criando uma rede de suporte que permita constituir bases de conhecimento e intercâmbio sobre os gadgets e tecnologia. Pretendemos apoiar e incentivar atividades de investigação e desenvolvimento que contribuam para um melhor e a mais aprofundado conhecimento sobre o setor, de forma a criar oportunidades de negócio para as start-ups na área.
De que forma é que a APGT pretende ajudar as empresas portuguesas a estarem presentes nos fóruns, convenções e feiras internacionais do setor?
Estamos a reunir apoios dos organismos estatais, nomeadamente na preparação de projetos para o QREN e Compete, para posteriormente e em conjunto promover as nossas ações. Paralelamente, encontrar investidores interessados em apostar no mercado tecnológico português, criando assim condições, económicas e de logística, para os nossos associados marcarem presença em fóruns e feiras internacionais de tecnologia.
O que falta hoje no setor da tecnologia em Portugal?
Falta Marca, falta Marketing. Temos que começar a contar a nossa história! Felizmente, a tecnologia portuguesa já está em todo o mundo, com fantásticos produtos ou componentes nas melhores marcas internacionais. No entanto, falta divulgação do que já fazemos e do que conseguimos fazer, para ganhar reconhecimento e notoriedade, tanto a nível nacional, como internacionalmente. Um dos vários exemplos é o Wonder Cover, um produto 100% português (desenvolvimento e produção), que quando apresentado em Portugal é imediatamente entendido como sendo estrangeiro, dada a qualidade do seu conceito, conceção e packaging. Sem deixarmos de ser humildes (precisamos de nos dar a conhecer ao mundo).
É também CEO da Lop, cujo mercado internacional representa 30% do volume de negócios, com presença em vários países europeus e africanos. Qual a estratégia para este ano?
Com o lançamento da loja online em 2016, o nosso objetivo principal é fazer esta plataforma crescer, com algumas novidades totalmente diferenciadoras no mercado do ecommerce. A Lop tem agora como foco adicional uma vertente de B2C concretizada na nossa loja online, a Lop store. 2017 é também um ano estratégico para lançamento de projetos, nomeadamente uma solução para encriptação de dados/comunicações, que visa a entrada no mercado mundial com uma solução única, e lançamento de produtos, a destacar os dois computadores da marca Lop (um deles andará no nosso bolso). Entre outras surpresas em fase de preparação…
Por esse motivo, é pertinente reinventar o que a Lop representa, desde o fator surpresa, a emoção, o simplificar e o querer chegar a todo o mundo. A nova identidade da empresa transmite justamente isso – mudança e inovação. Isto porque estamos continuamente a projetar para simplificar a vida de todos. Trabalhamos com emoção!
Que novos produtos e serviços vão lançar este ano?
Temos atualmente dois computadores em pipeline, um deles é a nova versão do Lop Lisboa, modelo já lançado em 2016, o outro… bem o outro é algo diferenciador no mercado dos PC’s. Podemos levantar o véu e dizer que pode ir consigo a todo o lado, sem precisar de mochila de transporte (risos) ou até uma simples sleeve. Ainda este ano, vamos estar também na iluminação sem que seja necessária corrente elétrica. Novidades repletas de inovação e soluções sustentáveis!
Como vê o empreendedorismo e a ação do Estado na área tecnológica em Portugal?
De extrema importância. Os incentivos através de ações, prémios, campanhas e tudo mais são muito importantes para que as start-ups possam ter algo para competir e ganhar algum tipo de projeção. O facto de haver benefícios com a participação em concursos, ou até mesmo a vitória dos mesmos, funciona como catalisador da visibilidade dessas empresas, e, por acréscimo, do desenvolvimento das mesmas. O WebSummit em Lisboa foi um marco importantíssimo para o investimento do estado numa área que é, efetivamente, o futuro.
Que conselhos partilha com as start-ups que nascem hoje em Portugal na área da tecnologia?
Pior que nunca ter conseguido, é nunca ter tentado. Arrisquem. Inovem. Sem complicações. O vosso produto, conceito ou ideia tem de trazer um valor acrescentado ao consumidor/utilizador, seja pela inovação ou simplesmente pelo preço. Nunca descurando todo o processo de criação e desenvolvimento, no final o que conta é o lucro. E só com rentabilidade é que o produto e a empresa perduram no tempo.
Respostas rápidas:
O maior risco: Começar a trabalhar por conta própria.
O maior erro: Criar expectativas elevadas que tornam a minha realidade difícil.
A melhor ideia: O conceito da marca Lop. TECH FOR ALL.
A maior lição: Ensinamento de 9 anos a gerir produtos Apple, “What you can measure you can manage”.
A maior conquista: Sempre que consigo exceder as expectativa do cliente!